
Ao mesmo tempo em que se destaca como o grande desafio, a educação infantil é também um dos grandes avanços, segundo a secretária Municipal de Educação, Sueli Baliza. Desde 2009, o município passou de 40 para 130 Umeis. Atualmente, são 65 mil vagas disponíveis e 63,6 mil alunos matriculados. Cada uma das Umeis construídas nos últimos sete anos tem capacidade para 440 crianças.
Mas as cadeiras vazias estão imersas em um processo de judicialização que envolve a luta de vários pais e mães por uma vaga para crianças de até 3 anos de idade. O Plano Nacional de Educação (PNE) instituiu a obrigatoriedade da pré-escola a partir deste ano para todos os pequenos com 4 anos. Em BH, a universalização para essa faixa etária ocorreu já em 2016. “A creche demanda espaços especiais, como é o caso do berçário. E, quando estamos implantando um processo de universalização, não podemos ocupar todos os espaços das Umeis com algo que ainda não é obrigatório. Temos que finalizar esse processo das matrículas da pré-escola para, de fato, poder acolher outras crianças”, afirma a secretária.

PRESSÃO O diretor de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH (Sind Rede), o professor alfabetizador Wanderson Rocha, vê um ponto negativo dessa pressão: “Traz uma sobrecarga para os professores e, mais adiante, o ensino pode ter perda de qualidade. Primeiro, lutamos para ampliar o número de escolas para atender à demanda. Mas nesse caso é preciso fazer um mapeamento para ver de onde partem essas solicitações para não sobrecarregar ninguém. O que tem ocorrido é uma concentração em determinadas unidades, já que a decisão já vem com a indicação de onde a criança será matriculada”, ressalta.
O professor defende ainda mais transparência no sorteio de vagas, que são garantidas, primeiramente, para famílias em vulnerabilidade social. “Assim, força-se a um situação em que alguns têm mais direito que outros, quando isso deveria ser igual”, salienta. O sindicato pede ainda clareza no sorteio e na divulgação das inscrições. E espera conversar também com a nova gestão para implantar, no ensino infantil, a progressão de carreira, a exemplo do nível fundamental.
A desempregada Trielly Cristiana Balbino Pereira, de 27 anos, tentou vaga em três Umeis próximas à sua casa por três vezes, sem sucesso, para a filha Danielle, de 3 anos e 5 meses, e para o filho Arthur, de 1 ano e 9 meses. Sem escola, o jeito foi largar o emprego de vendedora em um shopping para cuidar das crianças. A família se mudou da casa onde morava para um imóvel da mãe de Trielly, para economizar com aluguel e, assim, garantir o bem-estar da família apenas com o salário do marido.

Em 2014, a menina ficou na posição de número 26 na lista de espera e, ano passado, o número ultrapassou 200. Em casa, ela tenta suprir a falta da escola com livros de histórias.“Percebo que crianças da mesma idade são mais comunicativas e têm desenvolvimento melhor. Estar com outras crianças é importante até para a melhoria da alimentação. Na escola, a criança tem ritmo e hora para tudo e até já sabe as primeiras letras. Ela sempre me pergunta quando vai para a escolinha”, conta.
IDEB O ensino fundamental também enfrenta seus problemas, como mostram os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2015. Em uma escala de zero a 10, BH teve nota 6,1 nas séries iniciais (1º ao 5º ano) e 4,8 nos anos finais (6º ao 9º). O resultado é considerado o melhor entre as capitais do Sudeste. A média brasileira para os alunos até a 5ª série foi de 5,5, um pouco acima da média estipulada (5,2). Na etapa final do nível fundamental, os estudantes belo-horizontinos tiveram índice de 4,8, um décimo abaixo da meta. Mesmo não cumprindo o mínimo esperado, Sueli Baliza comemora a evolução nos últimos três anos, quando o desempenho da rede municipal passou de 4,5 para 4,8. “O desafio é continuar aumentando”, afirma.
Ela credita o crescimento ao trabalho de formação interdisciplinar dos profissionais. Mas se nos anos iniciais BH se destaca, nos finais, há níveis baixíssimos na avaliação no ensino médio. Sueli Baliza atribui a diferença ao ciclo de vida dos estudantes. “Quando a criança é menor, tem a participação mais enfática da família. Os adolescentes e pré-adolescentes passam a ser despertados por outras questões”, diz. “Por isso, é importante a escola se aproximar cada vez mais do mundo do aluno lá fora, exigindo decorar menos e entender mais, oferecer novas tecnologias, criar um processo mais interativo.”

