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Estado de Minas

O mapa do medo: 13 cidades mineiras vizinhas a represas de rejeitos

Apreensão que tomou conta de quase 400 pessoas retiradas de casa em Itatiaiuçu e Barão de Cocais, na madrugada de ontem, tira o sono de milhares de mineiros


postado em 09/02/2019 06:00 / atualizado em 09/02/2019 08:25

Itatiaiuçu, Barão de Cocais e Brumadinho – O terror vivido com a destruição e o rastro de centenas de mortos que assombrou o Brasil após o estouro da barragem da Vale em Córrego do Feijão, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, espalha o medo entre comunidades vizinhas de diversos empreendimentos minerários estado afora. Nessa sexta-feira, em duas cidades, o temor de que outros reservatórios não estivessem 100% seguros retirou de suas casas quase 400 pessoas, removidas às pressas em operações de emergência coordenadas que envolveram a Defesa Civil e forças de defesa social em Barão de Cocais, na Região Central, e Itatiaiuçu, na Grande BH.

Mas o sentimento de insegurança é muito mais amplo e se espalha por várias regiões de um estado marcado pela mineração, onde milhares de pessoas vivem abaixo de represas nem sempre seguras, de rejeitos ou de água. O Estado de Minas mapeou em mais de 10 cidades empreendimentos que vêm tirando o sono de seus vizinhos, especialmente desde a última catástrofe. Algumas delas somam mais de 20 depósitos de restos de mineração em seus limites. Clique na imagem para ampliar o mapa:

(foto: Onde o tormento tira o sono dos vizinhos de barragens em Minas )
(foto: Onde o tormento tira o sono dos vizinhos de barragens em Minas )



Foi esse temor que se tornou transtorno concreto em Itatiaiuçu, outra cidade que tem a mineração como ponto forte da economia, na Grande BH, onde a madrugada de mais de 50 famílias foi marcada pelo pânico. Moradores da comunidade de Pinheiros receberam a notícia de que precisavam deixar suas casas às pressas, sob o argumento de que um desastre como o que arrasou Córrego do Feijão poderia se repetir. A maioria saiu apenas com a roupa do corpo, temendo que a barragem da Mina Serra Azul, desativada desde 2012, mas armazenando 5,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos, pudesse despejar um novo tsunami de lama sobre suas casas.

De manhã, quando um posto de comando foi montado pela Defesa Civil de Minas Gerais para coordenar as ações de evacuação das famílias, o clima era de desinformação, até que as notícias começaram a chegar com mais clareza. A ArcelorMittal Mineração Brasil informou que a tragédia de Brumadinho gerou uma mudança nas referências do projeto geotécnico da barragem da Mina Serra Azul, e nova avaliação com uma consultoria internacional contratada pela própria empresa apontou mudança de estágio de segurança, de 1 para 2, o que exigia a saída das famílias da mancha de inundação da barragem.

“Estou tendo até febre. A cabeça está doendo, estou tonta, o estômago embrulhando, vontade de ir embora”, contou a dona de casa Joice Maia Ferreira, de 31 anos. “Tem 12 anos que moro aqui e tem 12 anos que vivo com medo. Agora, esse medo aumentou ainda mais. Como vou lidar com isso?”, questionou, antes de saber que sua casa, na verdade, estava fora da área de risco e que ela poderia retornar. “Meus vizinhos do lado tiveram que sair. Mas e o medo de ir com meu menino e acontecer uma tragédia?”, perguntava, insegura.

Mais tarde, o presidente da ArcelorMittal Mineração Brasil, Sebastião Costa Filho, chegou a Itatiaiuçu e garantiu que a saída das pessoas de suas casas era necessária. “As alterações vieram por meio de auditorias externas, que levaram em consideração determinadas circunstâncias que foram aprendidas após o último rompimento, que até então não fazia parte desse contexto. Eles puseram fatos novos para avaliar a segurança de uma barragem de rejeitos”, explicou o executivo.

Essa situação fez com que 54 famílias fossem obrigadas a sair às pressas de seus imóveis em Pinheiros, totalizando cerca de 150 pessoas. “Daqui para a frente, estamos trabalhando com novos parâmetros. Vamos executar uma série de testes na barragem e assim que tivermos a garantia de que ela está 100% segura, de que não existe nenhum risco para a comunidade, retornaremos com as pessoas para suas residências”, disse Costa Filho.

O executivo também enfatizou que todas as preferências da comunidade serão estudadas e garantiu que quem quiser novas casas fora da área de risco será atendido pela Arcelor. “Vamos oferecer toda possibilidade de mudança. O que o residente quer? ‘Eu quero vender meu imóvel. Eu quero trocar meu imóvel, eu quero morar na residência, eu quero ir para outro local...’, essas possibilidades vão ser estudadas. A empresa assume o compromisso de tratar essas pessoas com a dignidade que merecem”, completou.

Prevenção

Os 239 moradores  retirados das imediações da Mina Gongo Soco, da Vale, em Barão de Cocais, e os 150 habitantes de Itatiaiuçu removidos das imediações da barragem da ArcelorMittal, na madrugada de ontem, só poderão retornar às suas casas após a constatação técnica de que as estruturas vizinhas não representam risco. A informação foi dada pelo tenente-coronel Flávio Godinho da Defesa Civil. “Não houve rompimento nessas duas cidades. A medida foi para preservar vidas que ali estão, para que não acontecesse nova tragédia como a de Brumadinho”, afirmou.

Numa escala crescente de 1 a 3 de risco, a barragem da Vale subiu do nível 1 para o nível 2. Segundo Godinho, ao mesmo tempo em que empresa contratada pela mineradora não quis atestar a estabilidade da barragem, técnicos da Agência Nacional de Mineração (ANM) que estiveram em Barão de Cocais se pronunciaram pela evacuação imediata, determinando que se adotasse o nível 2 de atenção.

Já no caso de Itatiaiuçu, a própria ArcelorMittal se antecipou e solicitou a evacuação dos moradores nas imediações da barragem, como forma de prevenção. Não houve, como no caso da Vale, recusa de técnicos de atestarem a estabilidade da barragem da Mina Serra Azul em Itatiaiuçu.

 

 

Resgate em Brumadinho

Na sexta-feira, 15º dia de buscas em Brumadinho, foi o primeiro desde a tragédia em que os bombeiros não conseguiram localizar nenhuma vítima. Com o passar do tempo, as condições do ambiente tornam a tarefa mais difícil, como já havia antecipado o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros. Balanço divulgado pela Defesa Civil no início da noite indicou o mesmo número de óbitos – 157, com 151 identificados – e 165 desaparecidos, dos quais 42 funcionários da Vale e 123 terceirizados e moradores da comunidade.


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