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Estado de Minas

Joseph Ratzinger: um teólogo conservador

Mantida sua individualidade, ele enfrentrou escândalos, rusgas religiosas e temas da modernidade


postado em 12/02/2013 00:12 / atualizado em 12/02/2013 08:02

Iniciado em 2005, o pontificado do papa Bento XVI, com então 78 anos, foi marcado por polêmicas e percalços e será recordado por sua férrea defesa da ortodoxia católica, e como um tradicionalista que tentou reconciliar o mundo da fé e da razão em uma Igreja confrontada por inúmeros escândalos, principalmente os casos de pedofilia envolvendo seus padres. Aplaudido pelos conservadores por tentar reafirmar a identidade católica tradicional, Bento foi criticado por liberais que o acusavam de atrasar as reformas e prejudicar o diálogo com muçulmanos, judeus e outros cristãos.

O teólogo alemão Joseph Ratzinger, que adotou o nome Bento XVI depois de assumir o papado, havia presidido por quase 25 anos, a partir de 1981, a célebre Congregação para a Doutrina da Fé, antigamente chamada de Santo Ofício da Inquisição. Antes de eleito papa, Ratzinger era conhecido como “rottweiler de Deus” por  sua posição firme sobre questões teológicas. No entanto, ficou claro que não apenas ele não morde, mas quase não latiu. Apesar de grande reverência por seu carismático antecessor – a quem ele colocou no caminho para a santidade, com a beatificação em 2011 – assessores disseram que ele estava determinado a não mudar seus modos calmos para imitar o estilo de João Paulo II.

Com perfil acadêmico, que relaxava tocando piano, Bento XVI procurou mostrar ao mundo o lado mais gentil do homem que havia sido chefe da doutrina do Vaticano por quase um quarto de século. No entanto, os escândalos de abusos sexuais de crianças perseguiram a maior parte de seu papado. Ele ordenou um inquérito oficial sobre abuso na Irlanda, que levou à demissão de vários bispos. Mas as relações do Vaticano com o país, que já foi majoritariamente católico, despencaram durante seu pontificado, a ponto de Dublin fechar sua embaixada na Santa Sé em 2011. Vítimas exigiram que ele fosse investigado pelo Tribunal Penal Internacional, mas o Vaticano disse que Bento XVI não poderia ser responsabilizado por crimes de outras pessoas.

A crise o levou em várias ocasiões a expressar um perdão público às vítimas desses crimes e a reconhecer, durante sua viagem a Portugal, em maio de 2010, que a maior perseguição que a Igreja sofria não vinha de seus “inimigos externos” mas de seus “próprios pecados” e prometeu que os culpados responderiam “ante Deus e a justiça ordinária”. Optou assim pela “tolerância zero” contra os padres pedófilos a fim de frear as suspeitas da opinião pública.

Durante seu pontificado, visitou a América Latina em 2007, durante a assembleia-geral da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe, celebrada em Aparecida (SP). Na ocasião, negou que a religião católica tivesse sido imposta pela força aos povos americanos, o que lhe valeu duras críticas de religiosos e laicos que recordaram as atrocidades cometidas pelos conquistadores da América em nome da fé. Em março de 2012, visitou o México e Cuba, onde pediu respeito às “liberdades fundamentais” e condenou o embargo americano à ilha comunista. Entre 2007 e 2012, publicou três livros sobre a vida de Jesus, a partir de dados oferecidos nos Evangelhos e em escritos do Novo Testamento, refletindo sobre a figura de Jesus Cristo, o que foi considerado um imponente exercício.

ESCÂNDALO E TWITTER Em setembro, um escândalo atingiu o papa, quando descobriu-se que o mordomo do pontífice, Paolo Gabriele, era fonte de documentos vazados alegando corrupção em negócios do Vaticano. Ele foi preso e condenado a 18 meses de prisão. Em 12 de dezembro, Bento XVI lançou-se no mundo virtual ao lançar na sua conta no Twitter seus primeiros tweets “urbi et orbi”. Ao longo de seu pontificado, Bento XVI adotou medidas que confirmaram seu selo conservador, entre elas a negação de modificações nas posturas tradicionais da Igreja, assim como João Paulo II, em termos de aborto, eutanásia, divórcio e homossexualidade. A postura provocou uma incompreensão profunda das teses da Igreja no Ocidente. Segundo ele, o cristianismo só será crível se for exigente. No entanto, foi o primeiro papa a admitir o uso do preservativo em casos muito limitados para evitar a propagação da Aids.Bento refere uma Igreja minoritária e convencida a uma comunidade de fé vaga.

DEFESA FERVOROSA DA FÉ CATÓLICA
Nascido em 16 de abril de 1927, em Marktl am Inn, uma pequena cidade de pouco mais de 2 mil habitantes na Alemanha, em uma modesta família católica, o jovem Joseph Ratzinger entrou em 1939 no seminário e foi inscrito nas Juventudes Hitleristas, afiliação obrigatória por decreto. Em várias ocasiões, como cardeal e como sumo pontífice, denunciou a “desumanidade do regime nazista” e destacou o caráter involuntário de sua afiliação juvenil. Foi ordenado padre em 29 de junho de 1951, nomeado arcebispo de Munique em março de 1977 e proclamado cardeal em junho de 1977.

Foi na década de 1960 que Ratzinger começou a chamar a atenção da Igreja, como consultor liberal do Concílio Vaticano Segundo (1962-1965). Alguns anos depois, diante do caráter marxista e ateu dos protestos de 1968 na Europa, ele se tornaria mais conservador, defendendo a fé contra o avanço do secularismo. Depois de temporadas como professor de teologia e como arcebispo de Munique, foi nomeado em 1981 para dirigir a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF).

Ele e o papa João Paulo II concordavam sobre a necessidade de restabelecer os pilares tradicionais da doutrina e da teologia. Como chefe da CDF, Ratzinger voltou-se contra a teologia da libertação,  muito em voga na América Latina, e foi criticado por sua dureza ao condenar o frade brasileiro Leonardo Boff a um ano de silêncio público em questões teológicas, por causa de seus escritos de viés marxista.

Encíclicas Em 1986, Ratzinger denunciou com firmeza, em nome do Vaticano, a homossexualidade e o casamento gay. Na década seguinte, exerceu pressão sobre teólogos, principalmente na Ásia, que viam as religiões não-cristãs como parte dos planos de Deus para a humanidade. Em 2002, se tornou decano do Colégio de Cardeais, que três anos depois o elegeria papa. De 2005 para cá, Bento XVI escreveu três encíclicas – a forma mais importante de documento pontifício. A primeira, Deus Caritas Est (Deus é amor), de 2006, que tratava dos vários conceitos de amor, incluindo o erótico e o espiritual. Spe Salvi (Salvos pela esperança), de 2007, era um ataque ao ateísmo e um apelo pela esperança cristã em um mundo pessimista. Caritas in Veritate (Caridade na verdade), em 2009, propunha-se a repensar a gestão econômica do mundo.


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