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Estado de Minas

Conselho eleitoral confirma vitória de Maduro

Candidato governista ganha eleição presidencial com 2% de vantagem. Oposição não aceita, pede recontagem e protestos


postado em 16/04/2013 00:12 / atualizado em 16/04/2013 07:55

Presidente eleito e herdeiro de Chávez, Maduro exibe documento do Conselho Nacional Eleitoral(foto: JUAN BARRETO / AFP)
Presidente eleito e herdeiro de Chávez, Maduro exibe documento do Conselho Nacional Eleitoral (foto: JUAN BARRETO / AFP)

Caracas
– O Conselho Eleitoral da Venezuela (CNE, na sigla em espanhol) reconheceu Nicolás Maduro como vencedor das eleições de domingo. De acordo com o CNE, o candidato governista e herdeiro de Hugo Chávez foi eleito com 50,75% dos votos, contra 48,97% para o opositor Henrique Capriles. A pequena diferença expõe a divisão do país e provocou a contestação do resultado pela oposição, que exigiu a recontagem da totalidade dos votos. A presidente do CNE, Tibisay Lucena, pediu respeito pelo trabalho do órgão, considerado por analistas internacionais como um dos melhores do mundo. “Exigimos respeito de todas as pessoas que agrediram nossos funcionários. Somos pessoas, venezuelanas e venezuelanos, igual a todos e todas, em consequência também temos direito ao respeito”, disse Lucena. O comparecimento foi de 78%, um pouco abaixo dos 80% dos eleitores que em outubro elegeram Chávez por uma margem de 11 pontos percentuais sobre Capriles.

Mais cedo, o candidato derrotado denunciou que oficiais do Exército foram presos supostamente por tentarem defender um resultado eleitoral que o favoreceria. Numa entrevista coletiva, Capriles não forneceu detalhes nem apresentou provas que sustentassem sua acusação, mas exigiu uma recontagem total dos votos. O líder de oposição disse ter uma lista com mais de 3 mil irregularidades registradas durante a votação que podem ter alterado a eleição, assegurando que sua campanha tem um resultado diferente do oficial.

EXIGÊNCIAS Capriles convocou um panelaço para a noite de ontem e protestos para hoje e amanhã caso suas exigências não fosse atendidas. Enquanto a cerimônia ocorria, moradores do Leste de Caracas, uma base antichavista, promoviam um panelaço, sem esperar a hora indicada por Capriles. Segundo as agências de notícias, milhares de estudantes entraram em confronto em Caracas com a Guarda Nacional, que disparou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes. Os estudantes atiraram pedras e pedaços de concreto contra a polícia.

Maduro manifestou apoio a uma auditoria das urnas eletrônicas para conferência dos resultados. No entanto, o chefe de campanha de Maduro, Jorge Rodríguez, acusou Capriles de querer dar um golpe de Estado ao convocar uma mobilização popular para exigir a recontagem. A proposta de recontagem foi feita por Vicente Díaz, o único dos cinco integrante da cúpula do CNE próximo da oposição, e foi aceita na sequência por Maduro, em seu discurso da vitória.

A proposta de Capriles era que nenhum resultado fosse declarado até o fim da auditoria, mas o presidente interino rejeitou a possibilidade, dizendo que o país não podia permanecer semanas na incerteza. Além do resultado em si, Capriles contesta utilizando um dado imensurável: o peso do “vantajismo” do governo durante a campanha, como uso dos meios públicos e nenhum limite para liberação de verbas e inaugurações. Para analistas e especialistas do sistema eleitoral, ele é praticamente inviolável, mas a campanha é injusta.

Entre os chavistas, o sentimento foi de uma vitória agridoce. “Por um lado estamos felizes, mas o resultado não é exatamente o que se esperava”, disse o técnico de informática Gregory Belfort, de 32 anos, que participava da festa no Centro de Caracas. Um importante representante chavista expressou seu desalento com o resultado da eleição de domingo. O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, que muitos consideram o principal rival de Maduro dentro do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), escreveu em sua conta no Twitter que “os resultados nos obrigam a fazer uma profunda autocrítica”.

A vitória com gosto de empate foi sentida também pelos chavistas dentro do Palácio de Miraflores, que celebraram a eleição de Maduro com um “ar de tristeza”, segundo o jornal El Mundo. O herdeiro de Chávez terá agora de enfrentar desafios políticos e econômicos, denúncias de corrupção, protestos da oposição e críticas internas e tentar manter a unidade do chavismo, que será colocada à prova.

SAUDAÇÕES Os principais aliados internacionais da Venezuela comemoraram a vitória de Maduro. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, felicitou Maduro e manifestou a disposição do governo brasileiro “de continuar a trabalhar estreitamente com o governo venezuelano”. Patriota declarou que seu país se associa “plenamente com a declaração que foi emitida pelo chefe da missão de acompanhamento eleitoral da Unasul”, no sentido de que os resultados apresentados pela autoridade eleitoral devem ser respeitados.

O presidente de Cuba, Raúl Castro, qualificou a vitória como a continuidade da Revolução Bolivariana, movimento iniciado por Chávez e importante para a integração da América Latina. O presidente boliviano, Evo Morales, pediu respeito ao resultado e disse que a vitória de Maduro é um logro para a América Latina, aproveitando para criticar o “imperialismo”.

A argentina Cristina Kirchner foi a primeira a felicitar o presidente eleito. “Memória e gratidão para sempre ao companheiro Hugo Chávez”, disse a mandatária, em mensagem no microblog Twitter. Entre as potências internacionais, China e Rússia felicitaram Maduro.

A União Europeia, no entanto, não deu apoio direto à eleição de Maduro e pediu que seja fixado um resultado a ser aceito por todas as partes, em especial por causa dos números apertados. Os Estados Unidos consideraram a realização de uma auditoria como um “passo importante, prudente e necessário”, segundo o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. Ele não mostrou reconhecimento do governo americano do resultado. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, expressou seu apoio à recontagem de votos e ofereceu a equipe de especialistas eleitorais dessa organização.

Resultado evidencia polarização

Com diferença de menos de 2% entre os candidatos, o resultado da eleição, inédito, indica que o país se desmembra numericamente e ideologicamente em dois. Em um extremo estão os venezuelanos que querem a continuação do governo de Chávez na figura de Maduro. No outro, eleitores em busca de mudanças e de nova cara para o país, nada parecido com as políticas conduzidas pelo presidente morto em 5 de março, que ainda sobrevive na memória e na retórica dos chavistas.

Apesar de ter perdido a disputa, o presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente Leon, acredita que a oposição triunfou. “Quem ganhou foi a oposição que pôde se mostrar para a metade na metade do país, o que poderia até mesmo gerar em seus próprios seguidores a percepção de que tem a possibilidade de governar”, declarou. “Agora, quem perde? O governo que tinha uma vitória na mão”, conclui. Capriles ganhou terreno fértil no âmbito regional. Saiu vitorioso em oito dos estados mais povoados e em 11 capitais. A conquista, no entanto, foi ofuscada pela derrota na batalha nacional. O resultado das eleições – diferença de apenas 234.935 votos entre os candidatos – deixou claro que a polarização do país é total.

Após a apertada vitória, Maduro terá pela frente enormes desafios econômicos a curto prazo, como as pressões sobre as finanças públicas, a inflação em alta e um grave desabastecimento de produtos básicos. Além disso, ele enfrentará um país agudamente polarizado. O resultado deixa Maduro debilitado, e ele poderá enfrentar pressões de rivais dentro do próprio chavismo, uma heterogênea mistura de socialistas radicais, políticos pragmáticos, militares conservadores e empresários, antes unidos sob a indiscutível liderança de Chávez.

A campanha dele se baseou em divinizar a figura de Chávez, mas aparentemente muitos venezuelanos preferiram levar em conta questões como a criminalidade, os problemas no serviço público e a corrupção. Sem o carisma do antecessor, Maduro promete ser o garantidor dos enormes programas sociais mantidos pelo rendimento com o petróleo, e que garantem subsídios alimentares, atendimento médicos e moradias.

De imediato, seu triunfo permite um suspiro de alívio de aliados como Cuba, Bolívia ou Nicarágua, cujas econômicas dependem da compra de petróleo venezuelano a preços preferenciais. Mas resta ver como o governo enfrentará as crescentes distorções econômicas geradas pelo controle estatal sobre o câmbio e os preços, o que asfixia o setor privado e pressiona perigosamente a economia.

"Este é o momento mais delicado na história do chavismo desde 2002", disse o analista Javier Corrales, do Amherst College, dos EUA, referindo-se ao breve golpe de Estado de 11 anos atrás. “A oposição poderá não aceitar facilmente esses resultados, e será difícil para Maduro demonstrar ao alto comando chavista que ele ainda pode ser um bom líder.”


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