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Estado de Minas

Índice de mortalidade pelo vírus influenza é o maior desde 2009

Em 2016, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, 37% dos pacientes com síndrome respiratória grave perderam a vida


postado em 03/09/2016 06:00 / atualizado em 03/09/2016 13:48

Apesar da campanha nacional de vacinação, número de mortes é alto: mudança na característica do vírus pode ter influenciado(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Apesar da campanha nacional de vacinação, número de mortes é alto: mudança na característica do vírus pode ter influenciado (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
O influenza está mais letal este ano. Em média, de cada 2,7 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) causada pelo vírus, um resultou em morte em Minas Gerais. No auge da epidemia, em 2009, a proporção era de uma morte a cada 5,9 casos graves. Além de uma mudança nas características do vírus, a contaminação de pessoas com doenças preexistentes e, portanto, mais suscetíveis, pode explicar o quadro, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Especialistas apontam uma melhora no sistema de notificação.

O número de óbitos em 2016 se aproxima muito daquele registrado em 2009. Naquele ano, das 1.270 pessoas que tiveram síndrome respiratória aguda por influenza, 214 morreram (16,8% dos doentes). Em 2016, a SES contabiliza um número preocupante: 37% dos pacientes perderam a vida. Foram registrados 560 casos e 206 óbitos. A proporção de mortes por quantidade de casos é bem superior aos últimos sete anos, cuja média variou entre 4,2 a 5,9 casos para cada óbito.

No Brasil, a Região Sudeste concentra o maior número de casos (6.051) de influenza A, sendo 1.121 óbitos. Os dados de Minas Gerais só perdem para São Paulo, que tem 799 casos da doença e 746 mortes decorrentes dela, segundo o Ministério da Saúde. “Quando as pessoas adoecem em maior proporção, sobretudo se comparado a períodos anteriores, pode-se inferir que a virulência está mais acentuada. Uma das características do vírus influenza é a sua capacidade de mutação a cada sazonalidade. Alguns fatores como a suscetibilidade dos indivíduos, e a globalização, por exemplo, podem potencializar tais alterações”, afirma a coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis da SES, Tatiane Bettoni.

Tatiane ressalta que a influenza é uma doença que pode trazer complicações e acarretar quadros mais graves, e até mesmo óbitos, principalmente quando associada a algum fator de risco. “É sabido que as comorbidades (ocorrência simultânea de dois ou mais problemas de saúde em um mesmo indivíduo), aumentam as chances de complicações pulmonares da gripe. E que a gripe, por sua vez, também pode levar ao agravamento de doenças crônicas, como cardiopatias, doenças pulmonares, diabetes, etc.”, acrescenta. Por isso, esse grupo é considerado prioritário para receber a vacinação.

Fatores de risco
Pessoas com doenças crônicas, uma vez acometidas pela influenza, têm mais chances de ser hospitalizadas. De acordo com o Informe Epidemiológico, 73% dos óbitos ocorridos por influenza são de pessoas com comorbidades. “Assim, podemos considerar que comorbidades se caracterizam como fatores de risco e que a gripe se caracteriza como fator de desequilíbrio de tais condições”, afirma Tatiane.

A circulação mais precoce do vírus este ano também pode estar relacionada ao alto número de casos, mas, segundo a coordenadora, não se pode cravar que esse fator foi determinante para o aumento no número de óbitos. Ela afirma que as circunstâncias que contribuíram para o cenário atual serão melhor conhecidas ano que vem, quando serão concluídas as análises. “Sabe-se que o vírus influenza sempre surpreende, dada sua capacidade de variabilidade genética”, diz. Tatiane destaca que as medidas preventivas são muito importantes na prevenção, dado que a transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada ao falar, tossir, espirrar ou pelas mãos.

Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Estevão Urbano, o aumento do número de mortes tem que ser investigado a fundo. Mas, citou algumas hipóteses. “Podemos ter o vírus mais agressivo e mais letal, mas também a melhora no modo de confirmação do diagnóstico, que incluem casos que antes não eram relacionados e agora são”, afirmou.

Segundo Urbano, o sistema de saúde precisa se capacitar para atender os pacientes com gripe e evitar a mortalidade. “Temos a necessidade de ter mais pessoas de todas as áreas mais preparadas. É fundamental a capacitação cada vez maior dos hospitais e dos profissionais, dos laboratórios para rapidamente identificar o vírus, recursos humanos e tecnológicos cada vez mais aprimorados. E, além disso, continuar a vacinação”, disse.

Tatiane Bettoni ressalta que a vacinação contra a influenza é uma das medidas mais efetivas para a prevenção da gripe grave e de suas complicações. Segundo ela, o objetivo da vacinação é reduzir dramaticamente o número de casos graves, hospitalizações e mortes. “Cabe atentar que, em uma mesma temporada de influenza, podem ocorrer infecções por mais de um tipo ou subtipo de vírus e, dependendo da virulência das cepas circulantes, o número de hospitalizações e mortes aumenta substancialmente, não apenas por infecção primária, mas também pelas infecções secundárias por bactérias, por exemplo.”

Doutora em clínica médica, Télcia Vasconcelos Magalhães acredita que a melhoria do sistema de notificações e de identificação do vírus pode ajudar a explicar a situação de 2016. “Os médicos estão mais cientes da situação e, por isso, mais rigorosos no diagnóstico, pedindo mais exames. E, agora, a notificação é compulsória. Muitas pessoas morriam, por exemplo, de pneumonia, uma complicação da influenza, e em vez de notificar como H1N1 registrava-se a outra doença como causa da morte”, conta.

PEREGRINAÇÃO Um profissional da área de saúde que preferiu não se identificar, morador de Belo Horizonte, que contraiu H1N1 no fim de março, é um retrato do perfil traçado pela SES nos casos graves deste ano. Portador de doença autoimune, ele tinha acabado de chegar numa cidade do Centro-Oeste do país quando começou a passar mal. Dois dias depois, com febre acima de 39,5 graus, ele procurou um serviço de saúde e foi informado pelo médico de que a reação, uma suposta alergia ao calor, era comum em pessoas de outras cidades. Em contato com colegas da área em BH, foi orientado no dia seguinte a voltar ao hospital. “Aí, começou uma peregrinação, pois não havia um consenso no diagnóstico. Depois de uma bateria de exames, pedi para fazer o chamado teste rápido, e então descobri que o resultado ia demorar 18 dias para sair”, conta.

Ele foi orientado por um amigo de BH a voltar imediatamente e, de posse de uma receita do antiviral indicado nesses casos, dada por uma colega, passou por uma verdadeira via-sacra na tentativa malsucedida de encontrar o remédio no outro município e em BH. O protocolo do Ministério da Saúde recomenda tomar o remédio em até 48 horas, para reduzir os sintomas e a probabilidade de complicações da infecção. Dados da SES mostram que, dos óbitos ocorridos no estado, apenas 24% dos doentes receberam o medicamento. No caso do morador de BH, a consequência foi o agravamento da doença, que evoluiu para pneumonia. Ele ficou de cama por mais de 20 dias. “Há desconhecimento de parte dos  profissionais para o diagnóstico e o tratamento”, reclama.

Saiba mais

Predomínio de cepas é variável

Na grande maioria das vezes, os casos de gripe são leves e se resolvem espontaneamente sem sequelas ou complicações. Mas, nos grupos mais vulneráveis, podem haver complicações e outras doenças graves – são de notificação compulsória os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A gripe pode ser causada pelos vírus influenza A, B e C. Os vírus A e B apresentam maior importância clínica. Estima-se que, em média, as cepas A causem 75% das infecções, mas em algumas temporadas ocorre predomínio das cepas B. Os tipos A e B sofrem frequentes mutações e são responsáveis pelas epidemias sazonais, também por doenças respiratórias com duração de quatro a seis semanas e que, frequentemente, são associadas com o aumento das taxas de hospitalização e morte por pneumonia. Já o tipo C causa problemas respiratórios leves e infecta humanos, cachorros e porcos. O H1N1 é um subtipo do vírus A.


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