Um novo incêndio em um ateliê que confecciona roupas para grandes empresas ocidentais deixou sete mortos em Bangladesh, no mais recente caso de uma lista de dramas do setor têxtil local.
Os bombeiros lutaram toda a noite contra o fogo que arrasou a fábrica do grupo Aswad Knit Composite em Sripu, nos arredores de Daca.
Algumas partes do edifício de dois andares seguiam ardendo na manhã desta quarta-feira, mas a polícia garante que a situação está sob controle.
A intensidade do incêndio foi tal que era praticamente impossível identificar os corpos.
"Dois corpos foram encontrados e entregues às famílias. Outros cinco estavam carbonizados", disse à AFP Amir Hosain, chefe da polícia local.
Segundo os funcionários, o fogo pode ter começado na noite de terça-feira por um problema em uma máquina de tecelagem que já havia se incendiado outras vezes.
Um correspondente da AFP encontrou no local vários cadernos de pedidos com data de setembro que continham nomes de clientes como a americana Gap, o britânico Next, o sueco H&M;, o australiano Target e o grupo Carrefour.
Também achou um catálogo da marca George (grupo Walmart).
Os grupos Gap e H&M; desmentiram que se abasteçam diretamente desta fábrica, mas disseram ter um acordo de terceirização com sua casa matriz Palmal Industries, um dos principais fabricantes têxteis de Bangladesh.
"Esta fábrica não faz roupa para a H&M;, por isso não a inspecionamos", afirmou uma porta-voz do grupo, Andrea Ross, em um e-mail enviado à AFP. A empresa fornecia linha e lã para a H&M;, mas não há relação de negócio direto com a fábrica afetada, admitiu, no entanto.
Uma fonte da Gap em Bangladesh, que pediu para manter o anonimato, de uma resposta similar.
A terceirização não autorizada é frequente em Bangladesh, segundo as ONG. Os fabricantes locais tentam respeitar os prazos e preços, mas se esquivam das inspeções solicitadas pelas companhias ocidentais.
A maioria dos 3.000 funcionários da fábrica já havia ido embora quando o incêndio começou, afirmou o funcionário da polícia.
Em novembro de 2012, um incêndio na fábrica Tazreen deixou 110 muertos.
Em abril passado, o desabamento de um prédio de oficinas de confecção nos subúrbios de Daca ocasionou 1.129 mortos.
Bangladesh é o segundo exportador mundial de roupa e fornece principalmente para grandes empresa, como a americana Walmart, o francês Carrefour e o sueco H&M.;
Pilar da economia, o setor, com suas 4.500 fábricas, representa 80% das exportações anuais, que chegam a 27 bilhões de dólares.
As condições de trabalho e de segurança não respeitam as normas internacionais e os incêndios são frequentes.
A imensa maioria dos três milhões de trabalhadores ganham um salário básico mensal de 3.000 takas (38 dólares), ou seja, um dos mais baixos do mundo, e ainda assim foi graças a um acordo entre sindicatos, governo e fabricantes assinado em agosto de 2010.
Em setembro passado, milhares de trabalhadores se manifestaram durante quatro dias para exigir um salário mínimo de cem dólares por mês.