Jornal Estado de Minas

Adolescente de 15 anos morta em Nova Lima já havia sido ameaçada por namorado

feminicídio muitas vezes se anuncia antes mesmo de apresentar sinais de violência contra a mulher. João Vitor Raimundo Silva, de 19 anos, preso na manhã de terça-feira em cumprimento de mandado de prisão temporária, já havia ameaçado a namorada antes de matá-la. É o que apontam as investigações da Polícia Civil sobre o crime que vitimou Micaele da Silva Santos, de 15 anos, que há quatro vivia em um relacionamento abusivo.

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O crime ocorreu na última terça-feira em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os dois eram vizinhos, moradores do Conjunto Habitacional Padre Marcelino. A vítima, que estava internada no Hospital João XXIII em estado gravíssimo, morreu neste domingo.

De acordo com a delegada responsável pelo caso, a prisão foi solicitada após diversos depoimentos de pessoas que estavam próximas ao apartamento do rapaz onde houve o homicídio qualificado. “Foram muitas provas testemunhais, inclusive de testemunha presencial que chegou segundos depois dos disparos – de arma de fogo – e viu João Vitor com a arma do crime na mão”, disse Karina Resende.

Segundo testemunhas que prestaram depoimento, a adolescente – que completaria 16 anos em 29 de novembro – vinha sofrendo constantes ameaças. “Ele era possessivo e ciumento, inclusive já havia ameaçado a adolescente com arma de fogo, mas ela não houve registro policial”, afirmou a delegada.

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A arma utilizada ainda não foi localizada. Durante o processo de reunião dos depoimentos, o acusado preferiu se manter em silêncio e não quis dar sua versão à delegada. Com isso, as investigações não conseguiram apurar o que teria motivado o crime.

A delegada ainda contou que os familiares dele afirmam que os disparos foram acidentais. No boletim de ocorrência, a irmã de João Vitor disse aos militares que o namoro dos dois estava bem e que o irmão estava armado por causa de ameaças de morte que vinha recebendo. Ela não soube dizer quem o ameaçava, mas sustentou ainda que ficou sabendo que ele próprio gritou por socorro, tentou ajudar a adolescente, mas estava “tomado pelo desespero” e saiu correndo. Entretanto, a delegada descartou esta possibilidade pois a testemunha não estava no local e não conseguiu comprovar sua versão.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado em 22 de outubro, quando os policiais militares chegaram ao apartamento, Micaele já havia sido socorrida e o local estava limpo, porém, não se sabe quem apagou os vestígios do crime. Sobre isto, a delegada informou que a perícia esteve no local e deve concluir o laudo em até 30 dias.

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João Victor já tinha passagens policiais por porte ilegal de arma de fogo e ameaça. O crime contra Micaele é investigado como feminicídio consumado. O inquérito pode ser concluído em até 30 dias, mas a delegada acredita que até sexta-feira todas as provas tenham sido reunidas.

Denúncia

A delegada Karina Resende encoraja as mulheres a denunciarem. “Em qualquer sinal de violência contra a mulher, procure a delegacia e faça o registro, faça o uso da Lei Maria da Penha. Se ela tivesse denunciado o desfecho, poderia ter sido diferente”, disse.

Para denunciar qualquer forma de violência doméstica e familiar, seja física, psicológica, sexual, moral ou patrimonial, ligue para 180, na Central de Atendimento à Mulher.
 
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.