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Estado de Minas

Cidades que registraram mortes por febre amarela intensificam vacinação

Durante o fim de semana, unidades de saúde estão abertas em Mariana, Nova Lima e Mar de Espanha. Mesmo sem casos, BH fará campanha na próxima semana


postado em 13/01/2018 06:00 / atualizado em 13/01/2018 08:14

Posto no Alphaville, em Nova Lima, cidade com mais óbitos por febre amarela: clima de apreensão (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Posto no Alphaville, em Nova Lima, cidade com mais óbitos por febre amarela: clima de apreensão (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) estarão de portas abertas no fim de semana para o combate à febre amarela em pelo menos três cidades mineiras onde houve mortes pela doença: Mariana, Nova Lima e Mar de Espanha. O avanço da doença em Minas Gerais – onde 12 casos foram confirmados, dos quais 10 pessoas morreram – está levando municípios a intensificarem a campanha de vacinação em busca de pessoas que ainda não se imunizaram. Em Nova Lima, na Grande BH, cidade com o maior número de óbitos pela enfermidade, longas filas se formaram ontem nos postos. O clima era de medo e preocupação.

Muitos moradores ainda têm dúvidas, especialmente sobre a faixa etária para a qual a vacina é recomendado e as doses necessárias, já que somente desde abril do ano passado o Brasil passou a adotar o protocolo da Organização Municipal de Saúde (OMS), que considera ser necessária apenas uma para a imunização. Em Mariana, na Região Central, médicos estão visitando casas nas áreas rurais para avaliar idosos e verificar se estão aptos para ser vacinados. A norma exige exame prévio e prescrição médica para imunização de pessoas com mais de 60 anos.

Ontem, a corrida aos postos de Nova Lima começou ainda de manhã. No Bairro Alphaville, um posto foi instalado, porém, vários moradores voltaram pra casa, pois já haviam se vacinado em anos anteriores. Muitos ainda desconfiam da eficácia da dose única ao longo da vida e reclamaram de não ter sido vacinados novamente. É o caso do engenheiro Felipe Xavier, de 32 anos. Ele contou que se vacinou aos 4 anos, mas teme estar desprotegido. “A gente fica inseguro se precisa ou não tomar outra dose. E não sabemos se isso é um direcionamento político, por causa do racionamento da vacina, por uma questão de economia”, disse o engenheiro.

Outra dúvida comum é sobre a faixa etária. A vacinação está disponível para pessoas com idades entre  9 meses e 59 anos. Gestantes, mulheres que amamentam crianças menores de seis meses e pessoas com mais 60 anos, devem buscar avaliação de um profissional de saúde. Pessoas que vão viajar para áreas onde está recomendada a imunização, devem tomar a dose 10 dias antes.

Muitas pessoas que procuraram os postos em Nova Lima tiveram que voltar para casa por não se encaixarem na faixa etária. “As informações estão um pouco desencontradas. O meu pai, por exemplo, veio aqui e disseram que só pode vacinar quem tem laudo médico. A sensação é de que ninguém está sabendo muito bem o que fazer”, reclamou Xavier.

APREENSÃO O clima de medo e apreensão é maior nos bairros onde houve confirmação de moradores infectados pela doença, como o Galo, Honório Bicalho e Santa Rita.  “Estamos todos apreensivos por causa da última morte. As crianças da cidade estão morrendo de medo, porque só se fala disso na cidade. Minha sobrinha, de 9,  disse:  ‘Olhe o meu cartão, se eu preciso de vacinar’. Mas, a prefeitura está ligando para todos para conferir os cartões de vacina”, contou a dona de casa Selma de Freitas, de 58.

Na tentativa de bloquear o avanço da doença na cidade, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos bairros Cascalho, Galo, Honório Bicalho, Macacos e Santa Rita estarão abertos para vacinação neste sábado. Outro ponto será a Região do Alphaville, na Base Operacional de Segurança e Saúde.

A vacina é indicada para quem tem de 9 meses a 59 anos(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
A vacina é indicada para quem tem de 9 meses a 59 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

BUSCA ATIVA Depois de registrar a morte de dois moradores acima de 60 anos, faixa etária que deve procurar orientação médica antes de se vacinar contra a febre amarela, a Prefeitura de Mariana montou uma estratégia para imunizar os idosos. Médicos estão visitando casas para fazer a avaliação dos moradores desta faixa etária. “Precisamos do médico porque quem tem acima de 60 anos só pode ser vacinado com consulta. Assim, conseguimos ampliar mais ainda (a vacinação)”, explica o secretário Municipal de Saúde, Danilo Brito. As equipes percorreram as comunidades de Águas Claras, Cláudio Manoel, Monsenhor Horta, Cachoeira do Brumado e seus subdistritos. Segundo a prefeitura, atualmente, 96% da população da cidade está imunizada.

Já neste fim de semana, haverá campanha de vacinação para os moradores em dois locais: na Central de Vacinação de Mariana, na Rua Santa Cruz, e no Programa Saúde da Família (PSF) Cabanas, no bairro de mesmo nome. No sábado, a vacinação será das 7h às 16h. No domingo, das 7h ao meio-dia. Caso seja necessário, a campanha pode ser realizada novamente no próximo fim de semana.

CAPITAL Mesmo sem registrar nenhum caso de febre amarela, a apreensão paira sobre Belo Horizonte. A vacinação está sendo reforçada no posto do Bairro Etelvina Carneiro, na Região Norte, depois que um macaco foi encontrado morto na região. Os primatas servem de sentinela da circulação do vírus da doença. Profissionais da equipe de Controle de Zoonoses recolheram o corpo do animal e o encaminharam para análise em laboratório. As causas da morte ainda são indefinidas.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), Belo Horizonte também vai intensificar a vacinação contra a febre amarela. No próximo fim de semana, postos de saúde vão ficar abertos para receber os moradores. A cobertura vacinal na capital mineira está em 83%. O ideal é que esse valor chegue a 95%.

O rápido avanço da doença surpreendeu a família, conta Thiago, primo de um serralheiro que morreu com sintomas da febre amarela(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
O rápido avanço da doença surpreendeu a família, conta Thiago, primo de um serralheiro que morreu com sintomas da febre amarela (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

'É preciso alertar a população'


“A família está completamente no chão. A gente acha que não acontece com entre a gente, mas acontece sim. É preciso alertar a população”, disse, abalado, Thiago Cassimiro de Oliveira, de 25 anos, primo do serralheiro Euler Teles Souza, cujo corpo foi velado ontem no Cemitério Parque Municipal, em Nova Lima. A suspeita é de que Euler, que tinha 41 anos, tenha morrido de febre amarela, mas os testes ainda não estão prontos. Ele faleceu na manhã de quinta-feira no Hospital Eduardo de Menezes. Os familiares vivem momentos de tristeza e de medo da doença – que tirou a vida de Euler em menos de uma semana. O homem não era vacinado contra a enfermidade.

“Ele começou a ter sintomas na última sexta-feira à noite: dores no corpo e em cima dos olhos. No sábado, continuou passando mal e foi para a UPA de Nova Lima. Lá, eles suspeitaram que fosse dengue, mas o liberaram para voltar para casa e tomar soro. A partir daí, ele começou a piorar. No domingo, voltou para a UPA. Ele vomitou um pouco de sangue e a preocupação aumentou”, contou Thiago. Na terça-feira de manhã, minha prima decidiu levá-lo para o hospital de Nova Lima, onde foram feitos exames de sangue”, contou.

A suspeita de febre amarela ficou mais evidente e, no mesmo dia, o paciente foi transferido para Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte. “Tudo foi muito rápido. Quando chegamos lá, ficamos aguardando uma vaga no CTI. Ele ainda estava conversando, um pouco aéreo por causa da febre mas entendendo tudo que eu falava para ele. Quando fui visitá-lo quarta feira de manhã, ele já estava completamente inconsciente. Estava apagado. Então os médicos entubaram. Na quinta de manhã, às 11h30, ele faleceu”, lamentou.

A família acredita que Euler tenha contraído a doença durante o ano-novo, quando passou as festas em um sítio no Bairro Jardim de Petrópolis, também em Nova Lima. Segundo a família, Euler não havia se vacinado. O homem trabalhava como serralheiro e morava com a mãe e o irmão. Não era casado e não tinha filhos. “Aparentemente, um homem muito saudável. Mas, começou a desenvolver diabetes e não se tratava. Ele também teve gordura no fígado tempos atrás, o que o prejudicou. Foi o órgão mais afetado pela doença”, disse o primo. Segundo ele, o serralheiro era um homem “muito ativo.” “Ele gostava de viver o momento,  um dia atrás do outro”, contou. (LR)


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