
A doutoranda Aline Nunes, do Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG, trabalhou com boletins da Agência Nacional de Águas (ANA) de 1965 a 2015. Foram analisados dados públicos das estações pluviométricas da capital dos últimos 50 anos, para o levantamento sobre a ocorrência de chuvas na capital. A pesquisadora identificou estabilidade no volume de chuva durante o ano, cuja média é 1,5 mil milímetros, mas mudança na distribuição ao longo dos meses. “Os anos de 2014 e 2015 foram atípicos, com menos de 1 mil milímetros, cerca de 800mm. Mas é um efeito cíclico natural”, ponderou. O trabalho identificou a tendência de mudança no número e na intensidade de eventos sob a forma de temporais. “Observamos uma tendência de aumento de dias secos, o que indica que as chuvas estão se concentrando em menos dias”, afirma. A próxima etapa da pesquisa buscará estimar quão intensos serão os temporais.
Para o professor Márcio Baptista, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, que orientou a pesquisa, as descobertas apontam para a necessidade de o poder público rever os sistemas de drenagem da capital. Falhas nesse complexo resultam em inundações e nos transtornos que elas causam à população. “As estruturas da microdrenagem (como bueiros e canalizações) e macrodrenagem (tratamento de cursos d’água) devem ser dimensionadas de acordo com o padrão de chuvas”, afirma ele. No entanto, o especialista lembra que muitas dessas estruturas foram construídas na capital na década de 1960, como é o caso da canalização do Córrego do Leitão.
Os cálculos para projetar essas estruturas deveriam considerar a frequência de eventos extremos. Enchentes de diferentes magnitudes podem ocorrer a cada 50 anos, por exemplo. No entanto, com a mudança do regime pluvial, a distribuição dessas ocorrências extremas também muda, o que demanda repensar os sistemas de drenagem e obras de engenharia, como a criação de bacias de detenção e outras medidas compensatórias. O pesquisador não descarta nem mesmo a descanalização de cursos d’água. “É uma tendência mundial, que foi adotada em rios de países da Europa e da Coreia do Sul”, afirma. Segundo ele, é uma alternativa possível, apesar dos problemas sanitários de Belo Horizonte e de outras cidades brasileiras, além de requerer investimentos pesados. “Em Seul (capital da Coreia do Sul), descanalizaram um rio comparável ao Arrudas, sobre o qual havia uma grande avenida”, exemplificou.
Os pesquisadores afirmam que o estudo indica que a cidade precisa se preparar para lidar com mais frequência com chuvas como a de domingo. “O que não pode é a cidade não ter como se recuperar em tempo rápido depois de eventos como esse”, afirma Aline Nunes. Para Márcio Baptista, os dados servem de alerta para que autoridades revejam políticas públicas para lidar com situações do tipo. “É importante para a Defesa Civil pensar estratégias de ação”, alerta.
PANCADAS Neste ano, o período chuvoso na capital mineira tem maior probabilidade de começar entre os últimos 10 dias de outubro e o início de novembro, de acordo com o Instituto TempoClima/PUC Minas. Os meteorologistas alertam para a possibilidade de pancadas de chuva rápidas, de forte intensidade e curta duração.
As tempestades no fim da tarde ou início da noite são mais comuns na primavera, que começou dia 22. De acordo com o serviço, elas ocorrem devido ao aumento do calor e da umidade, que se intensificam gradativamente no decorrer da estação. Os meteorologistas alertam ainda para a ocorrência de raios, fortes rajadas de vento e queda de granizo.
Neste ano, a primavera, que termina em 21 de dezembro, deve ter precipitações acima da média climatológica em boa parte da Região Central e do Leste de Minas Gerais. A intensidade das chuvas é influenciada pelo fenômeno oceânico-atmosférico La Niña. Segundo o TempoClima, a temperatura deverá ficar próxima da normalidade na capital, com mínimas de 16,9°C e máximas de 28,3°C.

