
O número de óbitos em 2016 se aproxima muito daquele registrado em 2009. Naquele ano, das 1.270 pessoas que tiveram síndrome respiratória aguda por influenza, 214 morreram (16,8% dos doentes). Em 2016, a SES contabiliza um número preocupante: 37% dos pacientes perderam a vida. Foram registrados 560 casos e 206 óbitos. A proporção de mortes por quantidade de casos é bem superior aos últimos sete anos, cuja média variou entre 4,2 a 5,9 casos para cada óbito.
No Brasil, a Região Sudeste concentra o maior número de casos (6.051) de influenza A, sendo 1.121 óbitos. Os dados de Minas Gerais só perdem para São Paulo, que tem 799 casos da doença e 746 mortes decorrentes dela, segundo o Ministério da Saúde. “Quando as pessoas adoecem em maior proporção, sobretudo se comparado a períodos anteriores, pode-se inferir que a virulência está mais acentuada. Uma das características do vírus influenza é a sua capacidade de mutação a cada sazonalidade. Alguns fatores como a suscetibilidade dos indivíduos, e a globalização, por exemplo, podem potencializar tais alterações”, afirma a coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis da SES, Tatiane Bettoni.
Tatiane ressalta que a influenza é uma doença que pode trazer complicações e acarretar quadros mais graves, e até mesmo óbitos, principalmente quando associada a algum fator de risco. “É sabido que as comorbidades (ocorrência simultânea de dois ou mais problemas de saúde em um mesmo indivíduo), aumentam as chances de complicações pulmonares da gripe. E que a gripe, por sua vez, também pode levar ao agravamento de doenças crônicas, como cardiopatias, doenças pulmonares, diabetes, etc.”, acrescenta. Por isso, esse grupo é considerado prioritário para receber a vacinação.
Fatores de risco Pessoas com doenças crônicas, uma vez acometidas pela influenza, têm mais chances de ser hospitalizadas. De acordo com o Informe Epidemiológico, 73% dos óbitos ocorridos por influenza são de pessoas com comorbidades. “Assim, podemos considerar que comorbidades se caracterizam como fatores de risco e que a gripe se caracteriza como fator de desequilíbrio de tais condições”, afirma Tatiane.
A circulação mais precoce do vírus este ano também pode estar relacionada ao alto número de casos, mas, segundo a coordenadora, não se pode cravar que esse fator foi determinante para o aumento no número de óbitos. Ela afirma que as circunstâncias que contribuíram para o cenário atual serão melhor conhecidas ano que vem, quando serão concluídas as análises. “Sabe-se que o vírus influenza sempre surpreende, dada sua capacidade de variabilidade genética”, diz. Tatiane destaca que as medidas preventivas são muito importantes na prevenção, dado que a transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada ao falar, tossir, espirrar ou pelas mãos.
Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Estevão Urbano, o aumento do número de mortes tem que ser investigado a fundo. Mas, citou algumas hipóteses. “Podemos ter o vírus mais agressivo e mais letal, mas também a melhora no modo de confirmação do diagnóstico, que incluem casos que antes não eram relacionados e agora são”, afirmou.
Segundo Urbano, o sistema de saúde precisa se capacitar para atender os pacientes com gripe e evitar a mortalidade. “Temos a necessidade de ter mais pessoas de todas as áreas mais preparadas. É fundamental a capacitação cada vez maior dos hospitais e dos profissionais, dos laboratórios para rapidamente identificar o vírus, recursos humanos e tecnológicos cada vez mais aprimorados. E, além disso, continuar a vacinação”, disse.
Tatiane Bettoni ressalta que a vacinação contra a influenza é uma das medidas mais efetivas para a prevenção da gripe grave e de suas complicações. Segundo ela, o objetivo da vacinação é reduzir dramaticamente o número de casos graves, hospitalizações e mortes. “Cabe atentar que, em uma mesma temporada de influenza, podem ocorrer infecções por mais de um tipo ou subtipo de vírus e, dependendo da virulência das cepas circulantes, o número de hospitalizações e mortes aumenta substancialmente, não apenas por infecção primária, mas também pelas infecções secundárias por bactérias, por exemplo.”
Doutora em clínica médica, Télcia Vasconcelos Magalhães acredita que a melhoria do sistema de notificações e de identificação do vírus pode ajudar a explicar a situação de 2016. “Os médicos estão mais cientes da situação e, por isso, mais rigorosos no diagnóstico, pedindo mais exames. E, agora, a notificação é compulsória. Muitas pessoas morriam, por exemplo, de pneumonia, uma complicação da influenza, e em vez de notificar como H1N1 registrava-se a outra doença como causa da morte”, conta.
PEREGRINAÇÃO Um profissional da área de saúde que preferiu não se identificar, morador de Belo Horizonte, que contraiu H1N1 no fim de março, é um retrato do perfil traçado pela SES nos casos graves deste ano. Portador de doença autoimune, ele tinha acabado de chegar numa cidade do Centro-Oeste do país quando começou a passar mal. Dois dias depois, com febre acima de 39,5 graus, ele procurou um serviço de saúde e foi informado pelo médico de que a reação, uma suposta alergia ao calor, era comum em pessoas de outras cidades. Em contato com colegas da área em BH, foi orientado no dia seguinte a voltar ao hospital. “Aí, começou uma peregrinação, pois não havia um consenso no diagnóstico. Depois de uma bateria de exames, pedi para fazer o chamado teste rápido, e então descobri que o resultado ia demorar 18 dias para sair”, conta.
Ele foi orientado por um amigo de BH a voltar imediatamente e, de posse de uma receita do antiviral indicado nesses casos, dada por uma colega, passou por uma verdadeira via-sacra na tentativa malsucedida de encontrar o remédio no outro município e em BH. O protocolo do Ministério da Saúde recomenda tomar o remédio em até 48 horas, para reduzir os sintomas e a probabilidade de complicações da infecção. Dados da SES mostram que, dos óbitos ocorridos no estado, apenas 24% dos doentes receberam o medicamento. No caso do morador de BH, a consequência foi o agravamento da doença, que evoluiu para pneumonia. Ele ficou de cama por mais de 20 dias. “Há desconhecimento de parte dos profissionais para o diagnóstico e o tratamento”, reclama.
Saiba mais
Predomínio de cepas é variável
Na grande maioria das vezes, os casos de gripe são leves e se resolvem espontaneamente sem sequelas ou complicações. Mas, nos grupos mais vulneráveis, podem haver complicações e outras doenças graves – são de notificação compulsória os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A gripe pode ser causada pelos vírus influenza A, B e C. Os vírus A e B apresentam maior importância clínica. Estima-se que, em média, as cepas A causem 75% das infecções, mas em algumas temporadas ocorre predomínio das cepas B. Os tipos A e B sofrem frequentes mutações e são responsáveis pelas epidemias sazonais, também por doenças respiratórias com duração de quatro a seis semanas e que, frequentemente, são associadas com o aumento das taxas de hospitalização e morte por pneumonia. Já o tipo C causa problemas respiratórios leves e infecta humanos, cachorros e porcos. O H1N1 é um subtipo do vírus A.
Predomínio de cepas é variável
Na grande maioria das vezes, os casos de gripe são leves e se resolvem espontaneamente sem sequelas ou complicações. Mas, nos grupos mais vulneráveis, podem haver complicações e outras doenças graves – são de notificação compulsória os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A gripe pode ser causada pelos vírus influenza A, B e C. Os vírus A e B apresentam maior importância clínica. Estima-se que, em média, as cepas A causem 75% das infecções, mas em algumas temporadas ocorre predomínio das cepas B. Os tipos A e B sofrem frequentes mutações e são responsáveis pelas epidemias sazonais, também por doenças respiratórias com duração de quatro a seis semanas e que, frequentemente, são associadas com o aumento das taxas de hospitalização e morte por pneumonia. Já o tipo C causa problemas respiratórios leves e infecta humanos, cachorros e porcos. O H1N1 é um subtipo do vírus A.
