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Estado de Minas

Comunidade de Itambacuri, que mora nos EUA, doa caminhões-pipa a conterrâneos

Desde a interrupção no fornecimento de água, 45 caminhões-pipa já foram enviados, totalizando ajuda de R$ 18 mil


postado em 22/11/2015 11:00 / atualizado em 23/11/2015 14:41


Itambacuri
- O drama vivido por cerca de 16 mil habitantes, que estão sem o abastecimento público regular de água no município de Itambacuri, no Vale do Mucuri, a 420 quilômetros de Belo Horizonte, faz com que muitas pessoas ajudem aqueles mais necessitados, criando uma corrente de solidariedade na cidade. A situação complicada levou a comunidade de itambacurienses que mora nos Estados Unidos a doar 45 caminhões desde a interrupção do fornecimento, totalizando ajuda de R$ 18 mil.


Nascido em Itambacuri, o funcionário de um bar na cidade de Danbury, no estado americano de Connecticut, José Afonso D’Avila Teixeira, de 35 anos, é um dos que mais correu atrás de ajuda para os conterrâneos. “Nós ficamos bem assustados quando soubemos da falta de água porque é uma coisa inédita na história da cidade”, conta o mineiro radicado nos Estados Unidos há 15 anos. “Nós já tivemos ajuda de gente de toda parte. Amigos de outras regiões do Brasil que vivem aqui, americanos, latinos e também amigos que vivem no Brasil atualmente e que aderiram à nossa campanha. Graças a eles, já doamos mais de 40 caminhões de água ao nosso município”, completa.

População pega água do caminhão-pipa enviado para a cidade pela comunidade de itambacurienses que mora nos Estados Unidos(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
População pega água do caminhão-pipa enviado para a cidade pela comunidade de itambacurienses que mora nos Estados Unidos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Moradora de Itambacuri, a irmã de José Afonso, Daniela D’Avila, de 37, comerciante, é uma das pessoas que mais ajudam no gerenciamento dos caminhões doados, que, segundo ela, são mandados exclusivamente aos pontos mais pobres do município. “A cidade está uma loucura. Você para o caminhão e não consegue sair, só quando acaba a água. Saímos cedo, por volta de 7h, e retornamos às 20h. Fins de semana, chegamos a descarregar seis caminhões por dia”, afirma. Ela conta com a ajuda da dona de casa Marinalva Ferreira da Silva, de 42, que também corre diariamente até os pontos mais pobres acompanhando o caminhão-pipa na tentativa de ajudar os mais necessitados. “Não durmo direito pensando na situação do povo. O que a gente percebe é que, por mais que tentemos ajudar, está muito difícil amenizar o sofrimento. Não estamos enxergando nenhuma luz no fim do túnel, a não ser fé em Deus”, diz ela.

FALTA CONTROLE, SOBRA DESPERDÍCIO
Estação de Tratamento de Água, que tem dimensionamento para tratar 35 litros por segundo, está funcionando com uma demanda de 70 litros por segundo(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Estação de Tratamento de Água, que tem dimensionamento para tratar 35 litros por segundo, está funcionando com uma demanda de 70 litros por segundo (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Moradores de Itambacuri e até funcionários do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) municipal denunciam que a estrutura de abastecimento está precarizada e há muitos lugares que recebem água sem nenhum tipo de controle do consumo. Essa situação favorece o desperdício e também impede que o Saae receba 100% dos recursos da água que comercializa. O prefeito Vicente Guedes reconhece que a estrutura tem problemas e diz que aguarda financiamento para modernizar a Estação de Tratamento de Água (ETA) da cidade, além de levar hidrômetros para os lugares que ainda não têm. Atualmente, a ETA, que tem dimensionamento para tratar 35 litros por segundo, funciona com demanda de 70 litros por segundo. O prefeito afirma que há recursos assegurados junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para ampliação e modernização, jogando a capacidade para 80 litros. Os recursos estão estimados em R$ 500 mil, mas não foi informado o prazo.


Outro problema é o déficit de hidrômetros na cidade, o que impede o controle do consumo pelo Saae e também a maior conscientização das pessoas para o desperdício. Fontes afirmam que a soma da ausência dos aparelhos com os que estão estragados inviabiliza cerca de 40% das medições, o que foi negado pelo prefeito. Segundo Vicente Guedes, dos 9 mil imóveis do município, 7 mil estão ligados à rede pública de abastecimento, sendo 5,5 mil registrados com hidrômetros. “Já temos um lote de 600 instalados ou sendo implantados e vamos adquirir os demais por meio de um consórcio de SAAEs com um preço bem acessível.”

 

 

Palavra de especialista

Leonel de Oliveira Pinheiro
Univ. Fed. dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

À beira de um colapso

 

“A situação é de calamidade, mas principalmente de irresponsabilidade dos gestores. Não há reversão a curto prazo. A grande questão colocada é: vamos fazer barragem. Mas você vai enchê-la com o quê? É necessário se pensar na recuperação das microbacias. Especialmente a microbacia que abastece a cidade. E esse trabalho não existe, infelizmente. Nós estamos apenas no início dessa crise. Os próximos anos serão piores. E a cidade está à beira de uma convulsão social. A população está revoltada, não entende. Nas partes altas, estão passando extrema necessidade, não há controle da água distribuída. Podemos ter até uma epidemia de viroses, já que não há controle de todos os lugares de onde a população está pegando a água no momento de crise.”

 

Personagem da notícia

Argemiro Monteiro, aposentado, 93 anos

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Difícil de acreditar

A vida do aposentado Argemiro Monteiro, que ainda mantém a lucidez mesmo com 93 anos, se confunde com a história de Itambacuri. Acostumado a rodar por todos os pontos do município, ele resgata suas memórias. “Nunca aconteceu de chegar a um ponto desses na minha cidade. Se a chuva não durar para valer, as pessoas vão começar a morrer de sede, igual carrapatos”, afirma. Seu Argemiro mora no ponto mais alto do Bairro Santa Clara e conseguiu um alívio com a colocação de uma caixa d’água no fim da rua, ao lado de sua casa. “Até mesmo aqui do lado eu tenho dificuldade de ir buscar. Lá embaixo, só com a ajuda de quem puder trazer algum balde até aqui”, diz o idoso. Percorrendo a ladeira para acesso à casa de seu Argemiro, a cena é de apertar o coração. Crianças na porta das casas com a expressão de medo, pessoas pedindo água e uma fila sempre que aparece algum reservatório nos arredores.


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