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Estado de Minas

Relatos revelam o homem por trás do porta-voz de espíritos

Pessoas que privaram da intimidade de Chico Xavier dão testemunho do humor com que tratava as próprias limitações, do rigor com a doutrina espírita e de manifestações que assombraram o mundo


postado em 25/06/2017 10:56 / atualizado em 25/06/2017 17:35

Um dos poucos a psicografar com Chico, o dentista e médium Carlos Bacelli foi coautor de 10 livros: 'Hoje, com o discernimento que tenho, não ousaria'(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Um dos poucos a psicografar com Chico, o dentista e médium Carlos Bacelli foi coautor de 10 livros: 'Hoje, com o discernimento que tenho, não ousaria' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O dentista e médium Carlos Baccelli, de 64 anos, começou a psicografrar com Chico Xavier ainda adolescente, aos 17 anos. “Foi um atrevimento da minha parte. Se fosse hoje, com o discernimento que tenho, não ousaria psicografar ao lado dele”, avalia, acreditando que lhe tenha faltado autocrítica. Baccelli e Valdo Vieira foram os únicos médiuns que psicografaram com Chico. O primeiro foi coautor de 10 livros; o segundo, de 17. Depois, Valdo, que morreu em 2015, deixou o espiritismo na década de 1960 para fundar o que ele classificou como conscienciologia e projeciologia.

Biógrafos relatam que Chico tinha todas as faculdades mediúnicas classificadas por Alan Kardec no Livro dos médiuns. Entre elas, contabilizam a manifestação de efeitos físicos (materialização), o fato de que era sensitivo (sentia a presença de espíritos), audiente (ouvia), falante (os espíritos falavam por meio dele) e vidente (via espíritos), além, é claro, de psicografar.

Nessa seara na qual se tornou mais conhecido, começou aos 17 anos, mas por três anos promoveu as chamadas sessões de materialização. A última da qual participou como médium de efeitos físicos contou, segundo presentes, com a presença de Emmanuel, seu mentor espiritual. Testemunhas dos efeitos mediúnicos garantem que o mentor, visível a todos os que se encontravam na sala, proibiu Chico de continuar com a atividade.

“Meus irmãos, o médium Xavier, a partir desta data, está proibido de se dedicar a estas reuniões de materialização, porque, se a materialização dos espíritos pode deslumbrar uns poucos olhos ou mesmo curar uns poucos corpos físicos doentes, somente a tarefa do livro é semelhante à chuva que fertiliza o campo imenso das multidões, desesperadas e aflitas, sedentas da água viva do amor que o evangelho de Jesus preconiza”, disse Emannuel, segundo testemunhos de presentes na ocasião à casa de Chico, em Pedro Leopoldo, na Grande BH.

Entre os que participaram dessa sessão estava José Martins Peralva, presidente da União Espírita Mineira, desencarnado em setembro de 2007. Sergipano, Peralva mudou-se para Belo Horizonte em 1949 por indicação médica, com diagnóstico de tuberculose. Na época, o clima da cidade era considerado ideal para tratar doenças respiratórias. Em uma das sessões de materialização ele foi curado, fato atestado por médicos e radiografias após o encontro mediúnico, de acordo com seguidores de Chico Xavier.

Geraldo Lemos Neto, presidente da Fundação Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, relata fenômeno mediúnico: cartas selecionadas por psicometria (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Geraldo Lemos Neto, presidente da Fundação Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, relata fenômeno mediúnico: cartas selecionadas por psicometria (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

FENÔMENO Psicometria era outra das manifestações do potencial mediúnico de Chico, segundo Geraldo Lemos Neto, o Geraldinho, presidente da fundação que leva o nome do líder espiritual, com sede em Pedro Leopoldo. Ele conta que presenciou o fenômeno ao ajudá-lo a responder a milhares de cartas que recebia – em média mil por semana. Segundo Geraldinho, o médium não precisava abrir os envelopes para saber seu conteúdo.

“Ele passava as mãos sobre as cartas e comentava: ‘Olha, Geraldinho, esta pessoa está vivendo isso’. E eu perguntava: ‘Como você sabe? Você não abriu a carta!’”, conta o amigo de Chico. O líder espiritual explicava então que, ao tocar o envelope tinha a capacidade de entrar no universo mental da pessoa que escrevera. “Óbvio que ele não conseguia responder a todas as cartas, mas as selecionava pela psicometria e fazia questão de ele próprio endereçar o envelope, que continha livros ou uma caixinha com mensagens”, relata Geraldinho.

HUMOR E SEXUALIDADE Geraldinho também conta que, apesar das dificuldades que enfrentou – entre elas a orfandade, campanhas de difamação, problemas graves de saúde –, Chico nunca fez drama sobre sua condição. “Ele às vezes nos fazia rir, contando alguma dificuldade. Mas isso não quer dizer que ele não sofresse ou sentisse dor”, testemunha.

Que não se pense também, adverte Geraldinho, que Chico fosse desprovido de severidade com quem ultrapassasse os limites. “Quando recebia críticas sobre sua figura, as vestimentas que usava, nada disso importava. Mas quando o assunto era colocar em risco o caminhar da doutrina espírita, dentro da ética do evangelho de Jesus, aí ele tomava decisões radiciais”, assevera o admirador. “Valdo Vieira, ele nunca mais recebeu”, exemplifica Geraldinho, em referência ao médium que abandonou o espiritismo.

O amigo de Chico Xavier também lembra que, na década de 80, um jornalista perguntou ao médium se ele era homossexual. “Sou, mas não pratico”, respondeu. Carlos Baccelli, emendou: “Quando Chico diz sim, não está dizendo que fosse, mas que todos nós possuímos essa diversidade. O espírito não tem sexo. Mas, quando os espíritos dizem a Kardec que o espírito não tem sexo, não significa dizer que são assexuados.” Para Baccelli, porém, essa especulação não acrescenta nada ao legado de Chico Xavier ou às pessoas que indagam sobre isso. “Isso é pertinente à individualidade de cada um.”

Diante do jazigo, Maria do Carmo Campos repete gesto de Chico: 'Trocamos ideias'(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Diante do jazigo, Maria do Carmo Campos repete gesto de Chico: 'Trocamos ideias' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Diálogos com o mestre

Quarta-feira, 21 de junho, por volta das 11h. Em frente ao jazigo onde o corpo de Chico Xavier foi enterrado, no Cemitério São João Batista, no fim da Avenida da Saudade, em Uberaba, Maria do Carmo de Oliveira Campos, de 76 anos, repete diante do busto do líder espiritual o gesto que o médium fazia quando psicografava, repousando uma das mãos sobre o rosto.

“O que isso quer dizer? A senhora conversa com ele?”, perguntamos. “Sim, troco ideias”, responde ela, que se declara católica. “Tinha uma osteoporose que estava começando a me impedir de andar. Há oito meses venho aqui toda quarta-feira. Até quando? Até quando Deus quiser. Por quê? Porque Chico fez um milagre para mim”, conta ela, testemunhando a melhora de suas condições de saúde desde que adotou a rotina de “papear” com o médium.


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