Um atentado com carro-bomba deixou neste domingo pelo menos nove policiais mortos na capital da Síria, num momento em que se multiplicam os apelos internacionais para retirar os civis e os feridos da cidade de Quseir, onde são travados violentos combates há duas semanas.
O ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem, conversou por telefone com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e disse a ele que as equipes da Cruz Vermelha só terão acesso aos civis de Quseir após o fim das operações militares.
Segundo a agência oficial Sana, Muallem disse a Ban que "as autoridades sírias permitirão a cooperação da Cruz Vermelha e o acesso à área junto ao Crescente Vermelho após o fim das operações militares" realizadas na cidade.
Com relação às preocupações demonstradas por Ban e por outros funcionários da ONU sobre a situação em Quseir, Muallem expressou sua surpresa, já que "ninguém demonstrou qualquer preocupação quando os terroristas tomaram o controle da cidade".
Enquanto isso, a guerra prossegue sem trégua. A comissão de investigação formada pela ONU e presidida pelo brasileiro Paulo Pinheiro deverá apresentar na terça-feira um relatório que já se anuncia como aterrador, antes de uma reunião em Genebra entre ONU, Rússia e Estados Unidos para preparar uma conferência de paz.
O governo sírio já deu sua aprovação para participar da conferência, mas a oposição exige para estar presente a saída do presidente Bashar al-Assad, o fim imediato dos combates e, em especial, a saída das tropas do grupo libanês Hezbollah.
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, disse neste domingo que a conferência poderia ser adiada. "Na minha opinião, 'Genebra 2' será a conferência da última oportunidade. Espero que seja realizada, penso que poderia ocorrer em julho", disse.
Na manhã deste domingo, a explosão de um carro carregado com bombas atingiu o bairro de Jobar, no leste da capital síria, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH, uma entidade opositora com sede em Londres).
"Pelo menos nove membros das forças do regime morreram após uma forte explosão provocada por um carro-bomba perto de uma delegacia de polícia", disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Em Quseir, depois de receberem reforços, as tropas regulares apoiadas por combatentes do Hezbollah ampliavam o cerco ao redor dos rebeldes, que agora estão limitados ao norte desta cidade próxima à fronteira com o Líbano.
Enquanto isso, em Homs ao menos 28 rebeldes morreram em combates com as forças regulares.
"Vinte e oito rebeldes morreram em uma emboscada e em combates com as forças governamentais nas proximidades da aldeia de Kafarnane, onde reside uma maioria alauita", disse Rahman à AFP.
Relatório "aterrador"
Em Genebra, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) expressou seu choque. "Os civis e os feridos correm riscos ainda maiores, já que os combates prosseguem", disse Robert Mardini, diretor das operações para o Oriente Médio. Mardini pediu contenção a todas as partes.
Em um comunicado conjunto, a responsável da ONU para assuntos humanitários, Valerie Amos, e a comissária de Direitos Humanos, Navi Pillay, alertaram que existem "até 1.500 feridos que precisam ser retirados imediatamente" e classificaram a situação geral em Quseir como desesperadora.
O brasileiro Paulo Pinheiro, presidente da comissão independente de investigação apoiada pela ONU, advertiu que o relatório que será apresentado na terça-feira é "aterrador".
A juíza suíça Carla del Ponte, integrante desta comissão criada em 2011, mencionou crimes "de uma crueldade incrível".
"Eu nunca havia visto algo assim, nem mesmo na Bósnia", disse Del Ponte, que adiantou que o relatório denunciará os crimes cometidos pelos dois lados.
Para Pinheiro, os rebeldes que acreditam na democracia e que são partidários de um Estado laico agora são minoria.
Neste domingo, em Roma, o papa Francisco pediu para a multidão reunida na Praça de São Pedro orar "pela bem-amada Síria" e apelou para a "humanidade" dos sequestradores do país para que libertem os reféns, sem citar nenhum caso específico.