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Estado de Minas

Comunidade de Brumadinho vive de angústia e orações

A reportagem do Estado de Minas acompanhou o primeiro dia de buscas pós-tragédia humana e ambiental


postado em 27/01/2019 05:08 / atualizado em 27/01/2019 07:57

 Médicos tiveram de socorrer pessoas que desmaiaram depois que equipes de resgate divulgaram lista com os nomes de algumas pessoas desaparecidas na tragédia(foto: fotos: renan damasceno/em/d.a press)
Médicos tiveram de socorrer pessoas que desmaiaram depois que equipes de resgate divulgaram lista com os nomes de algumas pessoas desaparecidas na tragédia (foto: fotos: renan damasceno/em/d.a press)

Brumadinho – Meio-dia, centro de apoio às famílias em Brumadinho. Depois do impacto da notícia do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, no início da tarde de sexta-feira, os familiares de desaparecidos aguardam a lista das pessoas que não responderam aos contatos das autoridades e da Vale, empresa responsável pela mina. A angústia, estampada no semblante de cada mãe, pai e irmão, aumentou quando um funcionário da empresa avisou que o horário da divulgação não seria cumprido – um princípio de confusão se formou.


Com duas horas de atraso, as autoridades, enfim, divulgaram as listas. A partir daí, a comoção tomou conta do espaço improvisado no Centro do município. Várias famílias confirmaram o desaparecimento de seus parentes e precisaram ser abraçadas por uma corrente de voluntários. Médicos cuidavam das pessoas que constantemente passavam mal, psicólogos atendiam em outro espaço e até defensores públicos auxiliavam em questões jurídicas.

A alguns quilômetros dali, no vilarejo do Córrego de Barro, uma família consternada também aguardava pela lista e por notícias na casa de dona Conceição, de 84 anos. Ela não tinha informações sobre três netos, sobre o marido de uma das netas, além de outros dois parentes. “E eu pensando que seria a minha hora...”, disse Conceição, lamentando as ausências.

Maria Aparecida Almeida Rocha, uma das filhas de Conceição, esperava algum sinal do filho, o geólogo Luciano Almeida Rocha, de 39 anos, e do genro, André Luiz dos Santos, de 34. “É um vale de lágrimas”, lamentava, ao lado do marido, Adair Mendes Rocha.

Na casa, os primos se revezam no telefone em busca de alguma informação, de algum destino. “Desde as 12h30 (de sexta) até agora, só angústia. Só tristeza. Até agora, notícia nenhuma. Só pelo telefone. Um fala uma coisa, outro põe outra. Fala que estava no hospital, no João XXIII, depois em Sarzedo, no Mater Dei de Betim, procuramos e nada”.

Além da tragédia humana, os reflexos ambientais também causam angústia nos moradores, especialmente aos que estão na beira do Rio Paraopeba. O aposentado José Moreira, de 61 anos, expressou preocupação com contaminação e possíveis enchentes. “A gente já espera as contaminações que vão vir pela frente. Os pés de goiaba acabaram, os peixes todos acabaram. Não existe mais peixe no Rio Paraopeba. Agora, o futuro que vai dizer. A sensação é de destruição”, lamentou. “Esse barulho que estamos ouvindo agora, desde o rompimento, só aparecia quando estava chovendo, porque aí o Rio Paraopeba sobe. Meu medo agora é dar enchente, porque vai assorear o rio. Com essa lama, vai gerar doenças, principalmente as de rato, que são as mais perigosas”, complementou o fazendeiro, preocupado com o futuro.

TERÇOS E ORAÇÕES
No meio de um turbilhão de emoções, a voluntária Simone Esteves tentava consolar uma das dezenas de famílias que se juntaram desde sexta-feira no centro de apoio, montado próximo à Unidade de Pronto Atendimento de Brumadinho. Ao saber do desastre do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, ela, Laura e Juliano Colombini (pai e filha) saíram de Nova Lima para consolar espiritualmente as vítimas.

“Num momento desses, eles estão entregues a um abraço, a uma palavra de conforto, oração. Eles querem apenas abraçar e chorar, desabar em lágrimas”, conta Simone. Os três fazem parte da Pastoral da Acolhida da comunidade do Bom Jesus do Vale.

Ter fé na vida é a rotina de quem espera desde sexta-feira a atualização da lista de desaparecidos. A cada nova lista, pais, mães, esposas, filhos, saem em prantos. Alguns desmaiam, outros tentam recobrar o fôlego nas cadeiras, consolados por voluntários identificados por uma placa improvisada de “Posso ajudar?”. Camisas escrito “Fé” e terços nas mãos estão por todos os lados.

Antes de servir o almoço, um dos voluntários organizou um círculo e, de mãos dadas, rezaram o pai nosso e uma Ave-Maria. “Que nós não percamos nossa fé”, disse, ao encerrar a oração. No salão barulhento e com grande fluxo de pessoas, as famílias experimentaram um raro momento de silêncio, paz e conforto.


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