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Estado de Minas HISTÓRIA RENOVADA

Minas celebra 100 anos da visita real que marcou relações ainda promissoras com a Bélgica

Ato no Palácio da Liberdade dá início às comemorações da data, que põe em foco oportunidades de estreitamento de laços econômicos com o país


02/10/2020 06:00 - atualizado 02/10/2020 07:31

Alberto e Elisabeth, o casal real, foram os primeiros monarcas a visitar o Brasil República (foto: Arquivo EM)
Alberto e Elisabeth, o casal real, foram os primeiros monarcas a visitar o Brasil República (foto: Arquivo EM)



Belo Horizonte era uma jovem capital, prestes a completar 23 anos de inaugurada, quando recebeu uma visita que marcou sua história. Há exato um século, em 2 de outubro de 1920, chegavam à capital mineira os reis da Bélgica, o casal Alberto e Elisabeth, na primeira viagem de um monarca europeu ao Brasil após a Proclamação da República. Para celebrar o centenário, muitas festividades estavam programadas ao longo deste ano, mas, devido à pandemia do novo coronavírus, houve reformulação nos eventos, destaca o cônsul honorário da Bélgica em Minas, Henrique Rabelo: "Estamos nos adaptando para comemorar este fato histórico com atividades culturais, econômicas e institucionais, já que as relações entre a Bélgica e o Brasil, especialmente Minas Gerais, são muito fortes e o futuro, acredito, será de oportunidades".

Na manhã de hoje (2), às 11h30, haverá um ato simbólico no Palácio da Liberdade, na Região Centro-Sul da cidade, com hasteamento das bandeiras da Bélgica, do Brasil e de Minas, na presença do governador Romeu Zema e do embaixador da Bélgica no Brasil, Patrick Herman. Já a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais fará apresentações virtuais diárias até o próximo dia 6, sempre às 18h, com as obras do maestro belga Arthur Bosmans, enquanto no dia 7 a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) promoverá um seminário de economia em modo virtual. Interessados na programação podem acessar as redes sociais do consulado.
 
Mesmo não sendo mais a sede do governo de Minas, o Palácio da Liberdade, na Praça da Liberdade, é o lugar mais indicado para lembrar este dia – afinal, o rei Alberto, então com 45 anos, e a rainha Elisabeth, com 44, ficaram hospedados no prédio em estilo eclético que, em tempos normais, abre para visitas guiadas. Quem já fez o tour, pôde ver os móveis da época.

"Praticamente todo o mobiliário exposto no roteiro do Palácio da Liberdade foi adquirido para a visita dos reis da Bélgica. São os conjuntos mais importantes à mostra nos espaços principais, como o salão dourado, a sala de música e o salão de banquetes. Há também o chamado Quarto da Rainha ou Sala da Rainha, preparado para Elisabeth receber as pessoas. O cômodo foi destinado ao uso exclusivo da rainha para receber convidados para o chá, um lanche", conta a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Michele Arroyo. Os reis dormiram no Palácio da Liberdade, enquanto a família do presidente de Minas (ainda não se usava a palavra governador), Arthur Bernardes (1875-1955), então residente no local, se deslocou para os vizinhos Palacete Dantas e Solar Narbona.

Os reis belgas ficaram no país entre 19 de setembro e 15 de outubro, visitando ainda o Rio de Janeiro e São Paulo. Em Minas, foram, além de BH, a Lagoa Santa e Nova Lima, onde conheceram a mineração de ouro de Morro Velho. "A viagem teve como consequência uma estreita aproximação entre a Bélgica e o Brasil, e o principal fruto foi a criação da Companhia Belgo Mineira, em 1921", destaca Rabelo. Sobre o monarca, o cônsul explica: "Era conhecido como o Rei Herói ou Rei Soldado devido à atuação e liderança durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Recebê-lo, em 1920, significou uma grande honra para nosso país, pois era uma das figuras internacionais mais importantes daquela época".

 

Aclamação popular


Conforme as pesquisas feitas pelo consulado, os reis desembarcaram na Estação Ferroviária (Praça Rui Barbosa, no Centro de BH), sendo recebidos pelo presidente da República Epitácio Pessoa (1865-1942) e por Arthur Bernardes. "Houve uma grande aclamação popular. Os monarcas ficaram hospedados no Palácio da Liberdade, que foi reformado e ganhou nova decoração para recebê-los. A Praça da Liberdade também foi remodelada e preserva o mesmo estilo até hoje. As formas arredondadas deram lugar ao formato geométrico e retilíneo da arquitetura francesa. O espaço ganhou ares parisienses inspirados nos jardins de Versalhes."

E qual a impressão que a capital causou aos reis? O cônsul responde: "Eles partiram impressionados com a hospitalidade mineira. Foram saudados por toda a população. O escritor Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), na época com 17 anos, registrou esse momento no poema A Visita do rei: Vejo o rei passar na avenida Afonso Pena/onde só passam dia e noite, mês a mês e ano, burocratas, estudantes, pés-rapados/Primeiro rei entre renques de fícus e aplausos/primeiro rei (verei outros?) na minha vida./Não tem coroa de rei, barbas formidáveis/de rei, armadura de rei, resplandescente ao sol da Serra do Curral./É um senhor alto, formal, de meia-idade/metido em uniforme belga/ao lado de outro senhor de pince-nez/que conheço de retrato: o presidente do estado/Não vem na carruagem de ouro e rubis das estampas./Vem no carro da Daumont de dois cocheiros/e quatro cavalinhos mineiros bem tratados".

Sabor e arte


Salão de banquetes do Palácio da Liberdade: móveis adquiridos para a visita do casal real belga, em 1920 (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press - 8/12/18)
Salão de banquetes do Palácio da Liberdade: móveis adquiridos para a visita do casal real belga, em 1920 (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press - 8/12/18)
À mesa, Minas fez ainda mais bonito, conforme os relatos: "O governador ofereceu aos soberanos aquele que teria sido o banquete mais refinado. O grande destaque foi a sobremesa criada para a ocasião – Dessert Brésilien, que era uma gelatina que reproduzia a bandeira belga. O casal real foi surpreendido pela beleza da apresentação e delícia dos sabores. Até hoje essa sobremesa é conhecida como Gelatina Rei Alberto."

Na despedida, os soberanos deixaram o estado com um presente do pintor Honório Esteves (1860-1933). "Receberam um quadro pintado a óleo, Curtume de João Vidal, que, segundo informações do Palácio em Bruxelas, esteve no quarto do rei Alberto até a sua morte em 1934", revelou o cônsul.

 

Quatro perguntas para


Henrique Rabelo, cônsul honorário da Bélgica em Minas Geraiss

Na atualidade, como são as relações comerciais entre o Brasil, especialmente Minas, e a Bélgica?
As relações comerciais entre Minas e a Bélgica estão bastante diversificadas. Importamos, em especial, medicamentos, produtos para a indústria de transformação e fertilizantes. Exportamos sobretudo commodities, produtos minerais, suco de laranja e café. Destaco o café das Cooperativas do Sul de Minas, que, pelas suas características de altitude média de 800 metros e acidez cítrica, definitivamente conquistou o mercado belga. Estamos vivendo um momento ímpar nas relações diplomáticas, pois temos um embaixador belga muito dinâmico e atento a Minas, Patrick Herman, e em Bruxelas temos um embaixador mineiro, Haroldo Macedo, que está sempre promovendo a imagem do nosso país.

Que projetos o senhor destacaria, na área econômica, que selam parcerias entre Minas e a Bélgica?
No início, a siderurgia foi o setor mais importante. Destaque para a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, fundada logo após a vinda dos reis. Depois vieram a Bekaert, Lhoist (Cal) e outras. O Porto do Açu (RJ), onde o Porto de Antuérpia é acionista, talvez seja o mais recente e importante investimento belga, já que a maior parte do fluxo de carga esta direcionada para o nosso estado – indústria siderúrgica e cimenteira. Por esse motivo o Porto do Açu é conhecido como o "Porto de Minas”. Mas a pauta é bem diversificada. Temos investimentos em tecnologia e biomedicina, startups e até mesmo empreendimentos imobiliários. A cerveja também é um grande elo. Como a Bélgica é referência na produção de cervejas artesanais, vários mestres cervejeiros buscam inspiração nas receitas das abadias e mosteiros belgas. Minas se orgulha muito de ser um grande polo cervejeiro e de ser chamada de "A Bélgica Brasileira”. Para o futuro, com a agenda liberal do nosso Estado, arriscaria nos setores de energia e gás.

O senhor é consultor do porto de Antuérpia, um dos maiores pontos de entrada, na Europa, do café brasileiro. O que pode nos dizer sobre a presença de Minas?

O Porto de Antuérpia é o maior porto fluvial da Europa, situado no Rio Scalda, a 70 quilômetros dentro do continente. Sua localização privilegiada oferece um ótimo acesso aos principais centros industriais europeus. Entre os produtos mineiros exportados destacamos, além do café, minérios, produtos agrícolas, castanhas, tabaco, químicos, plástico, celulose e produtos industrializados.  Antuérpia ainda é um centro de serviços, os produtos podem ser customizados antes de chegarem ao destinatário final.

Que palavra o senhor citaria para definir o futuro nas relações Brasil-Bélgica?
Oportunidade. 


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