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Estado de Minas

Paralelo à crise política, Venezuela enfrenta escassez de produtos básicos

De acordo com dados do Banco Central venezuelano, a inflação subiu para 4,3% em abril, acumulando 12,5% este ano, em meio à escassez


postado em 19/05/2013 07:00 / atualizado em 19/05/2013 07:50

Presidente culpa a oposição, os EUA e grupos privados pela instabilidade econômica(foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)
Presidente culpa a oposição, os EUA e grupos privados pela instabilidade econômica (foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)
Paralelamente à crise política, que foi refletida de forma mais clara em uma briga entre deputados em 30 de abril na Assembleia Nacional, o presidente Nicolás Maduro enfrenta uma situação econômica muito delicada. O anúncio feito pelo governo na semana passada da importação de 50 milhões de rolos de papel higiênico é um exemplo claro dos problemas de inflação, de escassez e falta de abastecimento que afligem os venezuelanos, em uma economia com um forte controle sobre os preços e altamente dependente do petróleo e das importações.

De acordo com dados do Banco Central venezuelano, a inflação subiu para 4,3% em abril, acumulando 12,5% este ano, em meio à escassez. O governo já avisou que este ano vai ser difícil cumprir as metas de crescimento (6% do PIB) e de aumento dos preços (entre 14% e 16%). "Imagine que o país com as maiores reservas de petróleo do planeta não tem papel higiênico", ironizou Capriles na semana passada.

Maduro acusa a direita de travar "uma guerra econômica para desestabilizar o país". No entanto, tem dado sinais de abertura para o setor privado, muito marginalizado nos 14 anos do governo de Chávez. O presidente se comprometeu a facilitar o acesso a moedas internacionais para importação e se reuniu com vários empresários para tentar estimular a produção nacional, incluindo Lorenzo Mendoza, diretor-executivo da Polar, a maior produtora e distribuidora de alimentos do país. "O governo pode tentar desviar a atenção de suas responsabilidades, mas, claramente, precisa aumentar a produção ou assumirá o custo total", ressalta o presidente da empresa Datanálisis, Luis Vicente León. "Os contatos com os empresários são um bom sinal, mas é preciso abrandar a retórica e partir para a prática, concretizando com fatos os acordos", alertou Jesus Casique, professor da Universidade de Preston.

Na semana passada, o governo anunciou que importaria 760 mil toneladas de alimentos, que têm oferta bastante irregular. Quando esteve com a presidente Dilma Rousseff em Brasília, há três semanas, o governo brasileiro se dispôs a ajudar a suprir a demanda de produtos alimentícios.

O caso da falta de papel higiênico é talvez o mais emblemático dos problemas de desabastecimento. Economistas afirmam que a escassez de produtos na Venezuela deriva dos controles de preços criados para tornar produtos básicos disponíveis para classes mais pobres, e também dos controles cambiais impostos pelo governo. O governo, por sua vez, alega que forças da oposição – incluindo o setor privado – estão causando a falta de produtos num esforço para desestabilizar o país.

O ministro do Comércio, Alejandro Fleming, culpou a "demanda excessiva" pela falta de papel higiênico, como resultado de uma "campanha da mídia para desestabilizar o país". "A revolução trará o equivalente a 50 milhões de rolos de papel higiênico para o país", disse o ministro na terça-feira, segundo a agência estatal de notícias AVN. "Nós vamos saturar o mercado para que as pessoas se acalmem."

Entre os consumidores que enfrentam desabastecimento e longas filas nos supermercados e farmácias, a paciência está se esgotando. No mês passado, o índice de escassez atingiu o maior nível desde 2009, enquanto a inflação em 12 meses acumulava alta de quase 30%. Os consumidores frequentemente precisam de vários dias para encontrar produtos básicos, e costumam estocá-los quando os encontram.

O anúncio da importação não serviu de consolo para consumidores locais que tentavam encontrar papel higiênico na capital. "Foi a gota d’água", disse Manuel Fagundes, um consumidor em busca de papel higiênico no Centro de Caracas. "Tenho 71 anos de idade e essa é a primeira vez que vejo isso."

O presidente da Anauco, organização civil de defesa do consumidor, explica que, por conta da falta de variedade, há muitos anos os venezuelanos deixaram de poder optar sobre a qualidade dos produtos que entram na sua despensa. "É preciso que o vizinho avise que chegou azeite ao supermercado. Aí você vai correndo comprar, enfrenta fila e descobre que não vai ser possível pegar o melhor", disse Léon.

León explica que 53% da planta produtora da Venezuela está sob controle do Estado, como resultado de uma política de expropriações. "O Estado falha na produção, não atua como empresário. É preciso retomar o papel de supervisor, de regulador, que haja segurança jurídica para inversões", sugere.


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