Gustavo Werneck
No lugar da manjedoura, uma peneira dessas usadas pelos pedreiros para separar areia. Nas paredes da gruta, sacos de cimento e tijolos. E formando as montanhas de Belém, pilhas de brita e pedras. O presépio da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Região Centro-Sul da capital, faz referência à construção da futura sede da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, no Bairro Juliana, na Região Norte, e também dos valores cristãos. No cenário feito para celebrar o nascimento de Jesus há também cartazes com palavras fortes e fundamentais na vida, como “humildade, solidariedade, partilha, amor, luz, paz e fraternidade”, destaca o titular da Paróquia da Boa Viagem e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua, padre Marcelo Carlos da Silva. Na capital e cidades do interior de Minas, começa o período de reunir as famílias e amigos para fazer o presépio e esperar pela noite do Natal.
Inaugurado domingo passado, o presépio da catedral atrai as atenções dos fiéis pela beleza das figuras de Maria e José, anjos tocheiros, representando a vigília, pastores, reis magos e animais – burro, vaca e ovelhas. “A ideia foi mostrar um canteiro de obras, tendo como tema a construção da solidariedade”, informa padre Marcelo, lembrando que a concepção e montagem ficaram a cargo de Conceição Schettino, do conselho administrativo paroquial. “A cada ano fazemos paralelamente um tipo de prestação de serviços, como arrecadação de fraldas geriátricas, cestas básicas. Desta vez, como gesto concreto, pensamos na campanha da Arquidiocese de BH, Doe cimento para ajudar a construir a Catedral Cristo Rei.” Para erguer o templo projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, serão necessários, na primeira fase, 90 mil sacos do material.
Na manhã de sábado, depois da missa festiva das 9h, presidida pelo bispo auxiliar dom João Justino de Medeiros Silva, muitos católicos admiraram o presépio iluminado com estrelas. Mineira residente em Cabo Frio (RJ), a professora aposentada Ana Maria Carvalho Mourão gostou do que viu. “Está sugestivo e criativo. É bem o espírito de Natal, indica que todos devem fazer a sua parte para o mundo melhorar”, afirmou. Satisfeito com o resultado, o ministro da eucaristia Alencar Ramos, de 77 anos, lembrou que “o Menino Jesus é o maior presente e, o presépio, a melhor forma de desejar feliz Natal”. Padre Marcelo explicou que, conforme a tradição, a montagem dos presépios deve ocorrer em 1º de dezembro, na abertura do tempo do Advento, que significa a vinda do Senhor.
Na Igreja de Santa Efigênia dos Militares, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste de BH, o presépio montado no altar de São José prima pela delicadeza e originalidade. O titular da paróquia padre Aureo Nogueira de Freitas, entregou, desta vez, a responsabilidade de montar o cenário do nascimento de Jesus à artista plástica Eulâmpia Tomich Pimentel, moradora do vizinho Bairro São Lucas. A inspiração, segundo ela, veio das diversas regiões mineiras, com a valorização do artesanato e da paisagem.
Satisfeita com o resultado, Eulâmpia fez a gruta com uma colcha de tear, cobriu o piso com um tapete de arraiolo e espalhou sempre-vivas naturais dos arredores de Diamantina. Cipós torcidos do cerrado e vasos de cerâmica do Vale do Jequitinhonha compõem o cenário singelo. “Fiquei pensando durante muito tempo como fazê-lo e conversei com o padre Aureo. Com um ajudante, tudo foi feito numa manhã. Mas venho aqui sempre para ver se as peças estão no lugar certo”, contou a artista plástica. As peças também são muito bonitas, entre elas o anjo com a faixa Gloria in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas). “Ficou bonito. Nas casas da minha avó e minha mãe também há presépios e gosto muito de ver a montagem”, disse o engenheiro-agrônomo Elias Gabriel Franca de Toledo Alves, de 28, residente em Ouro Fino, no Sul de Minas, de férias em BH, onde nasceu.
TRADIÇÃO
A palavra “presépio” significa estábulo, manjedoura. São Francisco de Assis iniciou a tradição em 1223, nas redondezas de Greccio, Itália, com o objetivo de celebrar o Natal da maneira mais realista possível. Com autorização do papa, ele montou um presépio de palha usando uma imagem do menino Jesus, um boi e um jumento vivos perto dela. A ideia rapidamente se estendeu por toda a Itália, especialmente nas casas dos nobres e mais pobres. Na capital e no interior de Minas, a tradição de fazer presépios continua cada vez mais viva. As famílias se unem para retirar as figuras das caixas, desdobrar os panos enfeitados com esmeril e caquinhos de vidro, que formam as montanhas, buscar areia e pedras para montar a estrutura e, claro, contar histórias e lembrar dos antepassados. Em Santa Luzia, na Grande BH, há um circuito incluindo cerca de 40 residências, que abrem as portas para visitação a partir do dia 17.
Enquanto isso...
...Bênção na Praça
da Liberdade
Amanhã, às 19h, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, abençoa o presépio do Palácio Cristo Rei, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, que ficará aberto para visitação das 7h às 23h. Ele terá iluminação especial, folhagens e 11 peças em tamanho natural para representar o nascimento de Cristo (os três reis magos, o anjo Gabriel, José, Maria, o menino Jesus e animais do estábulo), além de exibição de mensagens natalinas do papa, do arcebispo e de bispos.
Homenagem a Nossa Senhora da Conceição
Dia de festa, devoção e agradecimentos no Bairro Lagoinha, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Da manhã à noite, milhares de pessoas participaram de missas, bênçãos e procissão em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, “cujo dia foi celebrado por católicos em todo o mundo”, conforme lembrou o arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo ao presidir a celebração eucarística das 8h. Embora Nossa Senhora da Boa Viagem seja a padroeira da capital, a Imaculada Conceição tem uma legião de fiéis na cidade, ressaltou o arcebispo. “Ela é Maria concebida sem pecado original e o amor das comunidades nasce dentro do coração da Igreja”, disse. “Este momento mostra que a cidade precisa crescer em solidariedade, na direção dos pobres e com muita consciência social e política”, completou. Em várias cidades da região metropolitana houve também comemoração religiosa e cortejos.
Com a festa, o Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora da Conceição, na Rua Além Paraíba, deu início ao centenário de lançamento da pedra fundamental da construção, ocorrido em 8 de novembro de 1914, contou o titular da paróquia e reitor do santuário, padre Gladstone Elias de Souza. “A nossa igreja marca a chegada a Belo Horizonte dos padres redentoristas, responsáveis pela edificação da Matriz de São José, na Avenida Afonso Pena”, disse. Ele lembrou um detalhe importante no templo, que é o recente conserto do relógio da torre, parado durante anos.
A estimava era de que cerca de 10 mil pessoas participassem da festa no santuário, que teve procissão luminosa no fim da tarde, saindo em direção ao Conjunto IAPI. Logo depois da missa das 10h formou-se uma longa fila diante do altar dedicado a Nossa Senhora. Com os olhos molhados pela emoção, a vendedora Alice Conceição Silva, de 26 anos, moradora do Bairro Céu Azul, na Região de Venda Nova, contou que só tinha a agradecer. “Em junho, tive um enfarte e pedi muito a Nossa Senhora para me ajudar a recuperar a saúde. Fiquei boa e tinha que vir aqui hoje rezar”, afirmou a jovem, que tem Conceição no nome em homenagem à santa, assim como a irmã Andreza.
As festas ocorreram também em igrejas dos bairros Santa Maria, Lindeia, Jardim Guanabara, Buritis e São Geraldo, em BH, bem como nos municípios de Betim, Contagem, Pedro Leopoldo, Raposos, Sabará e Santa Luzia, com destaque para o Mosteiro de Macaúbas.
Jubileu de ouro Na noite de ontem, foi aberto, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, o Jubileu de Ouro que marca os 50 anos de construção do templo católico, localizado no Bairro do Carmo, na Região Centro-Sul. Houve missa solene celebrada pelos frades carmelitas, apresentação do Coral Fran Pax e inauguração de monumento. À frente das comemorações, o titular da paróquia, frei Evaldo Xavier Gomes.