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Estado de Minas

Museu do Sexo resgata memória da zona boêmia de Belo Horizonte

Museu do Sexo Hilda Furacão foi fundado ontem no pátio do Iphan. Local pretende abrigar ações artísticas e propor uma reflexão ampla sobre o sexo


postado em 14/06/2016 06:00 / atualizado em 14/06/2016 08:15

Cida Vieira participou de troca de objetos eróticos na festa do museu(foto: Marcos Vieira/EM/DA Press)
Cida Vieira participou de troca de objetos eróticos na festa do museu (foto: Marcos Vieira/EM/DA Press)
Milhares de pessoas anônimas e famosas passam pela Rua Guaicurus, no maior complexo de prostituição do Brasil, localizado no Centro de Belo Horizonte. Muitas histórias ganharam projeção, como a de Hilda Furacão e do Cintura Fina, personagens históricos da zona boêmia de Belo Horizonte. Uma iniciativa inédita pretende resgatar a memória da região e, mais do que isso, propor uma reflexão sobre o sexo.

Trata-se do Museu do Sexo Hilda Furacão, cujo ato de fundação ocorreu ontem no pátio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), embaixo do Viaduto da Floresta. O Museu pretende convergir diversas ações tanto artísticas quanto educativas na região e propor uma reflexão ampla sobre sexo. A fundação foi durante festa em que os convidados puderam trocar entre si objetos eróticos, muitos deles expostos no ambiente. “É um museu zona, que é um museu território, mas a palavra zona é mais apropriada que território. É algo que propõe caminhos, tramas simbólicas de Belo Horizonte”, define o coordenador do projeto, o artista visual Francilins.


Há 15 anos ele atua na região boêmia da capital fotografando e acompanhando o dia a dia das profissionais do sexo. “É uma região que me dava repulsa e, ao mesmo tempo, provocava fascínio. Enfrentei e procurei entender do ponto de vista emotivo, sexual, tátil, intelectual, social e antropológico”, diz. Na região, trabalham cerca de 3,2 mil mulheres e mulheres trans, em 28 hotéis. Francilins lembra que a ideia de “museu zona” indica a metodologia para a constituição do acervo, que sobrepõe uma a malha simbólica à arquitetônica da cidade. “O sexo é a coisa mais fundamental da humanidade”, diz. Trata-se de um museu vivo, uma vez que o percurso integra os locais de trabalho das profissionais.

A ideia é possibilitar exposições, palestras e outras atividades que tematizem o sexo. A primeira iniciativa será a abertura de um edital convocando artistas para residências artísticas nos hotéis. Para a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), Cida Vieira, o Museu do Sexo contribuirá para a revitalização da região boêmia da capital. “Devido ao estigma, muitas vezes, a cultura desses lugares é esquecida. Hilda é um ícone, mas, por lá, passaram muitas pessoas do Brasil e de outros países”, diz.

Laura Maria do Espírito Santo, de 58, há pelo menos 30 trabalha na região. “As pessoas têm vergonha de falar sobre sexo. Há muita repressão. Mas se fizesse parte da educação familiar falar sobre sexo – o que é bom, os cuidados –, não teríamos tanto estupro e tantas doenças”, argumenta. Para ela, embora o sexo seja vital na vida das pessoas, ainda é tabu. “Ao longo dessas três décadas, a Guaicurus mudou para melhor. Agora temos mais segurança, parceria com psicólogos, dentistas e universidades”, destaca.

Aposentada, Cleuza Márcia Borges, de 63, criou a família com o trabalho na Rua Guaicurus. Atualmente, ela é multiplicadora dos cuidados para o sexo seguro. “A maioria das prostitutas não assume a identidade”, afirma, lembrando que vai a diversos lugares para falar sobre sexo. A antropóloga Marina França, que fez mestrado e doutorado sobre a zona boêmia, defende que, apesar de muitos trabalhos e reportagens sobre o lugar, ainda é preciso aprofundar a pesquisa sobre a região.


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