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Estado de Minas

Christo Brand, o carcereiro que odiava Mandela antes de admirá-lo como um pai


postado em 08/12/2013 15:31

"É como se tivesse perdido um pai", explica Christo Brand, um dos carcereiros da prisão de Nelson Mandela, o perigoso "terrorista" a quem começou odiando com todas as suas forças, antes de admirá-lo por sua luta pela paz.

Quando conheceu Mandela na prisão de Robben Island, Brand odiava o ícone da luta contra o apartheid. Hoje, no entanto, lamenta a morte de Mandela na última quinta-feira aos 95 anos. Para ele, foi "uma grande perda para o país e para o mundo", que lhe renderá homenagens durante toda esta semana.

"Sinto saudades dele, mas sempre o terei nos meus pensamentos", afirma.

Quando chegou à prisão de Robben Island, na costa da Cidade do Cabo, no fim dos anos 1970, seus colegas de trabalho o avisaram sobre o perigoso detento número 46664. "É o maior criminoso da África do Sul", lhe disseram.

A primeira coisa que surpreendeu o guarda novato, que tinha acabado de completar 18 anos, foi que Mandela e seus companheiros, os temíveis "terroristas", eram, na verdade, amigáveis homens de meia-idade.

Porém, naqueles anos marcados pela violência e pela propaganda governamental, o preconceito era muito forte. "Eu comecei a odiá-lo desde o início", conta Brand, com um forte sotaque africâner, a língua dos primeiros colonos brancos.

"Naquela época, as nossas relações eram as de um carcereiro com um prisioneiro. Mas nos anos 80 as coisas mudaram", explica.

Depois de anos de convívio com os opositores do regime do apartheid, Christo Brand passou a compreender "pelo que eles estavam lutando" e, gradualmente, "mudou o pensamento e as opiniões".

E a mudança não foi apenas de posicionamento político. Perto de Mandela o guarda "cresceu" e aprendeu a importância de estudar muito, ser humilde e prestativo. "Ele me disse: 'Quanto mais você dá, mais você recebe'", lembra.

As lágrimas de Mandela

O guarda, cada vez mais sensível ao sofrimento de Mandela na prisão, violou as normas da prisão pela primeira vez em 1981.

Naquela época, o prisioneiro só tinha direito a uma visita pessoal de 30 minutos a cada três meses, e os filhos não poderiam ir vê-lo. Mas sua esposa, Winnie, conseguiu apresentar sua filha recém-nascida a Mandela, escondida embaixo de um cobertor.

Quando Mandela se deu conta, "olhou para mim e disse: 'Senhor Brand, seria possível ver a menina, mesmo que de longe?'. Respondi que não porque sabia que havia microfones na sala", relata o carcereiro.

Mas, em seguida, entregou o bebê a Mandela, que o tomou em seus braços enquanto as lágrimas caíam.

Um ano depois, Mandela foi transferido com Brand para a prisão de Pollsmoor, na Cidade do Cabo, onde o regime prisional era menos severo.

Por fim, o guarda apresentou o líder da luta contra o apartheid à sua família. "Desde então, envio a eles uma saudação de Natal", explicou Mandela anos depois, recordando do carcereiro como "um jovem muito agradável".

"Pessoas como o guarda Brand reforçaram minha crença na profundidade humana, mesmo daqueles que me aprisionaram por 27 anos e meio", disse em outra ocasião o ícone de reconciliação e perdão na África do Sul.

Quando o apartheid acabou, Nelson Mandela tornou-se presidente do país e, nos anos seguintes, manteve contato com seu antigo carcereiro: o parabenizou quando foi promovido, ajudou seu filho a conseguir uma bolsa de estudos para a faculdade e lhe enviou condolências quando esse mesmo filho morreu em um acidente de carro.

Atualmente a prisão de Robben Island é um museu e Brand trabalha como guia no local. "As pessoas sempre vão se lembrar dele como uma pessoa humilde, acessível, mas também como aquele que mudou o país sem um banho de sangue", conclui.


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