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Estado de Minas TROTE EM REPÚBLICA FEDERAL

Vítima de 'trote' na UFOP ainda não voltou a estudar; mãe cobra solução

De acordo com Acsa Veras, mãe de Ayrton Veras, o jovem ainda lida com sequelas do 'trote', mas os processos universitário e judicial seguem sem desfecho


31/01/2023 14:41 - atualizado 31/01/2023 15:29

Escola de Minas, que sedia as engenharias na UFOP
Ayrton Veras está sem estudar há quase seis meses (foto: Íris Jesus/UFOP)
Ayrton Carlos Almeida Veras, estudante de Engenharia Metalúrgica na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que relatou ter entrado em coma após um “trote” sofrido na República Federal Sinagoga, em Ouro Preto, no dia 4 de agosto de 2022, ainda não voltou a estudar.

“Talvez, se o Ayrton tivesse vindo a óbito, tudo já estaria resolvido”. O desabafo é de Acsa Veras, mãe de Ayrton, indignada com a falta de desfecho do caso, que completa seis meses no próximo sábado (4/2). De acordo com Acsa, que é cabeleireira, até a última quinta-feira (26/1), a UFOP ainda não havia dado retorno sobre uma forma do estudante voltar a estudar.

Segundo Acsa, Ayrton então entrou em contato com a Universidade, por e-mail, quando conseguiu um retorno, onde a UFOP orientou o estudante a entrar em contato com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e verificar a disponibilidade do calendário da instituição maranhense. O jovem é maranhense e havia se mudado para Minas Gerais para estudar.

A mãe informou ainda que esse contato seria feito e a partir dele, ocorreria uma avaliação para saber se Ayrton conseguiria se encaixar na grade da Universidade. O que Acsa questiona é que, segundo ela, numa reunião com a UFOP, ficou definido que a instituição mineira iria organizar o retorno aos estudos do jovem, que não pretende mais voltar a morar em Ouro Preto. “Minha preocupação é o Ayrton perder mais tempo na Universidade, sendo que ele estaria estudando se não tivesse acontecido o trote”, disse.

“Como o Ayrton é filho de pai e mãe pobres, maranhenses, batalhadores, até agora nada”, disse Acsa. “Não é justo uma pessoa estudar a vida toda, se deslocar para longe da família, passando dificuldades financeiras, para, no final, sofrer o que ele sofreu”.

O que diz a UFOP

O Estado de Minas entrou em contato com a Universidade Federal de Ouro Preto sobre o retorno de Ayrton Veras aos estudos. De acordo com a instituição, o aluno foi atendido pela equipe de orientação estudantil da Pró-reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace) em dezembro, oportunidade em que foram apresentadas possibilidades sobre a continuidade dos estudos.

“Hoje, ele encontra-se em Afastamento Especial. Isso significa que ele continua com a sua matrícula ativa, podendo retornar assim que desejar ou puder. Caso ele queira solicitar transferência para outra universidade, o requerimento deve partir dele mesmo, com a UFOP encaminhando a Guia de Transferência para a instituição de interesse, assim como todas as orientações necessárias”, escreveu a UFOP.

Processo disciplinar

A UFOP comentou, também, o andamento do processo administrativo que analisa o caso. De acordo com a universidade, o processo é sigiloso e está dentro dos prazos legais.

“Quanto ao Processo Administrativo Disciplinar que cuida do caso, o de número 23019014661-2022/23, informamos que ele está tramitando regularmente, dentro dos prazos legais, já tendo sido marcadas as oitivas das pessoas. Assim, dentro do prazo legal, a UFOP divulgará seus resultados. Esclarecemos que o processo é sigiloso, por determinação legal, por conter informações sensíveis, estando disponibilizado, no entanto, para pessoas e grupos que trabalham na investigação”, disse a UFOP, em nota.

A universidade explicou ainda os prazos legais de um processo administrativo.

“O prazo legal para um Processo Administrativo Disciplinar é de 60 dias, podendo ser renovado por 60 ou mais dias, dependendo do número de pessoas que precisam ser ouvidas. Essa complexidade se aplica ao atual processo, considerando que todos os alunos da república serão ouvidos, assim como outros, caso a comissão responsável pela apuração ache necessário”.

Processo judicial

Acsa questionou ainda a lentidão no processo judicial movido contra os moradores da República Sinagoga, acusados de terem praticado o “trote” no jovem. Segundo ela, a informação é que o processo segue no Fórum de Ouro Preto e que era preciso aguardar o processo voltar para o Fórum, pois ele transita entre o órgão e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), para, assim, a família poder ter acesso ao número do inquérito.

O que diz o Fórum de Ouro Preto

A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com o Fórum Bernardo Pereira de Vasconcelos, de Ouro Preto, buscando saber detalhes do andamento do processo, mas o escrivão responsável afirmou que não há tempo hábil para a disponibilização de informações específicas antes do fechamento da matéria, ainda nesta terça-feira (31/1).

Segundo o escrivão, também é preciso verificar se o processo corre ou não em segredo de justiça, entre outros detalhes. Perguntado sobre um prazo para a reportagem buscar mais detalhes sobre o processo, o responsável afirmou que na próxima semana é possível que haja mais informações.

Estado de saúde de Ayrton

Acsa Veras informou que Ayrton tem feito tratamento psiquiátrico contra a depressão adquirida após evento traumático e que ficar sem estudar tem piorado a situação do jovem. Ela disse ainda que seu filho dorme somente com medicação e que tem tido problemas de refluxo agravados pelos molhos ingeridos no trote.

Segundo Acsa, Ayrton atualmente não tem plano de saúde, já que os custos estavam ficando muito altos para a família e então foi preciso cancelar. “Era pagar o plano ou comprar os remédios”, desabafou. “Ele está sem acompanhamento com o cardiologista no momento, porque não tenho condições de pagar particular e pelo SUS não tenho conseguido. Está difícil”, desabafou.

Relembre o caso

Ayrton Carlos Almeida Veras, estudante de Engenharia Metalúrgica na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), entrou em coma após um “trote” em uma república federal, de propriedade da União, onde ele foi submetido a tomar óleo, cachaça, molho de pimenta e molho shoyu misturados, e baldes com pó de café foram jogados no seu rosto. Há suspeita de que ele tenha sido estuprado.

O caso aconteceu no dia 4 de agosto. O jovem foi levado ao hospital “quase morto”, segundo os médicos. “Ele aspirou e se asfixiou com o líquido, teve pneumonia por aspiração e em seguida, o coma alcoólico. Ele já estava pálido e se debatendo quando levaram ele para a UPA”, relatou a mãe.

Os médicos disseram à mãe que encontraram vômito e pó de café no pulmão do estudante. O hospital acionou a Polícia Civil e registrou boletim de ocorrência após identificarem resquícios de lubrificante no ânus.

O jovem, natural de São Luís, no Maranhão, entrou no curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Ouro Preto em 2021, durante a pandemia. Em fevereiro de 2022, com o retorno das aulas presenciais, ele se mudou para a cidade mineira e se instalou na República Sinagoga, uma das Repúblicas Federais que são propriedade da universidade autogestionadas pelos estudantes.

O trote seria parte de um dos “ritos” de entrada na moradia.

Ele teve que trancar o curso pelas sequelas físicas e psicológicas do abuso, e voltou para São Luís. Segundo a mãe, desde o “trote”, o jovem se mostrou muito abatido e foi diagnosticado com Transtorno de Estresse Agudo. Ele apresentou queda de cabelo, perdeu parcialmente o movimento do pé esquerdo e desenvolveu problemas cardíacos.


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