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Estado de Minas

Clube da Maturidade é fechado em BH por falta de alvará e projeto anti-incêndio

Idosos de até 92 anos adoecem de tristeza enquanto aguardam autorização para a retomada de bailes


postado em 09/09/2013 06:00 / atualizado em 09/09/2013 07:05

Para relembrar as reuniões, idosos bailam no hall do Condomínio Empresarial Cidade Jardim(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A.Press)
Para relembrar as reuniões, idosos bailam no hall do Condomínio Empresarial Cidade Jardim (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A.Press)

Há mais de 100 dias sem dançar, os sócios de 50 a 92 anos do Clube da Maturidade estão adoecendo de tristeza. Na falta do salão de baile, sob interdição do Corpo de Bombeiros e fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte, estão canceladas as memoráveis matinês que atraíam senhoras elegantes e veteranos pés de valsa. Duas vezes por semana eles se esqueciam das limitações da idade e rodopiavam sem parar na pista de dança.

“Fiscaaaal/Por favor, nos libera/Tá tão longa a espera/Quando é que isso vai ter fim?”, cantou a psicóloga aposentada Sônia de Miranda Brandão, de 75 anos, inspirada na letra do samba “Tristeeeza/Por favor, vá embora”. Sogra do compositor Márcio Borges, do Clube da Esquina, Sônia compôs a música em protesto contra a demora na regularização do processo do Clube da Maturidade. Entusiasmados, os idosos entoaram os versos em coro formando pares de dança no hall do Condomínio Empresarial Cidade Jardim, na Avenida Prudente de Morais.

Não foi por falta de aviso que o Maturidade fechou. Cerca de um mês e meio antes, em 18 de março, o clube já havia sido notificado e multado por falta de alvará. Por 16 anos, a filial mais chique do clube funcionou sem autorização no subsolo do Condomínio Empresarial Cidade Jardim. “Contávamos com alvarás provisórios, que eram renovados”, explica Maria José Lages Ottoni, ex-presidente do clube por dois mandatos e atual presidente do conselho deliberativo. Inconsolável com o fechamento da casa, Maria José revela já ter engordado quatro quilos devido ao aumento da ansiedade e da falta da atividade física da dança.

“Para nós, três meses sem baile é muito”, pontuou a ex-bailarina e comerciante aposentada Loise Jardim Valério, mais conhecida como Juju. Indignada, ela garante que, em 16 anos, nunca perdeu um único baile semanal até o fechamento do clube. Outro que tem pressa em reabrir a casa é o produtor cultural Júlio Varella, que completa 80 primaveras no próximo dia 23, na entrada da estação mais florida do ano. Ele já está com tudo orquestrado para dar um baile no clube, com o tema “Venha abrir a primavera/Venha dançar com Júlio Varella”.

Lacre

Cada um dos participantes do Clube da Maturidade sabe dizer de cor a data da interdição: 29 de maio. Ela ocorreu durante o anúncio dos aniversariantes do mês, em que seriam sorteados presentes a felizardos. Os fiscais da prefeitura e os bombeiros lacraram o salão de baile, impedindo a entrada dos participantes daquele dia em diante. “Foi muito triste. Aqui é o único lugar para onde saímos, pois evitamos passear à noite em BH. No clube, conheci e me casei com a Darci, que está entrando em depressão, com saudades das nossas reuniões”, comenta Dezito Silva, o Begê, de 69. “Esse clube é a extensão da nossa casa. Fizemos todas as reformas exigidas pelos bombeiros, que no final serão boas para os sócios”, disse o engenheiro aposentado Edésio Câncio da Cruz, nomeado coordenador das obras pela atual gestão do clube.

Em 30 de julho, a última vistoria do 1º Batalhão dos Bombeiros liberou o espaço para uso. No documento, lê-se que o estabelecimento é dotado de “hidrante, iluminação de emergência, sinalização de salvamento, extintores e saídas de emergência, logo, não vislumbramos situação de risco iminente de sinistro”. Ainda falta, porém, a autorização da prefeitura. Este ano, o rigor da fiscalização em danceterias e casas noturnas intensificou-se em todo o país depois do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que matou quase 250 jovens e feriu mais de 100 em janeiro.

Edifício deve ter 120 brigadistas

Até agora, o Clube da Maturidade já investiu em torno de R$ 200 mil na contratação de laudo técnico de engenharia e do projeto de incêndio, bem como nas obras de construção da escada de incêndio, instalação de seis extintores, hidrante interno, luzes de emergência, isolamento de ruídos e da fiação do palco. A última exigência dos bombeiros, porém, foi a formação de uma brigada de incêndio para o condomínio, com a adesão voluntária de 120 brigadistas.

“Não entendo a necessidade de um batalhão de brigadistas no nosso prédio, enquanto o Mercado Central conta com apenas oito. Não temos como obrigar os condôminos a aderirem ao projeto. Eles reclamam de falta de tempo para cumprir a carga horária do curso (20 horas) e alguns confessam ter medo de se ferir nas aulas práticas”, explicou o síndico do prédio, David Castellani. A reportagem do Estado de Minas tentou saber o posicionamento da Companhia de Prevenção e Vistoria do 1º Batalhão dos Bombeiros, mas não obteve retorno.

Diante do impasse, 72 idosos se candidataram ao posto de brigadista, apesar de alguns deles admitirem ter receio de se expor em aulas práticas de combate a incêndios. “Estão extrapolando nas exigências. Desconfio que estão querendo é fechar nosso clube”, lamenta Aldo Gregório, de 92 anos.

Via sacra em busca do alvará

Pressionada pelos sócios a resolver a situação, a filósofa aposentada Lenir Ferreira de Souza, presidente-executiva do Clube da Maturidade, não sabe mais que atitude tomar. Aos 80 anos, a dama dos salões passou a ‘bater ponto’ diariamente nas repartições públicas, desde o turno da manhã até o entardecer. “Esse trabalho não me cansa, o que desgasta é não conseguir resolver o problema”, desabafa a idosa, exibindo duas pastas lotadas de documentos, além da agenda pessoal abarrotada de anotações.

Nesta semana, a aflição dos participantes do Clube do Maturidade aumentou ainda mais, diante de nova negativa por parte da Gerência da Seção de Controle de Atividades da Prefeitura. “Já fizemos tudo o que foi pedido. Está tudo OK”, sustenta Lenir Souza. Ela explica que, para se enquadrar na lei, o clube foi obrigado a mudar a razão social, o estatuto e o código da atividade. No papel, o Maturidade passou a funcionar como filial da sede mais antiga, situada na Avenida Bias Fortes, no Centro da cidade.

Agora, a filial na Região Sul já tem alvará (número 2013148077) e a única pendência é a inclusão do código de atividade “dança de salão” no documento, que libera apenas as atividades do grêmio recreativo. Na realidade, o Clube da Maturidade não se limita a bailes. Conta também com aulas de idiomas, ioga, teclado, oficina bíblica e atividades como jogos de cartas, biblioteca e turismo.

“Acontece que, para concluir o processo do alvará, o clube vai precisar apresentar um estudo de impacto da vizinhança. Esse procedimento não é feito aqui”, informou Sandra Maria Jorge de Pádua, gerente da Seção de Controle de Alvarás da PBH. Ela explica que, antes da Lei Estadual 9.959, de 2010, era mais simples tirar o alvará. Agora, além do licenciamento ambiental, é preciso requerer também o licenciamento urbanístico da casa no Conselho Municipal de Política Urbana.


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