Pretória – Internado há três dias com uma grave pneumonia, o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, de 94 anos, tem recebido milhares de orações mundo afora. Ontem, o dia foi de apreensão, já que seu quadro continua delicado, para tristeza da população, que venera o maior símbolo da luta contra o apartheid, regime racista que dominou o país de 1948 a 1994. Um sentimento ambíguo parecia pairar sobre a nação. Ao mesmo tempo em que muitos pediam pela recuperação de Mandela, que completará 95 anos em 18 de julho, outros pareciam resignados em ter de ver o líder partir.
“É hora de deixá-lo ir”, estampou a manchete do jornal Sunday Times, com uma foto de Mandela sorridente e acenando, como em um gesto de adeus. A frase se apoiava em uma declaração dada ao periódico por Andrew Mlangeni, um amigo do ex-presidente. “Agora a família deve deixar que Deus atue a sua maneira”, afirmou. Nas redes sociais, internautas exprimiam os sentimentos divididos. “Minhas orações estão com Nelson Mandela e, se o Senhor o está chamando, nós, como uma nação, fomos abençoados de tê-lo conosco”, escreveu uma usuária do Twitter. “Temos que rezar para que Tata Madiba fique bem ou para que Deus o libere de seus sofrimentos. Acredito que é o momento para que o deixemos partir”, postou outra. Tata (pai) e Madiba (o nome de seu clã) são duas maneiras respeitosas e carinhosas de fazer referência a Mandela na África do Sul.
Na igreja católica Regina Mundi, em Soweto, referência da resistência negra durante o apartheid, centenas de fiéis homenagearam o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, e rezaram por ele. Em Pretória, muitos jornalistas permaneciam reunidos diante do hospital onde ele pode estar internado, já que a presidência não revelou o local da hospitalização.
Esta é a quarta internação desde dezembro, e o governo disse no sábado que seu estado era “grave, mas estável”. Ontem, familiares puderam visitá-lo no hospital, mas nenhum novo boletim sobre seu estado de saúde foi divulgado. Mandela apareceu bastante fragilizado nas últimas imagens divulgadas, em abril, durante uma visita à residência das principais autoridades do país. Nessas imagens, ele foi visto sentado em uma cadeira, com um cobertor sobre as pernas.
Ele passou 10 dias internado no fim de março, também por uma infecção pulmonar, provavelmente vinculada às sequelas de uma tuberculose que contraiu durante sua detenção na ilha-prisão de Robben Island. Nessa prisão, ele passou 18 dos 27 anos de detenção, durante o regime do apartheid, obrigado a trabalhar em uma pedreira.