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Estado de Minas

Após chegar a 2,57% do volume total em 2014, Três Marias volta a ser ameaçada pela crise

Atualmente, vazão é mais de oito vezes superior à entrada de água


postado em 28/10/2015 06:00 / atualizado em 28/10/2015 07:57

Considerada estratégica pela própria ANA, represa de Três Marias pode atingir apenas 8% de seu volume no fim de novembro(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
Considerada estratégica pela própria ANA, represa de Três Marias pode atingir apenas 8% de seu volume no fim de novembro (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)

A crise que só piora no reservatório de Sobradinho, na Bahia, liga o alerta para a situação da represa de Três Marias, também no Rio São Francisco, na Região Central de Minas. Com vazão de entrada de 60 metros cúbicos por segundo e saída mais que oito vezes maior (500m3/s), a preocupação de pessoas ligadas ao comitê de bacia e da própria Cemig, operadora da usina hidrelétrica, é o esvaziamento rápido do reservatório, que já exibe cenas desoladoras, típicas de um deserto. Atualmente, o lago está com 15,3% de seu volume útil. Caso não chova em novembro, a Cemig prevê nível de 8% no fim do mês que vem. Há determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Operador Nacional do Sistema (ONS) para a manutenção dessa vazão, segundo a Cemig, com o objetivo de tentar ajudar Sobradinho, que tem previsão de atingir o volume morto em meados de dezembro se não chover até lá.


Porém, apesar das determinações a nível federal, a Cemig sustenta que não é possível que apenas Três Marias tenha a obrigação de ajudar o reservatório baiano. “Se continuar desse jeito, daqui a pouco teremos problemas também em Três Marias. E isso não é o desejado, pois dessa forma não conseguiremos nunca sair da crise. Ano passado, chegamos a 2,57% e a projeção para este ano é chegarmos a 8% no fim de novembro, se não chover”, afirma o gerente de Planejamento Energético da Cemig, Marcelo de Deus Melo.

A presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias, Silvia Freedman, diz que a represa de Sobradinho está fadada a chegar no volume morto, caso não chova, independente do volume liberado por Três Marias, principalmente devido ao alto nível de evaporação no reservatório da Bahia. Ela acredita que o ideal seria reduzir a saída da represa mineira, para evitar níveis tão baixos. “É um momento extremamente crítico, em que é necessário investir, e não estamos tendo nenhum posicionamento. Eu não vejo outra saída que não seja a chuva”, afirma Silvia. Enquanto isso, a redução do volume de Três Marias provoca cenários assustadores ao longo da represa. Em Morada Nova de Minas, na Região Central, um braço da lagoa secou completamente, criando uma espécie de cânion semelhante a uma erosão. Em muitos pontos também é possível ver exemplos da vegetação que passou décadas submersa.

Em nota, a ANA informou apenas que a agência e os demais órgãos envolvidos na gestão dos recursos hídricos do reservatório de Três Marias têm monitorado as vazões e adotado as medidas necessárias a fim de minimizar os impactos da estiagem prolongada e preservar os estoques de água, para cumprir o disposto na legislação brasileira de recursos hídricos. “Três Marias é uma das reservas estratégicas para a segurança hídrica da bacia, que pode ser fundamental caso o próximo período úmido seja abaixo da média, semelhante ao que vem sendo observado nos últimos anos na região”, destacou a agência.

 

 

 

 

 

Rios viram estrada no Norte

O secamento dos afluentes do Rio São Francisco em Minas, intensificado com a estiagem prolongada, tem representado uma séria ameaça ao Rio da Unidade Nacional. No Norte de Minas, praticamente todos os rios e córregos que fazem parte da bacia já estão completamente secos ou “cortados”. Entre eles está o Rio Verde Grande, maior afluente da margem direita do São Francisco na região, que nasce no município de Montes Claros e atinge 27 municípios e outras oito cidades da Bahia, alcançando o Velho Chico no município de Malhada (BA).

A ponte da BR-251 sobre o Rio Verde Grande na divisa dos municípios de Montes Claros e Francisco Sá sempre foi frequentada por pescadores, não somente pela facilidade do acesso, mas pela existência de poços profundos no rio, onde ficavam cardumes. Porém, agora, o curso antes caudaloso deu lugar às marcas da estiagem, como as cinzas de um incêndio recente dentro do próprio leito seco do Verde Grande.

“É a primeira vez que vejo uma situação desta. Antes, quando chegava a seca, o rio parava de correr, mas pelo menos ficavam os poços. Em alguns pontos, sempre corria algum filete de água. Agora, secou completamente”, testemunha o agricultor Jackson Ramos Souza, de 45 anos, dono de um pequeno sítio às margens do manancial, na localidade de Rio Verde

Com tristeza, Jackson percorre o leito seco, onde pela altura do barranco é possível perceber como era a profundidade dos antigos poços. Indignado, o pequeno produtor diz que situação não é consequência só da diminuição das chuvas. “Infelizmente, algumas pessoas, se sentindo com muito poder, começaram a retirar água do Rio Verde para molhar capim. Além disso, tivemos o problema do assoreamento”, relata Jackson, que cobra ação rigorosa dos órgãos fiscalizadores.

PREOCUPAÇÃO O espanto dos ribeirinhos se espalha por outras cidades do Norte. A população da pequena Santa Fé de Minas, município de 4 mil habitantes, está muito assustada, segundo o professor de história Sandro Braga, de 47. O Ribeirão Santa Fé, que deságua no Rio Paracatu, está completamente seco. A falta d’água revelou as bases de uma ponte do município, transformando o leito do manancial em uma espécie de estrada. “As pessoas não sabem o que fazer. A Copasa já está com caminhões-pipa de prontidão. Nunca presenciamos uma situação desse tipo aqui na cidade”, diz o professor.

Abastecimento humano já está prejudicado


Na sub-bacia do Rio Pará, uma das 10 contribuintes do Velho Chico em território mineiro, a seca levou a estação de monitoramento de Carmo do Cajuru, Centro-Oeste do estado, a registrar vazões inferiores a 70% do mínimo medido em sete dias consecutivos nos últimos 10 anos, índice chamado de Q7,10. Isso significa que uma porção hidrográfica do Pará entrou em estado de restrição do uso da água, o que afeta diretamente, segundo o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), três captações da Copasa em Cláudio e Passa Tempo, ambas no Centro-Oeste, para o abastecimento humano.

De acordo com o Igam, a companhia precisa reduzir em 20% essas captações, sob pena de ter a outorga suspensa. Ontem, a Copasa informou que a redução já está em prática em Cláudio e Passa Tempo, assim como em Gouveia, no Rio das Velhas. Porém, sustenta que o abastecimento nas cidades não sofreu alteração.

As captações para abastecimento humano de outras quatro cidades também foram afetadas e precisam ser reduzidas em 20%. Porém, em Oliveira, no Centro-Oeste, a informação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) é de que as duas captações presentes na área de restrição já não estão sendo usadas. Ambas se destinavam ao distrito de Morro do Ferro, agora suprido por poços artesianos. O Estado de Minas não conseguiu contato com as prefeituras de Carmópolis de Minas (Centro-Oeste), Desterro de Entre Rios (Central) e Itaguara (Grande BH) para confirmar se os cortes já estão ocorrendo. Mais 19 outorgas foram afetadas, com redução que varia de acordo com o tipo de uso. Captações para irrigação devem diminuir em 25%, enquanto as para uso industrial precisam cair 30%.

No Rio das Velhas também há restrição do uso da água na região de Santo Hipólito (Central), devido às baixas vazões medidas na estação instalada no município. Essa situação implica em cortes em 66 outorgas. Na região do Alto São Francisco, que vai desde a nascente do rio, na Serra da Canastra, até a Represa de Três Marias, a maioria dos 29 municípios já pratica cortes no fornecimento, diante da escassez, segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfia dos Afluentes do Alto São Francisco, Lessandro Gabriel Costa. “Temos cerca de 80 lagoas marginais na região que estão completamente secas. Elas são importantes para a desova dos peixes durante a Piracema. Sem elas, a chance de sobrevivência dos animais cai bastante”, afirma.


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