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Estado de Minas LEGADO E HOMENAGEM

Chefs mineiros destacam legado de Nelsa Trombino, dona do Xapuri

Famosa por manter a tradição da culinária mineira, Nelsa Trombino morreu nessa terça (30), deixando uma história de pioneirismo na cozinha de restaurante


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Nelsa Trombino perto do fogão a lenha com grandes panelas
Dona Nelsa Trombino e o fogão a lenha: símbolos da gastronomia mineira tradicional (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A/Press )
A morte da chef Nelsa Trombino, na noite dessa terça-feira (30/5), aos 84 anos, repercutiu entre chefs de Belo Horizonte que destacaram o legado para a gastronomia mineira deixado pela dona do tradicional restaurante Xapuri, na Região da Pampulha.

Na voz dos chefs

 

Bruna Martins, dona de dois restaurantes na área Central de BH, diz que, por ser pioneira, dona Nelsa abriu portas e inspirou todas as mulheres que sonham em ser cozinheiras profissionais.

“A gente tem uma relação de mulheres cozinhando dentro de casa como um trabalho doméstico e não remunerado. E ela abriu um restaurante e começou a servir comida”, lembra. 

“Por isso, ela foi um marco na nossa cidade ao valorizar uma profissão que sempre foi invisibilizada. Ela foi uma cozinheira profissional, a partir de uma relação de trabalho familiar doméstico”, completa.  

Transformou a culinária mineira 

Léo Paixão, dono do restaurante Glouton, no Bairro de Lourdes, diz que Nelsa Trombino transformou a gastronomia mineira e que, sem ela, seu trabalhos como cozinheiro não seria possível.

“Ela conseguiu pegar a cozinha mineira, que não era considerada uma cozinha de restaurante, mas uma comida de casa e transformar em uma comida de restaurante e fazer o Xapuri o restaurante de maior sucesso da cozinha mineira de todos os tempos no Brasil inteiro”, destaca.
 
Para ele, Nelsa desenhou a história da cozinha mineira de restaurantes. “Ela sempre foi uma cozinheira bastante dedicada e muito caprichosa. Deixou uma quantidade enorme de aprendizes. Milhares de cozinheiros passaram por ela.”
 
chefs mineiros com uniformes brancos; Dona Lucinha e Dona Nelsa estão entre eles
Chefs mineiros com Dona Lucinha e Dona Nelsa, dois dos maiores nomes da comida mineira de restaurante (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
 
 
Caio Soter compartilha da opinião do dono do Glouton. “A dona Nelsa tem uma importância para a cozinha mineira que é imensurável. Ela é para nós, chefs de cozinha daqui de Minas Gerais, como nossa matriarca, uma das pessoas mais importantes da fundação da cozinha mineira como a gente conhece hoje”, afirma. 

“Ela tem um legado que vai permanecer por séculos, que é o restaurante Xapuri, e toda sua luta pelos tachos de cobre, pelo respeito às nossas tradições e aos nossos ingredientes.” 
 

Manteve tradição 

O chef Eduardo Avelar também relata como Nelsa transformou a cozinha mineira, além de o apoiar na iniciativa de deixar a culinária de Minas mais moderna, mas sem perder as origens e a essência. 

“A dona Nelsa é uma pessoa que não é mineira. Era uma paulista que chegou aqui e nos adotou, e fez um trabalho, que, para mim, é o melhor trabalho de todos os tempos”, conta.

“Ela abraçou Minas Gerais, e abraçou como poucos mineiros abraçaram gastronomia local.” 
 
Cozinha do restaurante Xapuri
Nelsa Trombino foi capa da revista Hit, editada pelo Estado de Minas em 2010 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
 
O cozinheiro Henrique Gilberto, dono do Juramento 202, Cozinha Tupis e Forno da Saudade, disse que um dos primeiros contatos com a gastronomia foi aos 15 anos, quando dona Nelsa deu a ele a oportunidade de ter o contato com a culinária mineira no Xapuri.

E, como todos os outros, o chef destaca que, por ser pioneira, Dona Nelsa foi uma referência de comida em Minas Gerais. “Xapuri é o principal restaurante da cidade até hoje, graças à coragem dela”, aponta. 

Márcia Nunes, filha de Dona Lucinha, outro importante nome da culinária mineira, disse que a notícia da morte de dona Nelsa foi equivalente à notícia da morte de sua mãe. 

“Ela foi para nós tão grande, forte e bela como foi a mamãe. Dedicaram uma vida à cozinha, à tradição culinária", compara. 

Documentário sobre Dona Nelsa

O produtor cultural Marcelo Wanderley foi diretor do documentário 'A dona do tacho'. Roteirizado por Rafael Rocha, o documentário fala sobre a vida de dona Nelsa, com detalhes e informações nunca antes vistas e compartilhadas pela própria.

Uma produção que fez tanto sucesso, ao ponto de passar em festivais internacionais de cinema. Marcelo relembra com emoção de quando estava fazendo o documentário. Ele e o pessoal da produção ficavam emocionados com as histórias de dona Nelsa.

Marcelo diz que a morte da dona do Xapuri não é uma perda, porque ela é imortal. “Dona Nelsa conseguiu transmitir os saberes dela de tal forma que ela virou uma instituição da gastronomia mineira, ela deixou exemplo dos motivos que a gente precisa para preservar a tradicionalidade da nossa comida e não perder as raízes.” 
Marcelo Wanderley com Dona Nelsa e o filho dela, Flávio
Marcelo Wanderley com Dona Nelsa e o filho dela, Flávio (foto: Nereu Jr./Divulgação)
 

'Xapuri é fenômeno'

O diretor ainda disse que, com o tempo, começou a perceber algo especial vindo do Xapuri, que ele não era um simples restaurante famoso onde todos queriam ir por causa de grife. 

“Dona Nelsa Trombino era inquieta no cuidado com alguns detalhes, das receitas dela, dos ingredientes típicos da gastronomia mineira, dos modos de fazer, da qualidade desses ingredientes e aliado a isso, ali nas mesas querendo saber como estava a qualidade, conversando com os clientes”, expressa. 

“Por causa disso, o Xapuri é o restaurante mais importante da gastronomia tradicional mineira no Brasil e fora dele”, conclui.
 


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