
O jovem de 26 anos escreve versos com reflexões sobre o cotidiano à caneta em lixeiras, principalmente no Hipercentro, e virou alvo de investigação da PBH. Ele foi denunciado à Polícia Civil e vai participar de uma audiência no início de outubro. Kalil afirma que vai investigar o caso e não descarta formular projeto ao lado do artista. “Não se pode confundir baderneiro com artista. Por que processou? Vamos lá na procuradoria ver o que aconteceu. Fiquei sabendo disso, mas agora a gente tem que resolver. Se for um projeto para poesia na lixeira, a gente vai tirar o que está na lixeira e padronizar. Teríamos que fazer um projeto com qual tipo de tinta, se serão uma estrofe ou duas estrofes, o que pode escrever e o que não pode”, pontua o prefeito. Kalil enalteceu o trabalho das ruas e esquentou a discussão entre pichação e grafite.
“Isso é cultural. O grafite é cultura de rua. É feito por artistas renomados e enfeita a cidade. Não é pichação e nem vem me falar que pichação é arte porque isso eu não engulo. É mais um passo pra transformar esta cidade e elevar a autoestima do belo-horizontino. Aqui já é uma cidade bonita, alegre, acolhedora”, afirma o prefeito. Kalil avalia que a linha que separa a cultura de rua e o vandalismo é muito tênue: “Precisamos ter essa clareza, porque o que é arte é arte.”

Nilo Zack, que divide a tela com Hely Costa, afirma que é justamente a fiscalização que tem inibido o trabalho dos artistas de rua. “A burocracia inibe os artistas de rua bem como a falta de autorização. Esta é a primeira vez que faço com essa autorização em 12 anos. Conseguimos o aval e estamos pintando com o nosso material para dar um presente para Belo Horizonte. Acreditamos que é uma forma de abrir portas para outros artistas de rua”, disse Nilo. Para ter o projeto aprovado, os artistas tiveram que apresentar um desenho do grafite, que foi avaliado pela diretoria de Patrimônio, da Secretaria de Regulação Urbana e da BHTrans."Isso é cultural. O grafite é cultura de rua. É feito por artistas renomados e enfeita a cidade. Não é pichação e nem vem me falar que pichação é arte porque isso eu não engulo"
Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte
NOVO MURO Em fevereiro deste ano, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), anunciou o projeto Profeta Gentileza, que visa incentivar a arte urbana na capital mineira. Para começar com o projeto, duas intervenções: no Viaduto Moçambique, na Avenida Antônio Carlos, Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste, e na Rua Silvianópolis, Bairro Santa Tereza, na Região Leste. O grafite promete “desacinzentar” o concreto que passa desapercebido pelos moradores da cidade. Os desenhos, feitos por Nilo Zack, Hely Costa e Ataíde Miranda vão ocupar 200 metros quadrados – 50m de comprimento por 4m de altura. Os trabalhos começaram no último sábado e a previsão é de terminá-lo em no máximo 15 dias. Na tarde de ontem, já era possível visualizar o projeto do papel na tela a céu aberto: um garoto negro, com olhos que acompanham quem passa pelo local, uma criança maquiada de palhaça e figuras que representam as cores das tribos de Moçambique.

ABAIXO-ASSINADO Belo-horizontinos criaram um abaixo-assinado on-line contra o processo da Prefeitura de BH em relação a Felipe Arco. Na página, apoiadores chamam de “perseguição” o processo contra o artista e pontuam que o ele “espalha amor e gentileza pelas lixeiras da cidade em forma de poesia”. Até o fechamento desta edição na noite de ontem, 64 pessoas já tinham assinado a petição.

Mirante de arte
Há quase dois meses, Belo Horizonte recebeu a primeira edição do Circuito Urbano de Arte (Cura). Quatro prédios, no Centro da capital mineira, foram mapeados a partir da vista da Rua Sapucaí, no Bairro Floresta, Região Leste da cidade, que se tornou um mirante de artes urbanas a céu aberto. O projeto Cura trouxe dois artistas de Belo Horizonte: Thiago Mazza e Priscila Amoni, a equipe do Acidum Project, de Fortaleza, formada por Tereza Dequinta e Robézio Marqs;e a artista espanhola Marina Capdevilla. Um dos desenhos mais comentados é o da Raposa e do Galo, de Thiago Mazza, que
mexe comapaixão dos belo-horizontinos pelo futebol.
