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Estado de Minas MARIANA

Coronavírus: escultor pede auxílio para sair do sufoco

Depois de ver os negócios desacelerarem com a tragédia de Mariana, escultor nascido na cidade busca saídas para sumiço de compradores com a pandemia


postado em 24/05/2020 04:00 / atualizado em 24/05/2020 07:16

Mestre Paiva mantém a criação de peças de inspiração barroca em seu ateliê, mas se queixa de não ter mais nem a procura de atravessadores(foto: Fotos: Pedro Ferreira/Esp. EM/D.a press)
Mestre Paiva mantém a criação de peças de inspiração barroca em seu ateliê, mas se queixa de não ter mais nem a procura de atravessadores (foto: Fotos: Pedro Ferreira/Esp. EM/D.a press)
Foi aos 7 anos que o menino José sentiu bater o coração de artista. O tempo passou e, aos 24, José das Mercês Paiva atendeu a um chamado, desta vez silencioso e direto, e viu que transbordava no peito uma grande necessidade de criar. Hoje, aos 61, conhecido por Mestre Paiva, o homem nascido em Mariana confessa ter aprendido na vida e na obra que arte resulta da “inspiração da alma”, mas também de “perseverança, trabalho, carinho e muito amor pelo ofício”. E é com essas qualidades que o artista tenta superar mais um período de dificuldades que enfrenta na cidade da Região Central de Minas.

No período de quarentena, que cumpre ao lado da mulher e das duas filhas, na cidade natal, Mestre Paiva não para de trabalhar. É assim que nascem das mãos do entalhador e escultor imagens de santos, anjos querubins, anjos músicos “tocando flauta e violino”, talhas com temas bíblicos, peças, a exemplo da Assunção da Virgem Maria ao céu, coroação de Nossa Senhora, São Francisco de Assis e outras. “Se você quiser, pode me chamar de ‘santeiro’, não tem problema”, diz. “O que vale mesmo é a paixão que tenho pelo ato de criar.”

Em uma tarde de sábado, na sua casa, no Bairro Chácara, em Mariana, Mestre Paiva ouvia, em um CD, a Ladainha de Nossa Senhora, enquanto trabalhava. “Os tempos estão muito difíceis para quem vive da arte, principalmente aqui. Primeiro, foi o rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco (em 5 de novembro de 2015), no distrito de Bento Rodrigues; agora, a pandemia do novo coronavírus. Quando houve o rompimento da barragem, as pessoas achavam que era no Centro de Mariana, e não a 50 quilômetros (da sede). Com isso, tive uma queda, nas vendas, em torno de 60%. Acabei ficando nas mãos de atravessadores de arte e dos lojistas”, conta.

Mestre Paiva acrescenta que, depois do rompimento da barragem, ainda dava para sobreviver, embora comercializando as obras, sempre em cedro, por um preço bem abaixo do que valiam. Com o coronavírus, afirma, ficou insustentável, porque nem os atravessadores nem os lojistas estão comprando. “Estou vendendo pela internet, mas o momento é realmente de muita dificuldade. Tenho até saído pela rua mostrando meu trabalho.”

Com obras inspiradas no gênio do Barroco brasileiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), mineiro de Ouro Preto , Mestre Paiva define seu trabalho como “neobarroco, com traços suaves e alegres”. E revela um sonho: ter um ateliê em Ouro Preto. “Gostaria muito de conseguir um patrocinador para desenvolver meu trabalho lá.” No currículo, o artista autodidata destaca que ministrou curso em São Paulo (SP) para 42 jovens, “ensinando a eles essa arte”. “Se pudesse, e se houver algum projeto, gostaria de repetir esse curso em Belo Horizonte, tão logo acabe a pandemia”, planeja.

A veia artística de Mestre Paiva, conforme explica, começou a pulsar forte quando ele ainda era menino e estava no antigo curso primário. “A professora pediu que nós fizéssemos um desenho, depois de um passeio aos pontos turísticos de Mariana. Pintei em aquarela a Igreja de São Pedro dos Clérigos. Dezessete anos depois, quando trabalhava numa empresa, me lembrei desse dia e algo muito interessante ocorreu.”

Ao falar daquele momento,  artista não contém a emoção. “Era 1º de abril de 1983, eu acabara de me desligar da empresa. Era solteiro e morava com minha mãe. Cheguei em casa e vi, na cozinha, a tábua de bater carne. Olhei para ela, corri a uma loja de ferramentas, bem perto, e comprei um formão. Entrei no meu quarto e me tranquei, ficando vários dias entalhando a tábua de bater carne. Ao terminar, estava na superfície da madeira a Catedral da Sé de Mariana.” A mãe, dona Eva, gostou e deu ao filho um santinho com a imagem de Cristo, obra de Aleijadinho presente numa das capelas dos Passos da Paixão de Congonhas. A missão seguinte de José foi reproduzir a imagem.

“E a tábua”, pergunta o repórter? “Por sorte, minha mãe não deu falta logo. Afinal éramos muito pobres. Comprar carne era só uma vez ou outra. Mas depois falou: ‘Ah! Então foi por isso que minha tábua de carne sumiu!’.”

APRENDIZ 

Nos últimos 27 anos, Mestre Paiva tem se dedicado ao trabalho de entalhador e escultor. E ressalta que, em 1987, teve um grande mestre, o artista Hélio Petrus, de Mariana. “Trabalhei no ateliê dele, aprendi muito e o considero meu padrinho nas artes. Fiquei lá até 1993. Petrusapontava em que aspectos eu precisava melhorar para me tornar um artista.”

Barroco nas redes

Os trabalhos de Mestre Paiva estão disponíveis para visualização no Instagram (#mestrepaiva), no Facebook (mestrepaivaesculturas) e no YouTube. Quem se interessar pelo trabalho e quiser fazer contato pode mandar e-mail para mestrepaiva@yahoo.com.


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