A oposição e os islamitas tunisianos no poder não conseguiram chegar neste sábado a um acordo sobre o nome do futuro primeiro-ministro independente, que terá a difícil tarefa de tirar o país de uma crise política alimentada pela violência jihadista.
Após uma primeira reunião, por volta das 10h00 (07h00 no horário de Brasília), entre opositores e islamitas para tentar resolver o impasse, um segundo encontro ocorreu às 16H30 (13h30) e quatro horas depois não havia sinais de progresso nas negociações.
Participam das tratativas o secretário-geral do sindicato UGTT, Houcine Abassi, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), Mustapha Ben Jaafar, o líder do partido islâmico Ennahda, Rached Ghannouchi, e os opositores Beji Caid Essebsi, Ahmed Nejib Chebbi e Hamma Hammami.
"Não conseguimos chegar a um consenso, mas estamos no caminho", indicou um membro do Ennahda, Ameur Larayedh.
De acordo com representantes dos partidos citados pela imprensa, os negociadores não conseguiram decidir entre dois candidatos: Mohamed Ennaceur, de 79 anos, e Ahmed Mestiri, de 88 anos, ambos veteranos políticos que foram ministros do primeiro presidente e pai de independência, Habib Bourguiba.
Segundo a imprensa, o Ennahda e seu aliado de esquerda Ettakatol apoiam Mestiri, enquanto a maioria da oposição defende a nomeação de Ennaceur.
O diálogo nacional iniciado há uma semana deve levar à nomeação de uma personalidade que irá suceder o primeiro-ministro islamita Ali Larayedh e conduzir a Tunísia às eleições.
Contudo, Larayedh condicionou a sua saída do poder à estrita aplicação da agenda de negociações, que inclui a implementação de uma legislação e de um calendário eleitoral, bem como o lançamento do processo de aprovação da Constituição.
Sua renúncia formal deve acontecer em meados de novembro.
Mas o calendário de negociações já registra atraso: a eleição dos membros da futura comissão eleitoral pela ANC, inicialmente prevista para sábado, foi adiada.
Um tribunal administrativo notificou a Constituinte que ela deveria esperar a promulgação da lei que cria a instância e a sua publicação no Diário Oficial antes da escolha de seus membros.
A presidência anunciou na manhã deste sábado que a lei foi finalmente promulgada pelo chefe de Estado, Moncef Marzouki, de acordo com a agência oficial TAP.
O diálogo nacional têm como objetivo pôr um ponto final a uma crise política que paralisa o país desde o assassinato do influente deputado opositor Mohamed Brahmi, no final de julho. O crime foi atribuído a um movimento jihadista que intensificou seus ataques depois da revolução de janeiro de 2011.
As negociações iniciaram no dia 25 de outubro, com a promessa do Ennahda de ceder o poder a personalidades independentes e do retorno à Câmara dos sessenta deputados de oposição que boicotaram a ANC durante três meses.
Paralelamente, os confrontos envolvendo grupos armados aumentaram significativamente, culminando quarta-feira com dois ataques contra locais turísticos que não fizeram vítimas.
Durante o mês de outubro, nove policiais foram mortos em confrontos.
Desestabilizada pelas crises políticas e pela violência jihadista, a Tunísia não conseguiu fortalecer suas instituições e se dotar de uma Constituição depois da revolução de janeiro de 2011.
Os islamitas do Ennahda assumiram a liderança do governo nacional em eleições democráticas realizadas depois da queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011. A Tunísia é considerada o berço do grande movimento de contestação que varreu vários governos autoritários no norte da África e no Oriente Médio, chamado de Primavera Árabe.