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Estado de Minas CARNAVAL DE BH

A festa não para

Foliões desafiam o cansaço e a ressaca e agitam blocos pela capital desde as primeiras horas da quarta-feira de cinzas. Fim de semana ainda terá programação cheia de opções


postado em 27/02/2020 04:00

 Manjericão, que começou a concentração às 6h30, no Mangabeiras, criticou a mineração em Minas Gerais em seu desfile(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Manjericão, que começou a concentração às 6h30, no Mangabeiras, criticou a mineração em Minas Gerais em seu desfile (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Márcia Maria Cruz e Aissa Mac *

Quarta-feira de cinzas é hora de parar de festejar? Não! Nem de festejar nem de propor questões cruciais para o debate em Belo Horizonte. Foi o que propôs o bloco Manjericão, que levou o lema “libera o manjericão e condena a mineração”, em seu 10º ano de desfile na capital mineira.
 
O grupo se concentrou na Praça Estado de Israel, no Bairro Mangabeiras, em frente ao Parque Serra do Curral. O local foi escolhido  por estar próximo à área que sofre com os efeitos da mineração. “A Serra do Curral já sofreu  muito, mas sofreu também como símbolo de Minas Gerais como um todo. A gente viveu Mariana, Brumadinho. O nome do estado já diz. É o estado da mineração. Ela tem que ser repensada e não pode ser a qualquer custo”, disse o professor universitário e poeta Rafael Fares, um dos organizadores. Ao longo do cortejo, houve intervenções de ativistas da causa do meio ambiente. “Tudo com alegria. É carnaval”, ressaltou.
 
O bloco também foi um teste à resistência dos foliões, já que saiu nas primeiras horas da quarta-feira, tempo reservado à cura da ressaca e ao descanso. “A gente brinca que somos 'highlanders'. Só vem pra cá quem sobreviveu”, brinca Rafael, numa referência ao guerreiro imortal do cinema.
 
Com regência de Chaya Vasquez, a bateria do Manjericão mesclou marchinhas antigas com hits da MPB e muita música pop. No repertório, faixas como Domingo e Anunciação, de Alceu Valença, que anunciam novos tempos. O funk marcou presença com a música Verdinha, da cantora Ludmilla.

CHICO BUARQUE Outro bloco em que os foliões mostraram ainda ter pique para o pós-carnaval foi o Acorda Amor, criado em homenagem ao cantor e compositor Chico Buarque. A concentração, no Bairro São Geraldo, começou por volta de 9h e centenas de pessoas – entre crianças, adultos e idosos – deixaram a preguiça de lado para cantar e dançar as canções de Chico em ritmo de carnaval.
 
Um dos mais animados e 'gliterinados' era Igor Maciel, que demonstrou empolgação para encarar o pós da festa de Momo: “O carnaval é uma grande festa, esta ideia de demonizá-lo tem que acabar. Olha a alegria que é. Agora começa o ano”.
O tom político não abandonou a festa. A cantora e idealizadora do bloco, Luísa Barros, interrompeu o refrão da música As Caravanas para criticar a gestão do governador Romeu Zema: “A gente não precisa de você para fazer carnaval. Fora Zema!”. E completou: “Nossa bateria fez uma vaquinha para colocar o bloco na rua. Fazer carnaval é muito trabalhoso, mas também é um prazer enorme. Sou muito fã de Chico e cantar as canções dele neste momento no nosso país é uma forma de resistir”.
 
Como o período oficial da folia na capital mineira segue até domingo, quem curtiu pouco ou está com gostinho de quero mais ainda tem várias opções. “Como não trabalhei hoje (ontem), aproveitei para vir, rebater a ressaca e tomar a saideira”, disse Bruno Cunha, interrompido pelo amigo Ciro Gaspar, que lembrou: “Fim de semana tem mais, vamos também”.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina

Reggae deu o tom no Sagrada Família


Pedro Lovisi*

O tradicional bloco I Wanna Love You levou centenas de pessoas ao Bairro Sagrada Família, Região Leste da capital, ontem à tarde, que se embalaram nas canções de Bob Marley, Gilberto Gil, Cidade Negra e outros cantores do reggae. Por lá, as cinzas da quarta-feira também foram as dos cigarros entre os dedos dos foliões.
 
“Este é o melhor bloco de Belo Horizonte”, cravou um dos colaboradores da Marcha da Maconha, Alexandre de Castro, de 41 anos. Presença garantida todo ano no bloco, ele se empolga a falar da “vibe” do carnaval de BH. “Sei que tem gente que acha que o carnaval está muito cheio, que não dá pra aproveitar mais, mas acho que BH amadureceu. O importante é administrar a festa sem perder essa essência rústica”.

Lotando a praça localizada na esquina das ruas São Luiz e Cabrobró, o I Wanna Love You foi criado no carnaval de 2013, unindo músicas brasileiras e jamaicanas. Desde então, reúne cerca de 40 músicos que cantam e tocam instrumentos como surdos, alfaias, timbaus, além da famosa guitarra elétr
ica.

SALDO POSITIVO Amigo dos criadores do bloco, Rafael Adriano, de 34, saiu de Lagoa Santa, na manhã de ontem só para curtir o evento. Com sua esposa, Luciana Durães, de 32, e o filho Raul, de 1 anos e 8 meses, o folião dançava ao ritmo da bateria e um sorriso que não saía do rosto. “Não vim para Belo Horizonte nenhum dia do carnaval. Só estou vindo hoje (ontem) mesmo, porque adoro este bloco”, contou.
 
Também fãs do bloco, os amigos Negon Davidson e Pâmella Ribeiro acompanharam, pelo quarto ano consecutivo, a turma do reggae do Sagrada Família. “Apesar de todo o problema com a polícia e os trios, o carnaval foi positivo", comemorou Davidson. "Na nossa tribo, foi maravilhoso", acrescentou Pâmella.

*Estagiário sob supervisão da subeditora Kelen Cristina

Três histórias de carnaval


Luiza Rocha* e Maria Irenilda Pereira

Uma mãe que leva toda a família para dentro de uma escola de samba, um bloco caricato com quase 60 anos de desfiles e um bloco de rua – o mais jovem desta história – que resgata a ancestralidade do povo negro. Histórias contadas no documentário produzido pela equipe multimídia do jornal Estado de Minas a partir da rotina de Arabella das Chagas Gonçalves, costureira e cofundadora da Acadêmicos de Venda Nova; de Fernando Junqueira, presidente dos Bacharéis do Samba; e de Nayara Garófalo, cofundadora do bloco Angola Janga. Três histórias de carnaval sobre tradição e luta que você confere no www.em.com.br.

“Teve ano de fazer porta-bandeira com a cortina de casa”
Arabella das Chagas Gonçalves, costureira e cofundadora da Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova

“A ideia de fundar uma escola de samba veio do Marco Aurélio, meu filho, quando ele tinha uns 17, 18 anos. Andando por Venda Nova, ele viu a situação de uma escola de samba, ficou com dó daquelas pessoas trabalhando e sugeriu que fossemos lá, dar uma força. Quando o carnaval de BH acabou, começamos a participar em outras escolas, em Nova Lima, Vespasiano, Coronel Fabriciano. Quando o carnaval de BH voltou, meu filho falou que sabíamos fazer tudo e que deveríamos criar uma escola. Somos seis fundadores: meus quatro filhos, minha irmã e eu. Nossa escola foi fundada em dezembro de 2004. Quarenta dias depois, ficou em segundo lugar, com baianas de TNT e plástico bolha, com muito orgulho. Nosso símbolo é o pandeiro e a fênix. Toda a família e a comunidade se envolvem, já temos uma estrutura bem maior, com chance de remunerar quem trabalha conosco, mas teve ano de fazer porta-bandeira com a cortina da casa da minha mãe, com sacos de cebola. Nunca entrei em um clube para pular carnaval, nunca vi a Banda Mole. A gente nem consegue ver os blocos de rua. Pra mim, carnaval é isso: levantar toda aquela avenida. A gente vive dos aplausos.”

“O carnaval de BH vem muito da tradição dos blocos caricatos”
Fernando Junqueira,presidente do bloco caricato Bacharéis do Samba

Os blocos caricatos são característicos de BH. Somos a única capital com esse tipo de manifestação. São 11 pessoas que ainda mantêm essa tradição. O Bacharéis do Samba foi fundado em 1965 e fizemos vários desfiles, começamos com caminhões pequenos. Na década de 1980, época de ouro dos blocos caricatos, começaram a ser caminhões gigantes. Nossa comunidade é formada pelo entorno do Bairro São Pedro, a favela do Papagaio e suas vilas, como a Vila Santa Rita de Cássia e a Vila Estrela. Depois, infelizmente, BH ficou 16 anos sem carnaval. Até que em 2002 retornamos, comigo na presidência. São anos e anos de luta, trabalho e graças a Deus de muitos prêmios também. Temos uma ajuda que é gerenciada pela Belotur. É um apoio menor que o das escolas de samba, mas é muito importante, já que tudo requer recurso, maquiagem, sapatilhas. O crescimento do carnaval de BH vem muito por causa das tradições que seguiram das escolas de samba e dos blocos caricatos, que foram um incentivo para a criação dos bloquinhos de rua. Em qualquer grande cidade, esses bloquinhos não podem faltar, mas as tradições também não podem acabar.”

“Queremos que entendam a importância de respeitar a diversidade”
Nayara Garófalo, cofundadora do bloco Angola Janga

“Angola Janga é um bloco afro fundado em 2015 e o nome vem do Quilombo dos Palmares, que é como a história os nomeou. Mas o nome que eles mesmos se davam era Angola Janga ou Pequena Angola. Era uma tentativa dessas pessoas escravizadas de criar um território dentro do Brasil no qual elas se sentissem em casa. Eu e Lucas Nascimento tocávamos em cinco, seis blocos. Percebemos a ausência de pessoas negras e vimos a necessidade de fazer uma intervenção, pensando nas pessoas negras, periféricas, onde elas se sentissem confortáveis, pertencentes. No primeiro ensaio, éramos oito, cada um sabia tocar um instrumento. A cada ensaio mais pessoas se juntavam a nós. Um dos nossos grandes desafios é orçamentário. Existe uma questão de racismo institucional, que tende a impedir o acesso de certos grupos aos recursos, e o Angola Janga não recebe patrocínio, então, a gente junta todo mundo em eventos de arrecadação. Quando uma cidade se preocupa com a diversidade e com políticas de igualdade a cidade inteira cresce. Queremos que cada vez mais pessoas entendam a importância de respeitar a diversidade e entender que as diversidades não são para ficar dentro de uma caixinha ou em um discurso. São pessoas que estão aí e não querem ser iguais, mas sim respeitadas nas diferenças.”

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Alves

O que ainda vem por aí


» Sábado

7h30
Bloco Sol na Mão
Rua Castelo de Lisboa, 318, Castelo


9h
Ziriggydum Stardust
Praça Zamenhof, Floresta


12h
Toca Raul!
Av. Olegário Maciel, 474, Centro


13h
Micareteiros
Av. General Olímpio Mourão Filho, 370, Itapoã


Se Endurecer é Seu
Av. Miguel Moyses, 316, Nova Gameleira


14h
Bloco É o Amô
Av. Getúlio Vargas, 820, Savassi


Bloco Uai Sô!
Av. Antônio Abrahão Caram, 996, São José


Unidus do Golo
Rua Formosa, 333, Santa Tereza


Arrepia
Rua Juarez, 117, União


» Domingo

9h
Ressaca de carnaval da Lagoinha
Rua Itapecerica, 324, Lagoinha


9h30
Truperalta (infantil)
Av. Silva Lobo, 1.730, Nova Granada


14h
Minha Mulher Deixa Não
Rua Presidente Costa e Silva, 100, Bairro das Indústrias


15h30
Bloco Swing Safado
Rua Gentios, 1.247, Santa Maria


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