![Um dos diques degradados na Barragem do Fundão: velocidade de descarte aumentou neste ano e Ministério Público apura se houve sobrecarga(foto: Corpo de Bombeiro/Divulgação) Um dos diques degradados na Barragem do Fundão: velocidade de descarte aumentou neste ano e Ministério Público apura se houve sobrecarga(foto: Corpo de Bombeiro/Divulgação)](https://i.em.com.br/aDON2PvMEY9Sy1Bdl7i3pG_Sonc=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2015/12/04/714169/20151204072933762454o.jpg)
Entre 2013 e 2014, o ritmo de despejos foi de 250 mil metros cúbicos de rejeitos a cada 30 dias, passando de 27 milhões acumulados para 30 milhões. Neste ano, o acúmulo cresceu 83%, chegando a 55 milhões, o que dimensiona média de 1,7 milhão de metros cúbicos por mês entrando na Barragem do Fundão. Os dados são da própria companhia e da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Na operação da Samarco e de outras empresas brasileiras, especialistas explicam que o procedimento é trazer o rejeito de minério misturado à água para a cabeceira da barragem, situada em sentido oposto ao barramento e aos vertedouros. Quando volumes depositados seguem os dimensionamentos do projeto de construção da represa, as partículas sólidas ficam em cima e os líquidos descem. É nesse momento que os filtros funcionam drenando os fluidos para fora do sistema e permitindo que apenas o material seco permaneça, pois é mais estável e compacto, propiciando também maior acumulo de detritos em menor espaço.
De acordo com o promotor Mauro Ellovitch, da força-tarefa do MP criada para avaliar as causas do rompimento de Fundão e para defender as vítimas e o meio ambiente, o aumento no ritmo da deposição de rejeitos é uma das linhas investigadas. Para o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Adilson do Lago Leite, que é geólogo e geotécnico e tem doutorado em geotecnia, esse pode ser um fator que culminaria na desestabilização da barragem, mas dificilmente seria o causador principal do desastre. “Digamos que isso pode ter sido a gota d’água, mas não creio que tenha sido o que iniciou o processo que levou à ruptura do reservatório”, afirma.
Na avaliação do especialista, se o alteamento (ampliação do barramento de contenção) estiver preparado para reter os volumes, a velocidade de deposição pode ser acelerada sem prejuízos para a segurança. Antes de se romper, a Barragem do Fundão passava por obra que a elevaria em mais 20 metros, passando a 160 metros. “A velocidade de deposição depende das características do projeto, se os rejeitos são ou não separados da água. Acho difícil que tenha havido comprometimento pela desestabilização com a entrada de grande volume de rejeitos, pois isso demandaria uma injeção de muito material com energia suficiente para comprometer a barragem. Mas pode ter agido na dificuldade de absorção. Se o rejeito entra rápido demais, não há tempo de secagem e isso sim compromete”, disse.
A aceleração do enchimento da Barragem do Fundão também está evidenciada no estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) entregue para aprovação da Licença de Prévia do empreendimento junto aos órgãos ambientais. Pelo gráfico, quando atingisse a altura de 140 metros, a previsão dos técnicos da Samarco era de que a barragem comportasse 39 milhões de metros cúbicos e não 55 milhões – volume que vazou com o desastre, de acordo com a própria empresa.
Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), durante o processo de licenciamento não é monitorado o volume do reservatório. “O licenciamento se atém à área e à altura do maciço. As informações sobre o volume dos reservatórios são fornecidas pelo empreendedor à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), por meio do Programa Gestão de Barragens, e informadas ao Banco de Declarações Ambientais (BDA) e ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no relatório de segurança”, declarou, em nota.
A Samarco informou que todas as operações estavam devidamente licenciadas e regularizadas no momento do acidente, inclusive em relação ao volume de material depositado. “O volume licenciado para disposição de rejeitos era de 92 milhões de metros cúbicos até a elevação 920m da crista e a barragem continha 55 milhões de metros cúbicos com a crista na elevação de 898m no momento da ruptura. A Samarco reafirma que, neste momento, ainda não é possível confirmar as causas do acidente.”