
Em mais uma demonstração de força, os grupos rebeldes que lutam contra o regime do ditador Bashar al-Assad detonaram dois carros-bomba no distrito de Jaramana – um bairro de maioria drusa e cristã, conhecido por ser favorável ao governo, no Nordeste da capital. As explosões ocorreram por volta das 6h40 (2h40 em Brasília) e mataram pelo menos 54 pessoas, ferindo 120, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Por sua vez, a agência estatal de notícias Sana divulgou números diferentes: 34 mortos e 83 feridos. No Norte do país, em Daret Ezza, próximo à fronteira com a Turquia, um caça das Forças Armadas foi derrubado. Trata-se da segunda aeronave abatida pelos rebeldes em menos de 24 horas. Os dois pilotos saltaram de para-quedas, depois de o caça ser atingido, e um deles foi capturado por militantes, de acordo com o OSDH.
Pouco depois das explosões, o governo de Al-Assad condenou o duplo atentado, chamando a ação de “ato terrorista”. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia, um dos maiores aliados do atual regime sírio, divulgou nota, por meio da qual classificou os ataques de “crimes injustificáveis de terroristas”. Nenhum grupo reivindicou a autoria do ato, mas as suspeitas recaem sobre milícias islâmicas, como a rede Al-Qaeda.
Os recentes ataques rebeldes mostram um claro indício do aumento da militarização e do poder ofensivo da insurgência. Pela primeira vez, os opositores usaram ontem um míssil terra-ar para derrubar um helicóptero oficial. A ajuda internacional para equipar os militantes foi uma das principais reivindicações da Coalizão Nacional Síria, oficialmente formada em 11 de novembro por grupos de oposição do país. De acordo com o professor, a origem do armamento ainda não é conhecida, mas ele, certamente, “vem de países aliados às ideias dos rebeldes”. Os últimos incidentes também comprovam o enfraquecimento do controle do território por Al-Assad. Até então Damasco era uma das cidades mais poupadas pelos confrontos.
A estimativa do OSDH é de que aproximadamente 46 mil pessoas tenham sido mortas na Síria desde o início da revolta, em 15 de março de 2011. Pelo menos 440 mil sírios fugiram e buscaram abrigo em países vizinhos. Ontem, a violência no país deixou 157 mortos – 96 em Damasco, 21 em Aleppo, 12 em Deraa, 10 em Idlib, sete em Deir Ezzor, seis em Homs, três em Hama, um em Golã e um em Swaida. Na Turquia, vizinho que recebeu o maior número de refugiados sírios, especialistas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) inspecionaram locais onde mísseis Patriot poderão ser instalados para proteger o território. Jordânia, Líbano, Iraque e, mais recentemente, Israel já foram afetados pela guerra síria.
Ontem, depois de uma reunião de embaixadores, a União Europeia (UE) decidiu estender as sanções contra a Síria por três meses. Além de uma série de proibições comerciais e financeiras, os países do bloco impuseram embargos sobre o petróleo e sobre armas, na tentativa de evitar que o regime de Al-Assad receba financiamentos. Os bens de 181 pessoas e de 54 empresas ligadas à Síria foram congelados, assim que a revolução popular foi deflagrada. Em seu oitavo mês como exilada política no Brasil, a militante da Resistência Síria, Sara al-Suri, de 24 anos, disse que o regime de Al-Assad perdeu a legitimidade e que ainda não caiu porque recebe ajuda da Rússia e do Irã.
