O pânico se apoderou nesta segunda-feira dos mercados russos diante da possibilidade de uma intervenção militar na Ucrânia, que pode espantar os investidores estrangeiros, cruciais para reativar a fragilizada economia da Rússia.
A bolsa de Moscou, que chegou a cair mais de 13% na sessão, fechou com queda muito forte: os dois índices do mercado financeiro moscovita, o Micex e o RTS, fecharam respectivamente com quedas de 10,79% e 12,01%.
Ao mesmo tempo, o rublo batia níveis recorde de fragilidade frente ao euro e ao dólar, o que levou o Banco Central a realizar uma inesperada alta de sua principal taxa de juros para restabelecer a "estabilidade financeira".
"O risco é crescente" afirma Chris Weafer, economista da Macro Advisory. "Era inevitável uma reação que afete o rublo, o mercado da dívida e as ações".
No mercado de divisas, o euro superou pela primeira vez a barreira simbólica de 50 rublos, a 51,2. O dólar alcançou 37 rublos, batendo pela primeira vez um recorde que datava da crise de 2009.
Isso pode gerar um choque para uma população já afetada por várias desvalorizações desde o fim da URSS, que teme uma disparada dos preços dos bens importados.
A crise ucraniana, que começou em novembro, já tinha empurrado o rublo para baixo. Uma quebra da Ucrânia - ex-república da URSS - teria graves efeitos para a Rússia, especialmente para os bancos públicos russos, que poderiam sofrer sérias perdas.
Contudo, a situação adquiriu este fim de semana uma nova dimensão com a ameaça de intervenção militar russa e, consequentemente, as sanções internacionais que poderiam afetar as relações comerciais de Moscou.
Todos os mercados operavam em queda nesta segunda-feira na Europa, onde inúmeras empresas investiram na Rússia nesses últimos anos, atraídas por perspectivas de crescimento maiores que nos próprios países europeus.
- Temores de sanções -
"O mercado se pergunta em que medida os ocidentais imporão sanções econômicas à Rússia", afirma Chris Weston, analista de IG. "A Rússia depende em grande medida de capitais e dos investidores ocidentais", destacou.
"O G8 (os 7 países mais industrializados, mais a Rússia) está disposto a ir até as últimas consequências devido a essa invasão" da Crimeia, na Ucrânia, afirmou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry. O G8 está disposto a adotar "sanções, a isolar a Rússia economicamente", acrescentou.
Se essas sanções se materializarem "isso teria um efeito muito negativo para as atividades cotidianas dos bancos e as empresas russas e em sua capacidade para obter financiamento externo", opinam os analistas da UBS.
Para a Rússia, foi prioritário nesses anos o nível de seus investimentos. A queda desses investimentos no ano passado provocou, entre outros fatores, uma clara desaceleração do crescimento do país.
O PIB russo cresceu apenas 1,3% em 2013 contra 3,4% em 2012 e os indicadores de janeiro mostram uma nova desaceleração.
"Ao contrário da guerra de cinco dias na Ossétia do Sul, nos preocupa agora o fato de que as tensões na Ucrânia durem mais tempo e tenham repercussões negativas no longo prazo na economia da Rússia", alertam os analistas do Alfa Bank, que fazem alusão à breve guerra que opôs Rússia e Geórgia em 2008.
Na bolsa de Moscou, o gigante do gás Gazprom - que obtém boa parte de seus lucros com suas exportações à Europa - perdeu no final da sessão desta segunda-feira, 13,89% de seu valor de mercado.
A Gazprom é o primeiro produtor mundial de gás natural no mundo e o principal fornecedor da Ucrânia.
Frente à tempestade financeira, o Banco Central russo se reuniu de forma inesperada e decidiu aumentar, surpreendentemente, em um ponto e meio, sua taxa básica de juros, que passou de 5,5% a 7%.
O objetivo é fazer frente a riscos que possam afetar a "estabilidade financeira", explicou o Banco Central russo. Esta decisão foi anunciada nesta segunda-feira às 07H00 GMT (04H00 de Brasília), mas não pôde impedir um verdadeiro pânico nos mercados russos.