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Estado de Minas CORONAVÍRUS

Coronavírus: falta de hidroxicloroquina no mercado prejudica pessoas portadoras de lúpus

Remédio está sendo testado para combater a COVID-19


postado em 20/03/2020 19:51 / atualizado em 21/03/2020 00:28

(foto: Reprodução)
(foto: Reprodução)
Na falta de uma vacina e de antivirais específicos para tratar o novo coronavírus, pesquisadores em todo o mundo têm investigado drogas já existentes para atuar contra a COVID-19. Uma das candidatas é a hidroxicloroquina. Entretanto, médicos infectologistas ouvidos pela reportagem do Estado de Minas foram unânimes em afirmar que não existe no mundo nenhum estudo científico comprovando a eficácia do uso do medicamento para combater o coronavírus. O remédio é usado para combater malária, lupus e outras doenças importantes. E o resultado dessa especulação é que pessoas que realmente precisam do remédio não tem encontrado para comprar nas farmácias. Há quem já esteja fazendo estoque sem nem mesmo uma comprovação para o uso do remédio que possui efeitos colaterais.

A assistente em administração Cynthia Santos Menezes, de 30 anos, é filha de Maria Elizabeth Santos Menezes, de 65 anos, portadora de lupus - uma doença autoimune que pode afetar a pele, os rins, o cérebro e outros órgãos - e usa do medicamento com sulfato de hidroxicloroquina diariamente, sendo cinco comprimidos por semana. Ontem, se surpreendeu quando buscou pelo medicamento em  diversas farmácias e se deparou com a informação: produto esgotado."Minha mãe me procurou muito feliz contando que o medicamento que ela usa poderia curar o coronavirus. Na hora que ouvi isso já senti um frio na espinha. Nós, que somos de uma geração mais nova, já estamos mais acostumados com os efeitos de notícias falsas pela rede. Na hora imaginei que haveria uma corrida às farmácias pelo medicamento! Quando ligamos para as farmácias que estamos acostumadas a comprá-lo, já foi tarde", contou

Foi quando ela divulgou um áudio por Whatsapp e recebeu retorno de várias pessoas informando que estavam na mesma situação. Tanto pessoas com lúpus como pacientes com outras doenças crônicas, como artrite. Pelo Instagram, a  engenheira ambiental Cecília Abreu, de 30, também se manifestou sobre o esgotamento do remédio que também é indispensável para ela: "galera, o medicamento que 'tá rolando' que trata o coronavírus é o mesmo medicamento que eu tomo para minha doença autoimune Lúpus. Quando recebi a notícia, já era tarde. Compraram todos os remédios de todas as farmácias", lamentou. A jovem pediu ajuda para alguém que comprou pudesse vende-lo. "Tenho remédio até domingo. Não posso ficar sem tomar."

Ela conta que faz o uso desde os 18 anos diariamente. "Recebi a notícia logo que o medicamento tinha sido aprovado como cura e tratamento da pandemia. Pesquisei e percebi que não tinha nada conclusivo.  Sabia que o remédio seria varrido das prateleiras das farmácias então logo corri, mas já era tarde. Os estoques zerados em toda a capital."  Ela conta que tenta criar uma rede de apoio de pessoas que precisam da medicação. "Recebi pedido de uma senhora com artrite reumatoide, uma gravida portadora de lupus. Muitas pessoas desesperadas sem medicação, como eu, pegas desprevenidas", complementou.

Cynthia explica que o lúpus é uma doença que precisa ser muito bem controlada, pois pode atingir formas muito agressivas. "É uma doença que pode deixar a pessoa cega, com insuficiência renal aguda ou crônica, problemas hepáticos (no fígado), nos ossos, na pele, nos pulmões, enfim, é uma doença que ataca de forma sistêmica. Isso, por si só já é extremamente problemático, mas em um contexto de pandemia por covid-19 torna-se mais um fator de risco. Basicamente uma pessoa sem tratamento nesse contexto pode piorar muito rápido", informou ela.

Médicos infectologistas ouvidos pela reportagem do Estado de Minas foram unânimes em afirmar que não existe no mundo nenhum estudo científico comprovando a eficácia do uso do medicamento Hidroxicloroquina para combater o coronavírus. Os especialistas afirmaram ainda que o medicamento  tem efeitos colaterais severos  - hepatite, pancreatite e alterações da pigmentação da pele, entre os mais comuns-,  e só pode ser usado, portanto, com aprovação médica.

O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambás, infectologista e integrante da frente de combate ao coronavírus criada pelas Secretarias de Minas e de Belo Horizonte da Saúde (SEEs), juntamente com a UFMG, disse ainda que a população deve evitar comprar o remédio tendo em vista também que a droga será objeto de pesquisa, na capital,  por essa força-tarefa de especialistas da universidade e SEEs."Não pode ficar em falta nas farmácias para a pesquisa", advertiu o médico.

Ontem, o Conselho Federal de Medicina (CFM) airmou querer que a venda de medicamentos que contém hidroxicloroquina e cloroquina seja autorizada apenas com receita médica. A entidade argumenta que a compra e o uso indiscriminado deste medicamento não é recomendada, além de apontar desabastecimento destes produtos pela compra desnecessária. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que os estudos sobre uso de medicamentos com essas substâncias ainda não são conclusivos. "A automedicação pode representar grave risco à saúde e o consumo desnecessário pode acarretar desabastecimento dessas fórmulas, prejudicando pacientes que delas fazem uso contínuo para tratamento de doenças reumáticas e dermatológicas, além de malária", afirma o CFM em nota enviada ontem à Anvisa.

Chintya faz um apelo: "Em primeiro lugar, que as pessoas não se automediquem! Esse medicamento é muito forte e pode gerar efeitos colaterais graves! Todo medicamento deve ser utilizado apenas sob orientação médica." Além do mais, pede mais responsabilidade no compartilhamento de notícias: "Vamos buscar fontes confiáveis e checar as informações que recebemos! Temos o ministério da saúde a nível Federal, as secretarias de saúde a nível estadual e ainda as secretarias municipais de saúde também! O SUS lançou um aplicativo de coronavirus que está disponível gratuitamente para celulares! Vamos nos utilizar dessas fontes", acrescentou. Até o fechamento desta edição, ela conseguiu a doação de duas caixa. 

Tupinambás informou que está em processo a elaboração de um protocolo para dar início à pesquisa, coordenada pela UFMG, sobre o uso  da cloroquina - droga para combater a malária - no tratamento da COVID-19. “Daqui a três a seis meses, teremos notícias interessantes sobre esse estudo”, afirmou o infectologista, professor da UFMG desde 2002, que também informou que os estudos sobre esse tratamento específico ainda são recentes. Na China, em dezembro passado, e, recentemente, na França.

Carlos Starling, também renomado infectologista, com mais de 30 anos de carreira, referência nacional e internacional na área, disse que o uso da cloroquina se restringe, por enquanto, a um “contexto de estudos clínicos”. “Com pouquíssimas pessoas”, afirmou Starling. Ele também advertiu sobre os efeitos colaterais do medicamento e  seu efeito tóxico, caso não seja receitado por um especialista. "Pode intoxicar. O uso (do remédio da malária) não está nos protocolos oficiais”, enfatizou o médico.


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