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Estado de Minas TESTEMUNHOS DA SAUDADE

Jornais colombianos começam a se despedir de Gabriel García Márquez

Embaixador da Colômbia no México informou que corpo de Gabo foi cremado em cerimônia íntima. Especialistas em literatura falam do primeiro encontro com a obra do romancista


postado em 19/04/2014 06:00 / atualizado em 19/04/2014 08:47

Gonzalo García (C), durante o anúncio à imprensa da cremação do corpo de García Márquez, em cerimônia privada, no México (foto: Alfredo Estrella/AFP)
Gonzalo García (C), durante o anúncio à imprensa da cremação do corpo de García Márquez, em cerimônia privada, no México (foto: Alfredo Estrella/AFP)

O corpo do escritor Gabriel García Márquez, morto na quinta-feira, aos 87 anos, foi cremado em cerimônia íntima da família na funerária onde ocorreu o velório, no Bairro de Pedregal, no Sul da Cidade do México, informou ontem o embaixador da Colômbia no México, José Gabriel Ortiz.

O diplomata revelou ainda que a família de Gabo pretende distribuir as cinzas entre o México e a Colômbia. A viúva, Mercedes Barcha, e os filhos Rodrigo e Gonzalo, entretanto, não se pronunciaram sobre o destino das cinzas.

Na noite de quinta-feira, alguns escritores mexicanos como Héctor Aguilar Camín, Ángeles Mastretta e Xavier Velasco, assim como amigos e parentes, foram recebidos pelos familiares do escritor. 

O México prepara uma homenagem ao romancista para segunda-feira no emblemático Palácio de Belas Artes. Ao mesmo tempo, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, ofereceu à família de García Márquez todo o apoio necessário, caso desejem uma homenagem no país, que decretou três dias de luto nacional pela morte “do maior colombiano de todos os tempos”.

Na Colômbia, a despedida começou na madrugada de ontem, com edições especiais dos principais jornais e bandeiras a meio mastro. “Imortal", foi a manchete do jornal El Espectador, em cujas páginas Gabriel García Márquez publicou textos que deram origem ao livro Relato de um náufrago. Rompendo com a tradição de descanso para a imprensa na sexta-feira santa, os principais jornais do país prepararam edições especiais para celebrar a vida do colombiano. “Gabo, imortal!” foi a manchete do jornal El Tiempo.

Bogotá, que García Márquez descreveu como uma cidade sombria, despertou deserta, enquanto na cidade natal do escritor, Aracataca, uma romaria popular espontânea ocupou as ruas desde as primeiras horas da manhã. No empoeirado município do departamento de Magdalena, que inspirou o Nobel para a criação do universo literário de Macondo, vários cantores populares entoaram canções alusivas aos textos de Cem anos de solidão.

Caminhos da leitura

Escritora e professora de literatura da Faculdade de Letras da UFMG, Maria Ester Maciel recomenda que, como ocorreu com ela em plena adolescência, as pessoas entrem em contato com a obra de Gabriel García Marques por meio do clássico Cem anos de solidão. “Para mim foi um grande impacto. Daí nasceu a minha paixão por ele”, recorda Maria Ester que, a partir de então, diz ter passado a acompanhar a criação do escritor colombiano.

“Mas não li tudo e também nunca escrevi nada sobre ele. Acho que foi para preservar minha paixão por ele”, avalia, emocionada, a professora. Para ela, Cem anos de solidão tem um verdadeiro efeito encantatório, despertando no leitor o interesse por outros livros do autor. “Recomendo para quem está iniciando na obra dele”, reforça, destacando que García Márquez foi um exímio contador de histórias.

“É muito raro encontrar um escritor que alicia pela narrativa como ele”, garante Maria Ester, lembrando que o romancista exerceu grande influência na literatura latino-americana e europeia. “Ele é um latino que também se transformou em referência para autores de outras nacionalidades e continentes”. Nesse sentido, ela lembra que o cineasta britânico Peter Greenaway, diretor de O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante, elegeu García Márquez como um de seus escritores de cabeceira. “Gabo teve esta entrada no fluxo universal”, considera Maria Ester, lembrando que o realismo fantástico é uma das grandes contribuições da literatura da América Latina para o mundo. “Ele criou um estilo próprio que acabou universal.”

Canônico
Recém-eleita diretora da Faculdade de Letras da UFMG, a argentina Graciela Ravetti, radicada em Minas há 22 anos, diz que a escrita de Gabriel García Márquez “é de extrema qualidade e faz a passagem – tão complicada – entre o grande boom comercial e o forte componente humano, que faz com que todos entrem em sua obra”.
“Na verdade, o que ele faz é reciclar o falar das comunidades em que viveu, sejam elas no México, Cuba ou Colômbia”, afirma Graciela Ravetti. A professora salienta o fato de a obra do autor colombiano poder ser lida de diferentes perspectivas. Ela só lamenta o fato de García Márquez despertar no leitor-escritor um desejo de copiar. “Ele tem muitos seguidores e, para mim, isto é insuportável. Não dá para ler”, protesta.

Ela revela que a popularidade do autor de O amor nos tempos do cólera na Argentina é muito parecida com a que ele tem no Brasil, tanto na academia quanto entre os leitores comuns. No semestre passado, ela chegou a incluir Cem anos de solidão no programa do curso de letras da UFMG, justificando a escolha pelo fato de ser a maior obra do escritor colombiano. “É uma descoberta”, sintetiza.

Para o romancista e crítico Silviano Santiago, admirador da obra Gabo, todo grande escritor, quando se torna canônico, já não permite caminho por onde se começar na leitura da sua obra, já que todos os caminhos são bons e válidos. “No meu caso, por exemplo, lá pelos idos dos anos de 1960, iniciei-me na sua obra lendo Ninguém escreve ao coronel. Com o tempo, fui descobrindo a magia de seus outros livros. Acho que todos os caminhos levam a Gabriel García Márquez, que é um dos grandes escritores da América Latina”, completa Silviano.


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