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Estado de Minas

Chuva esperada para fevereiro pode arrastar mais rejeitos até o Rio Paraopeba

Igam pede diques próximos ao local da tragédia, mas Vale não tem prazo para botar plano em prática


postado em 06/02/2019 06:00 / atualizado em 06/02/2019 08:12

A chuva amolece a lama que vazou da barragem e especialistas temem que o volume de precipitação para fevereiro, considerado alto, faça escorrer mais rejeitos em direção ao Rio Paraopeba(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
A chuva amolece a lama que vazou da barragem e especialistas temem que o volume de precipitação para fevereiro, considerado alto, faça escorrer mais rejeitos em direção ao Rio Paraopeba (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)


A instabilidade no tempo é uma preocupação dos órgãos ambientais que fazem o monitoramento do Rio Paraopeba, atingido pela lama de rejeitos que vazou da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH. A previsão é de muita chuva na primeira quinzena de fevereiro. O receio é que o restante do minério que ainda está no reservatório que se rompeu desça e polua ainda mais o manancial. Para o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), barreiras devem ser colocadas mais próximas de onde ocorreu o desastre. A Vale, responsável pelo empreendimento, já instalou três membranas próximo a Pará de Minas, a 75 quilômetros de Brumadinho. A mineradora afirmou que há um plano que prevê a construção de diques no entorno da estrutura colapsada, porém ainda não informou a data de sua construção. 

Análises estão sendo feitas com amostras coletadas no Rio Paraopeba entre os dias 26, dia seguinte à tragédia, até 2 de fevereiro. Foram encontrados valores até 21 vezes acima do aceitável de chumbo total e mercúrio total. Também foi constatada a presença de níquel, cádmio e zinco. Diante dessa situação, o governo de Minas desaconselha o uso da água para qualquer finalidade até que a situação esteja normalizada. A recomendação vale desde a confluência do Rio Paraopeba com o Córrego Ferro-Carvão até Pará de Minas.

De acordo com a diretora-geral do Igam, Marília Melo, alguns dos materiais identificados nos primeiros dias após o desastre diminuíram e viraram sedimentos. “Alguns parâmetros identificamos nos primeiros dias, e depois não mais. Somente chumbo e mercúrio detectamos até 2 de fevereiro, último dia de análise”, afirmou. Um estudo está sendo feito para detectar o material que foi carreado durante o rompimento. “Tem uma caracterização do rejeito. Diferente de Mariana, onde desceu só rejeito, (em Brumadinho) a lama passou em todo o espaço de produção, na área de beneficiamento, no estoque, na oficina. Então, o rejeito varreu junto”, completou. 

A preocupação dos órgãos ambientais é com a chuva que pode atingir Brumadinho nos próximos 10 dias. “Estávamos com a atuação de uma massa de ar quente e seco. No domingo, teve a chegada de uma frente fria no litoral do Sudeste, o que deixa o tempo instável. Teremos a maior condição de ter chuva todos os dias nesta semana. Principalmente no fim da tarde e início da noite, com características de pancadas rápidas”, afirmou o meteorologista Kleber Souza, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “Os modelos indicam que até 15 de fevereiro temos condições de chuva”, finalizou. 

ENXURRADA DE REJEITOS A preocupação com a instabilidade no tempo se deve à possibilidade de rejeitos que ainda estão na região do reservatório que se rompeu alcancem o Rio Paraopeba. “Já choveu muito na região (segunda-feira) e temos previsão de chuva nos próximos dias. Não podemos deixar que mais rejeitos cheguem ao rio. Isso é uma preocupação dos órgãos ambientais”, diz Marília Melo. “A empresa já começou a montar barreiras perto de Pará de Minas. Hoje, o que importa, são barreiras mais próximas à barragem e ao rejeito”, completou a diretora-geral do Igam. 

Por meio de nota, a Vale afirmou que estabeleceu um plano de monitoramento da qualidade de água, sedimentos e biota aquática a partir de coletas diárias de amostras em 46 pontos nas bacias dos rios Paraopeba e São Francisco. Os resultados estão sendo compartilhados, segundo a mineradora, com os órgãos competentes. “A empresa apresentou ao Ministério Público e aos órgãos ambientais, no último dia 30, o plano conceitual para conter os rejeitos que vazaram da barragem B1, com atuação em três trechos, onde serão realizadas diferentes medidas de contenção e recuperação. Serão realizadas diferentes ações, conforme as características do curso d'água e o do material presente no rio”, explicou. 

Entre as ações, segundo a Vale, está “a construção de diques no entorno da estrutura rompida; a dragagem de sedimentos mais grossos e pesados, que serão recolhidos e dispostos em locais adequados; e a instalação de barreiras de retenção ao longo do Rio Paraopeba”. Não foi informado pela empresa a data de início das medidas. 

Obstáculos artificiais no caminho 


A terceira membrana de contenção instalada no Rio Paraopeba a fim de proteger o sistema de captação de água de Pará de Minas entrou em operação ontem. Outras duas barreiras foram colocadas no último fim de semana. A iniciativa é uma medida preventiva e faz parte do plano apresentado pela empresa mineradora Vale ao Ministério Público e aos órgãos ambientais. Esse plano promete garantir o abastecimento contínuo da região de Pará de Minas.
A barreira de contenção instalada tem 50 metros de comprimento e profundidade de dois a três metros. A estrutura funciona como um tecido filtrante, evitando a dispersão das partículas sólidas (argila, silte, matéria orgânica etc.) que provocam a turbidez da água e alteram sua transparência. 

Para manter a verticalidade das cortinas antiturbidez há correntes metálicas na borda inferior (na parte imersa), onde são acoplados pesos, não permitindo que o fluxo do rio faça a cortina subir até a superfície da água. Já o elemento flutuante utilizado é uma boia cilíndrica, que pode ser utilizada para conter o avanço de elementos suspensos na água.

MONITORAMENTO Equipes da Fundação SOS Mata Atlântica percorrem o Rio Paraopeba para fazer análises da água. A entidade afirma que já fez o monitoramento em 11 diferentes pontos. A instituição informou que “a maioria deles possui água com condição péssima”. Uma das verificações foi feita depois das barreiras instaladas pela Vale. O resultado não foi positivo. 

“Para analisar a efetividade das membranas instaladas pela Vale, que têm como objetivo conter os rejeitos, a equipe da ONG realizou medições antes e depois das barreiras. No primeiro ponto, onde o rio possui intensa corrente – trecho mais largo até agora –,o índice de oxigênio chegou a 3mg/l e a turbidez a 683,8 NTU (sigla em inglês para a unidade matemática Nefelométrica de Turbidez, que verifica quantidade de partículas sólidas em suspensão, o que impede a passagem da luz e a fotossíntese, causando a morte da vida aquática). Essa turbidez equivale a seis vezes mais que o indicado pela legislação ambiental”, afirmou. 


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