A Otan realizou nesta terça-feira os bombardeios mais violentos em Trípoli desde o início de sua campanha, num dia em que o líder Muammar Kadafi afirmou em mensagem de áudio que não vai se "submeter" e que o presidente americano, Barack Obama, advertiu que a pressão sobre ele vai intensificar.
Ao mesmo tempo, os rebeldes receberam pela primeira vez em Benghazi, a "capital da oposição" no leste do país, a visita de um enviado de Moscou para "facilitar o diálogo entre os dois grupos", e Pequim se envolveu mais uma vez na busca de uma solução do conflito.
"Apesar dos bombardeios nunca nos submeteremos", declarou o coronel Kadhafi numa mensagem de áudio transmitida pela televisão líbia.
"Estou perto dos bombardeios, mas sigo resistindo", disse, fazendo um chamado do povo à "resistência".
O bombardeio de Trípoli durou toda a manhã e continuou durante a tarde, logo após a transmissão da mensagem de Kadafi. Foram cerca de 20 explosões.
Estes bombardeios destruíram várias construções do complexo residencial do dirigente situado no centro da capital, que é regularmente alvo dos aviões da Otan e que está agora em ruínas, constatou a AFP.
"Continuamos pressionando o regime limitando a capacidade de Kadafi de dar ordens através dos centros de comando", explicou um porta-voz da Otan, Mike Bracken, garantindo que os diversos ataques da Aliança têm "enfraquecido consideravelmente" o regime.
Em Washington, Obama foi ainda mais claro: "Kadafi deve se render e deixar o poder para os líbios, a pressão vai aumentar até que ele saia". O presidente americano garantiu também que vê uma "tendência inexorável" para a saída de Kadhafi.
O novo ministro líbio do Trabalho, Al Amin Manfur, desertou nesta terça-feira quando estava em Genebra e anunciou seu apoio aos rebeldes.
Neste contexto, o enviado especial da ONU, Abdel al Jatib, chegou nesta terça-feira a Trípoli para uma visita sem anúncio prévio. Al Jatib já tinha viajado em meados de maio à Trípoli onde insistiu com o cessar-fogo e a autorização do aceso à ajuda humanitária às cidades mais assoladas pelos combates.
Em Benghazi, o enviado russo, Mikhail Marguelov, lembrou a nova posição de Moscou, que durante muito tempo apoiou Trípoli: "Acreditamos que Kadafi perdeu a legitimidade quando disparou a primeira bala contra um inocente".
Ele afirmou também que Moscou vai desempenhar um papel de intermediário para facilitar o diálogo entre o regime do coronel Kadafi e os rebeldes.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse no entanto que seu país não busca "assumir o papel principal" da mediação no conflito na Líbia, considerando que tal papel caiba à União Africana (UA).
Durante semanas, a UA tenta administrar a crise. Kadafi recebe de maneira positiva os esforços que são sistematicamente rejeitados pelos rebeldes, que se negam a iniciar as negociações enquanto Kadafi não sair do poder.
A China, que tem importantes interesses econômicos na Líbia, também entrou na cena diplomática. O chefe da diplomacia líbia, Abdelati al Obeidi, viajou nesta terça-feira para China para evocar uma solução política. Os diplomatas chineses foram até Benghazi para uma reunião com membros do Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão político dos rebeldes.
Para a França, que até agora falava do CNT como "o interlocutor político legítimo" na Líbia, os rebeldes são a única "autoridade governamental" no país, uma forma jurídica que poderia facilitar o acesso aos bens da Líbia no exterior.
No plano humanitário, um barco líbio proveniente de Benghazi chegou na segunda-feira ao porto tunisiano de Sfax (sul do país) com 24 feridos e uma equipe de médicos à bordo.
No total, 6.850 refugiados que fugiram da violência na Líbia atravessaram a fronteira com a Tunísia entre segunda-feira e a manhã de terça. Entre eles mais de 6 mil eram líbios, segundo o Ministério de Defesa tunisiano.
Desde o início da revolta, no dia 15 de fevereiro, entre 10 e 15 mil pessoas morreram e 890 mil fugiram da Líbia, de acordo com relatórios da ONU.
No entanto, no plano jurídico, a filha de Kadhafi, Aisha, recorreu contra a Otan nesta terça-feira na justiça belga por "crimes de guerra", após o ataque do dia 30 de abril que matou o filho caçula e três netos do mandatário líbio.