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Estado de Minas

Onda de doações aos sírios mostra disposição de belo-horizontinos para ajudar

Situação abre caminho para auxiliar outros grupos, como haitianos, crianças e idosos


postado em 19/09/2015 06:00 / atualizado em 19/09/2015 07:05

Fabiana com a filha Maria Clara, Marcos Henrique Gomes, a psicóloga Ana Lúcia e Evellyn com o pai Wires, na Casa Aura: ajuda e alívio no tratamento do câncer infantil(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Fabiana com a filha Maria Clara, Marcos Henrique Gomes, a psicóloga Ana Lúcia e Evellyn com o pai Wires, na Casa Aura: ajuda e alívio no tratamento do câncer infantil (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A rede de solidariedade formada em Belo Horizonte para ajudar os refugiados sírios estende a mão para outras populações que também precisam de auxílio. Os haitianos que estão chegando em busca de emprego à Grande BH há quatro anos, crianças, idosos vulneráveis e moradores de rua podem ser assistidos pela mesma onda que tomou conta da cidade e se espalhou pelas redes sociais, provocando um volume imenso de doações para os sírios.

“Se ficarmos com uma reserva de cestas básicas, elas serão doadas aos haitianos que estão precisando”, adianta o padre Paulo César da Silva, diretor do Vicariato para Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo Horizonte. O religioso garante que o papel da Igreja Católica é estar a serviço dos mais pobres e que todos podem ajudar. Na Grande Belo Horizonte, são 280 paróquias, e todas contam com a ação da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), além de várias terem pastoral da criança, creches e lar para idosos.

“Ao ver a ajuda aos sírios, tem quem reclame do apoio ao pessoal que vem de fora e questione sobre os que estão passando fome no país. Pois temos trabalho há décadas ocorrendo em todas as paróquias para moradores de rua, crianças e pessoas carentes”, explica padre Paulo.

A chefe do Departamento de Serviço Social da PUC Minas, Maria da Consolação Gomes de Castro, entretanto, chama a atenção para os moradores de rua. Segundo ela, eles já possuem uma rede estruturada de apoio. “É preciso pressionar para que as políticas públicas sejam cumpridas”, detalha. A assistente social explica que, neste caso, o excesso de doações pode agravar a situação deles, o que é respaldado por estudos e pesquisas. “Alimentos e remédios, porém, podem ser dados em uma situação emergencial”, pondera.

No caso dos sírios, Maria da Consolação informa que eles necessitam de auxílio urgente. “A ajuda precisa ser imediata, e isso pede da sociedade ações de solidariedade para ajudá-los, desde comida e roupas até atendimento de saúde”, detalha. Todo refugiado, explica ela, tem os mesmos direitos que os brasileiros. Porém, no primeiro momento, em que o atendimento não está articulado com o poder público, a rede de solidariedade é essencial.

EMPREGOS Nessa sexta-feira, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, visitou a família do bebê sírio Aboud Aladra, que nasceu na terça-feira. O arcebispo anunciou que as unidades do Colégio Santa Maria vão ministrar aulas gratuitas de português para sírios e haitianos.

O professor da pós-graduação em geografia da PUC Minas Durval Fernandes realizou a pesquisa “Imigração haitiana: um diálogo bilateral” e conhece bem a comunidade que vive na Grande Belo Horizonte. “Eles precisam mais de empregos do que de ajuda humanitária”, destaca o professor, que ressalta que o mercado de trabalho não está aquecido como estava à época das obras para a Copa do Mundo. “Em alguns casos, quando estão desempregados, ficam em uma vulnerabilidade muito grande”, explica. Um caminho para ajudar é procurar o Centro Zanmi, serviço jesuíta a imigrantes e refugiados, na Avenida Amazonas, 641, na sala 8c, no Centro.

Em Contagem, outro exemplo de solidariedade auxilia pessoas que cruzaram as fronteiras do Brasil. Há três anos e oito meses, a aposentada Maria Luiza da Silva, de 65 anos, ajuda haitianos que deixaram o país de origem após um terremoto em 2012. “Já são cerca de 300 estrangeiros atendidos”, afirma.

FOME Todos os domingos, dezenas de pessoas organizam uma fila indiana nas proximidades do Viaduto de Santa Tereza. Entre eles, moradores de rua, dependentes químicos, viajantes, pessoas que vêm do interior para acompanhar pacientes de hospitais ou simplesmente alguém em dificuldades financeiras. A cena inusitada chama a atenção de quem passa pela Rua Itambé, no Bairro Floresta, Região Leste da capital. No local, equipes de voluntários distribuem, em média, 250 marmitas aos necessitados. O mesmo ocorre em outros dois pontos de Belo Horizonte. Mais de 200 “quentinhas”, como são popularmente chamadas, são distribuídas na Avenida do Contorno, entre a rodoviária e o Socor, e nos arredores da Santa Casa, na Região Hospitalar.

Para o empresário Tarcísio Saint’-yves, de 65, a rede de solidariedade criada pelo grupo e o trabalho voluntário realizado todo fim de semana são testemunho de um milagre e um motivo de orgulho para quem participa. “Algumas vezes, no sábado de manhã, não temos quase nada para cozinhar. Próximo ao meio-dia, começam a chegar quilos e mais quilos dos mais diversos alimentos”, revela.

Saint’yves lamenta que, em qualquer um dos pontos de distribuição, tenha sempre mais gente do que comida disponível. “É difícil. Se tivéssemos mais 50 marmitas, sempre tem alguém precisando. Estamos tentando ampliar as equipes, mas somos todos voluntários. No Parque Municipal, por exemplo, moram cerca de 1 mil pessoas nos arredores”, relata.

Protegidos por ‘anjos’

Diante do medo por ter em mãos o diagnóstico de câncer dos filhos, pais e familiares de crianças e adolescentes atendidos pela Casa Aura, em Belo Horizonte, se dizem protegidos por um batalhão de anjos. Há 15 anos, a ONG presta serviço de apoio e acolhimento aos doentes oncológicos vindos do interior de Minas, da Grande BH e até mesmo de outros estados. Em tratamento na capital mineira há um ano e um mês, o menino Marcos Henrique Gomes, de 12 anos, já reconhece a importância da Casa Aura em sua vida. Os primeiros quatro meses, desde o diagnóstico de leucemia, foram passados na enfermaria da Santa Casa de BH. “Lá, eu estava muito fraco. Continuo o tratamento e aqui parece nossa casa. Tem brinquedo, crianças, livros e computador”, conta o garoto, que voltou poucas vezes para casa, em Matipó, na Zona da Mata, desde que adoeceu.

Há sete anos acompanhando a filha no tratamento de um tumor na região pélvica, o lavrador Wires Oliveira, de 36, que mora na zona rural de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, tem hoje um alívio no olhar ao ver Evellyn Lavinne, de 8, recuperada, depois de oito cirurgias e um transplante de medula óssea. Mas a voz ainda embarga ao lembrar de tudo. “Além da dor de ver seu filho sofrendo, a situação é muito difícil pra gente que vem do interior. A Casa Aura faz um trabalho muito importante para todos nós”, diz.

Do outro lado do trabalho, a coordenadora da Casa Aura, Ana Lúcia Machado, fala da gratidão de ajudar. “Por aqui, já passaram 1 mil crianças e adolescentes, além de acompanhantes. É maravilhoso fazer a diferença.”

Caminhos para ajudar

– A situação dos sírios é considerada urgente, pois chegam da Síria como refugiados, com a família, por isso, todo tipo de doação é bem-vinda. Eles vão começar uma nova vida no Brasil – já são 79 – e deixaram tudo para trás em um país que vive uma sangrenta guerra civil há quatro anos.

– Os haitianos, que totalizam quase 5 mil imigrantes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, também precisam de ajuda. Mas, como o fluxo migratório já está estabelecido há mais tempo, a maior necessidade é conseguir empregos paras todos.

– Pessoas que vivem nas ruas também necessitam ajuda, mas especialistas destacam que, para esses casos, existem políticas públicas, e a sociedade deve pressionar para que sejam cumpridas. Porém, a assistente social Maria da Consolação Gomes de Castro destaca que, em uma situação emergencial, dar alimentação ou um medicamento é uma boa atitude, mas o ideal é procurar os órgãos públicos e informar o morador de rua sobre os direitos que ele tem e onde pode conseguir ajuda.

– A arquidiocese de Belo Horizonte tem trabalho social em suas 280 paróquias na Grande BH. Todas contam com a presença dos vicentinos e ainda da pastoral da criança. Algumas ainda oferecem creches e lar de idosos. O trabalho é realizado há muitos anos e coordenado pelo Vicariato. Para quem deseja ajudar, basta procurar uma paróquia.

– Centros espíritas, igrejas pentecostais e outras instituições religiosas também organizam ajuda às populações vulneráveis. Basta se informar no local em que você frequenta sobre quais são as ações sociais que eles desenvolvem.

–  Causas sociais também podem ser defendidas e incentivadas na internet, em sites especializados, onde é possível criar campanhas de doações ou mesmo a defesa de algo.


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