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Estado de Minas

Déficit financeiro da Santa Casa e idade do prédio surgem como possível estopim para incêndio

Um dia após o incêndio que destruiu anexo, complexo hospitalar divulga déficit que pode ter contribuído para o incidente e já anuncia campanha para tentar resgate de finanças


postado em 06/05/2016 06:00 / atualizado em 06/05/2016 07:45

Direção do complexo hospitalar diz que falta de verba para manutenção pode ter sido decisiva para o incêndio (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )
Direção do complexo hospitalar diz que falta de verba para manutenção pode ter sido decisiva para o incêndio (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )
O quadro financeiro deficitário da Santa Casa de Belo Horizonte – que informa estar há anos impossibilitada de investir na reforma de seus anexos –, somado à idade desses imóveis  são motivos apontados pela direção da unidade como possível estopim para o incêndio que destruiu 520 metros quadrados do anexo da Rua Ceará, na noite de anteontem.

A informação é do provedor do complexo, Saulo Coelho, que levanta a possibilidade de pane no sistema elétrico. “O prédio é extremamente frágil e era praticamente de madeira. Havia madeira no teto e no piso, além de outros materiais de fácil combustão. Com certeza houve algum curto na fiação elétrica e o fogo se propagou rapidamente”, afirma, anunciando uma campanha para arrecadar fundos para a instituição.

De acordo com o superintendente de Planejamento de Finanças, Gonçalo Barbosa, o hospital tem um déficit acumulado de R$ 40 milhões em dívidas correntes (vencidas e a vencer), além de R$ 140 milhões em débito escalonado, negociado com bancos e fornecedores, e mais cerca de R$ 300 milhões em tributos, também negociados e pagos em dia. Se por mês a receita disponível para operação da unidade é de R$ 33 milhões, o saldo fecha sempre negativo em R$ 3 milhões mensais, tendo em vista que o gasto médio é de R$ 36 milhões. “Não podemos abrir mão de prestar o atendimento de saúde, que é nossa missão. Mas manter a operação é um desafio, que se tornou ainda maior no fim do ano passado e neste ano, diante das contenções orçamentárias das três esferas de governo e da crise econômica generalizada que atravessa o país”, afirma Saulo Coelho.

Ao mesmo tempo, o provedor fala da dificuldade de fazer caixa para recuperação dos prédios anexos, muitos deles tombados pelo patrimônio histórico. “Fazemos as manutenções de rotina. Mas esse prédio (o que pegou fogo), assim como os demais, precisa de intervenções mais complexas, como troca do sistema elétrico, de tubulações, entre outros. Não temos recursos para isso.”

Saulo Coelho afirma que, aparentemente, o imóvel incendiado apresentava boa situação. “Mas o que está embutido lá dentro é muito antigo”, afirma. Ele disse ainda que o desastre vai motivar uma vistoria mais detalhada em outras estruturas do complexo Santa Casa, que já tem projeto elaborado para revitalização de todos os anexos, mas não tem receita para execução. O investimento atual, segundo ele, vinha sendo feito no prédio da antiga Maternidade Hilda Brandão. O imóvel, prestes a completar um século, passa por obras há cinco anos. Suas atividades foram transferidas para o 11º andar do hospital.

PREJUÍZOS
Ontem, o momento foi de avaliação dos danos no prédio incendiado. Representantes de órgãos de segurança e da direção da Santa Casa passaram a manhã no local, na tentativa de mensurar o prejuízo. Apesar da destruição, a Coordenaria Municipal de Defesa Civil (Comdec) constatou que a estrutura do anexo não foi comprometida pelo fogo e que a demolição não será necessária, embora a decisão fique a cargo da  instituição. O atendimento aos pacientes continua normal no complexo hospitalar.

Em avaliação prévia dos estragos, a unidade de saúde contabilizou prejuízo de R$ 1 milhão apenas com 12 aparelhos de respiração artificial destruídos no incêndio. Ao mesmo tempo em que avalia os danos, a direção da Santa Casa corre para realocar setores que funcionavam no anexo, mas que, segundo o provedor do hospital, não tinham relação com a prestação direta de serviços aos usuários. Segundo ele, foram impactados os setores da Engenharia Clínica (manutenção de equipamentos), o centro de estudos e o local onde ficam guardados os prontuários médicos dos pacientes. “O primeiro setor já foi realocado no início desta manhã e os demais devem se mudar até o fim do dia”, explicou o superintendente de Assistência à Saúde, Guilherme Riccio.

Ele pondera, no entanto, que registros de pesquisas podem ter sido perdidos, mas que estes não são irrecuperáveis. Ainda segundo o superintendente, R$ 5 mil reais foram gastos com compras de emergência para o setor de Engenharia Clínica, para que o trabalho tivesse continuidade, tendo em vista sua importância para o funcionamento do hospital. O levantamento da destruição ainda está sendo feito, mas já foi possível constatar que parte dos prontuários foi perdida.

CAMPANHA
Diante do prejuízo e do déficit, a Santa Casa anuncia uma campanha com objetivo de arrecadar fundos para recuperação do imóvel incendiado. “Vamos dar conta. Esse incêndio foi inesperado, doloroso. Felizmente não tivemos vítimas. Agora precisamos gerar caixa para cobrir os estragos. Vamos fazer uma campanha junto à sociedade, e já estamos negociando com as três esferas de governo melhoria na tabela de pagamentos”, disse o superintendente Gonçalo Barbosa.

A Polícia Civil informou que apura o caso por meio de um procedimento preliminar e aguarda o laudo da sua própria perícia e também a dos bombeiros para avaliar os rumos da apuração. Se houver indício de crime, o procedimento preliminar será transformado em inquérito policial. A previsão é de que o laudo fique pronto em até 30 dias. Na manhã de ontem, o Corpo de Bombeiros fez nova vistoria no imóvel incendiado, confirmando que não houve vítimas e que a capela da Santa Casa não foi queimada.

O hospital

A Santa Casa de Belo Horizonte foi fundada em 1899, dois anos após a fundação da capital. Foi a primeira instituição de saúde da cidade, atendendo a população carente. Funcionava em um pavilhão localizado na esquina da Rua Ceará com a Avenida Francisco Sales. Ao longo dos anos, novos setores foram construídos em torno, como o prédio da Maternidade Hilda Brandão e o Pavilhão Miguel Couto. Para dar conta de atender à demanda, um novo hospital foi construído na década de 1940 e inaugurado em 1946. É a maior prestadora de serviços da área de saúde de Minas Gerais. Seu edifício principal tem 13 andares, com quatro grandes alas em cada um. É o quarto maior hospital 100% SUS do Brasil e o segundo maior filantrópico em número de internações pelo sistema público no país. O prédio incendiado anteontem é um dos 13 anexos da instituição e foi construído na década de 1920. O imóvel tem tombamento municipal e estadual.

Prontuário
A Santa Casa de Belo Horizonte em números

  • 1.085  leitos SUS e 200 de particulares e convênios
  • 5 mil funcionários
  • 40 mil exames/mês
  • 350 partos/mês
  • 3 mil cirurgias/mês
  • 3,5 mil  altas/mês
  • 13 prédios no complexo
  • R$ 33 milhões/mês em média receita
  • R$ 36 milhões/mês em média despesa
  • R$ 40  milhões dívidas correntes (vencidas e a vencer)
  • R$ 140 milhões dívidas escalonadas entre bancos e fornecedores


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