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Estado de Minas COMBATE À PANDEMIA

BH inicia estudo internacional com testes para novo tratamento contra a COVID-19

Dois hospitais em Belo Horizonte darão início a uma pesquisa mundial para estudar a eficácia da angiotensina 1-7 no enfrentamento ao novo coronavírus


postado em 15/07/2020 18:30 / atualizado em 16/07/2020 17:19

Hospitais de BH darão início a testes com a angiotensina 1-7 contra a infecção por COVID-19(foto: Reprodução/Science Photo Library)
Hospitais de BH darão início a testes com a angiotensina 1-7 contra a infecção por COVID-19 (foto: Reprodução/Science Photo Library)
Dois hospitais em Belo Horizonte darão início à fase de testes de um novo tratamento para pacientes hospitalizados com COVID-19. O estudo será disponibilizado nos hospitais MaterDei e Eduardo de Menezes e vai testar a eficácia da angiotensina 1-7, substância originalmente desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para tratar hipertensão arterial. O protocolo é parte de uma pesquisa internacional em parceria com outros países, mas o Brasil é o primeiro a fazer o teste.

A participação brasileira recebeu aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde e poderá ser iniciada nos próximos dias. “Era previsto ser iniciado na Europa, mas o protocolo demorou e fizemos de tudo para começar por aqui, pois agora estamos no pico (de contágios pela doença) em Minas. Depois, se der certo, será internacionalizado o procedimento”, comenta o médico Robson Santos, coordenador do N-Biofar, laboratório da UFMG que desenvolveu a substância, e CEO da Angitec, startup de pesquisa e desenvolvimento à frente do protocolo no Brasil. 

A primeira fase do estudo clínico terá duração prevista de dois meses, com cerca de 60 pacientes, mediante consentimento dos voluntários ou da família. Serão selecionadas pessoas maiores de 18 anos que estejam internadas, respirando com a ajuda de aparelhos e com previsão de permanecer mais de 48 horas na UTI.

Metade receberá a substância ativa, por via endovenosa, e a outra metade, placebo durante sete dias.

“Se reduzirmos em horas a permanência do paciente no hospital já é um desafogo muito grande, um leito que estará livre para internar outra pessoa. Se o resultado for espetacular como foi em ratos, poderemos ter um medicamento em um período muito rápido. É uma coisa quase milagrosa o que faz nos animais. Caso dê certo, a chegada aos hospitais vai ser muito rápida e com o que o Brasil já tem de componentes dela, já daria para fazer uma planta para produção em larga escala”, pondera Santos.

Se os resultados forem satisfatórios para reduzir a gravidade dos sintomas, o tempo de ventilação mecânica e a permanência na UTI, a pesquisa irá adiante com um número maior de pacientes no Brasil e em outros países, passando ainda por um estudo multicêntrico. “Depois da internacionalização, o estudo passa a ser capitaneado por um hospital na Bélgica”, indica.

(foto: Beto Novaes/EM/D.A. Press - 16/04/2007)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A. Press - 16/04/2007)
De acordo com o pesquisador, a angiotensina 1-7 pode reverter danos pulmonares deflagrados pela infecção, além de combater complicações cardiovasculares e neurológicas, entre outras. Como o medicamento é feito a partir de uma substância produzida pelo próprio organismo, não foram apontados efeitos colaterais que ofereçam riscos à saúde.

“O hormônio não é prejudicial ao organismo. Além dos nossos estudos, já foram feitos diversos outros, um nos Estados Unidos, inclusive, foi administrado em grávidas hipertensas. Outra empresa americana desenvolve para uso contra outras doenças. Se a ‘nossa’ estratégia funcionar, ela pode ser usada em outras viroses que utilizam a enzima para entrar na célula, como as coronaviroses que entram por essas vias”, aponta.

Entenda o que é a angiotensina 1-7 e como ela age no organismo


A substância a ser administrada no estudo é uma “cópia” feita em laboratório de um hormônio naturalmente produzido pelo organismo, a angiotensina 1-7. Presente em diversos órgãos, ela tem efeito protetor, pelas propriedades anti-inflamatórias e anti-hipertensivas, além de prevenir arritmias e tromboses.

A produção da angiotensina 1-7 depende de uma enzima conhecida como ECA 2 (sigla para enzima conversora de angiotensina 2) – e é aqui que a história do medicamento se cruza com a pandemia. 

A ECA 2 tem ação central na atuação da COVID-19, pois atua como receptora do vírus nas células pulmonares. Ou seja, é graças a essa enzima que o vírus consegue invadir as células e se alastrar pelos pulmões, debilitando o sistema respiratório.

Uma vez “sequestrada” pelo vírus, a ECA 2 perde sua função natural, que é converter uma substância danosa ao organismo – a angiotensina II –, em angiotensina 1-7, de efeito protetor.

Ao repor a angiotensina 1-7, o tratamento experimental buscará compensar esse desequilíbrio e, assim, ajudar a combater a insuficiência respiratória e outros sintomas.

“A ideia é fazer uma reposição do ‘hormônio bom’ e buscar um reequilíbrio dessas substâncias. Com a ECA 2 raptada pelo vírus, não temos produção da angiotensina 1-7, e isso sobrecarrega o organismo com a angiotensina 2, que é prejudicial e favorece inflamações, fibroses, aterosclerose, diabetes e ataca o coração”, explica Santos.

Além de ser abundante nas células pulmonares, a ECA 2 faz parte do revestimento de vasos sanguíneos que irrigam coração, rins, intestino e outros órgãos. A enzima também está presente nos neurônios e nas células do sistema imunológico.

“Onde a ECA 2 estiver, o vírus pode penetrar”, aponta. Por isso, a doença vem se manifestando com sintomas tão variados, muito além de uma gripe. “Hoje há a hipótese de que a COVID-19 seja uma doença mais vascular que pulmonar, embora a porta de entrada sejam as vias respiratórias”, diz o pesquisador.

“A pessoa pode inclusive morrer de infarto provocado pela infecção”, afirma. Isso explica por que fazem parte do grupo de risco pessoas com hipertensão e diabetes, doenças que afetam a saúde vascular.


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