
Representantes de museus do Circuito Cultural Praça da Liberdade cobram da Prefeitura de Belo Horizonte regras para eventos no cartão-postal da capital, nos moldes do que ocorreu na Praça da Estação há cerca de três anos. A gota d’água para a reação foi um festival de jazz no último domingo, na praça e na Alameda da Educação. A estrutura dos palcos e a música alta comprometeram o funcionamento dos espaços vizinhos, além de representar risco aos prédios tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). A discussão sobre o uso da praça ganha corpo na semana de lançamento de mais uma atração no circuito, com a abertura da exposição permanente do Palácio da Liberdade, no domingo.
Gestores da instituição mais prejudicada, o Museu das Minas e do Metal (MMM), no antigo prédio da Secretaria de Estado de Educação, elaboraram relatório com fotos dos problemas que enfrentaram e encaminharam ao Circuito Cultural Praça da Liberdade. A diretora do MMM, Helena Mourão, conta que a vibração das caixas de som fez os vidros e equipamentos do museu trepidarem, incluindo as janelas do salão nobre, originais do século 19. “O som era absurdamente alto e o palco estava montado muito perto do museu. O acervo de mineralogia é muito sensível e as amostras se deslocam, assim como os projetores. Com isso, tivemos que manter fechadas seis atrações”, conta.
Com estrutura de dois palcos, além de tendas e barracas de alimentação, o BH Jazz Live, que tinha autorização da prefeitura e do Iepha, reuniu ao longo de todo o dia cerca de 5 mil pessoas. “É inconveniente a prefeitura autorizar um evento sem levar em consideração o funcionamento dos museus. Para montar um palco, a equipe podou um ipê sem o menor critério”, afirma Helena. “Daqui para frente, se voltarem a acontecer eventos dessa forma, o museu fecha as portas. Estamos com a responsabilidade de cuidar deste patrimônio estadual”, completa, sem esquecer de fevereiro do ano passado, quando mais de 10 mil pessoas foram à praça para um show do grupo Mobobloco.
Adequação

Em nota, a Vale, responsável pela manutenção da praça e gestora do Memorial Minas Gerais, informou estar em diálogo com a Prefeitura de Belo Horizonte para contribuir com a definição de regras específicas para eventos. “Tal definição visa a estimular o uso e apropriação do espaço pela comunidade, com eventos adequados ao perfil do espaço, mas de forma a minimizar eventuais impactos às áreas verdes, ao patrimônio público e aos bens tombados instalados na praça e em seu entorno”.
Espera por regras passa de um ano
Em fevereiro do ano passado, um show com a banda carioca Monobloco reuniu mais de 10 mil pessoas na Praça da Liberdade, causando estragos aos jardins e ao patrimônio do cartão-postal. Na ocasião, a Prefeitura de Belo Horizonte havia prometido a definição de regras para uso do local, compatíveis com sua preservação. Na semana passada, mais problemas voltaram a ocorrer, mas nem assim há previsão para uma regulamentação de eventos no espaço, que recebeu 146 festas desde o início do ano passado.
Apesar da tentativa de diálogo de integrantes do Circuito Cultural Praça da Liberdade, que reúne museus e centros culturais no entorno da praça, em nota, a Regional Centro-Sul é clara: “Não temos previsão sobre esse assunto”. Atualmente, os eventos no local seguem a mesma orientação do restante da cidade, com a ressalva da necessidade de aprovação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
Em sua terceira edição, sempre na Praça da Liberdade, o BH Jazz Live reuniu no domingo atrações do estilo musical das 11h30 às 22h. Apesar das queixas, a prefeitura não identificou problemas. “No caso desse evento em específico todas as normas foram cumpridas e não houve nada que inviabilizasse seu acontecimento”, informou nota da Regional Centro-Sul.
A licença foi concedida para um público com dimensão de 2,5 mil pessoas. Apesar do saldo de 5 mil participantes, a organização garantiu que houve rotatividade dos frequentadores ao longo do dia. O Iepha também deu aval para o evento. Na avaliação do órgão de proteção ao patrimônio, não havia nenhum impedimento. “Até o momento o Iepha não recebeu nenhuma notificação de dano à Praça da Liberdade nem reclamações formais de nenhuma natureza”, informou o órgão.
A produtora da Art BHZ, organizadora do evento, Ana Maria Lima Santos, ressalta que o BH Jazz Live contou com todo licenciamento. “Tudo foi montado seguindo a orientação dos zeladores da praça. Não recebemos diretamente nenhuma reclamação da vizinhança. No dia seguinte, entregamos a praça 100%, sem qualquer dano”, afirma. Sobre a poda indevida de um ipê, ela reconhece o equívoco. “Isso foi feito pela empresa que montou o palco, sem a nossa autorização”, ressalta.
MEMÓRIA: Critérios em uma outra praia
Em maio de 2010, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, publicou portaria regulamentando eventos na Praça da Estação. O público ficou limitado a 15 mil pessoas. Além disso, organizadores têm que cumprir regras como a obrigatoriedade de instalação de um banheiro químico para cada 100 pessoas, o cercamento de monumentos e jardins, entre outras normas. Antes do decreto, entretanto, o prefeito proibiu a realização de eventos no local, o que causou reação imediata da população. O movimento Praia da Estação foi organizado em oposição à proibição, levando centenas de jovens em roupas de banho à praça.
