
Do alto do morro, perto dos profetas, quem aprecia a vista enxerga um casario descaracterizado e pressionando monumentos que resistiram ao tempo, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Nas ruas, placas, lojas, carros e poeira de minério deixam a história como mera coadjuvante. “Congonhas foi tombada na mesma época em que Ouro Preto e é a prova de que o tombamento por si só não garantee a preservação. O núcleo histórico acabou e a reversão desse processo é impossível”, afirma o coordenador das promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), promotor Marcos Paulo de Souza Miranda.
A depredação do patrimônio da cidade ganhou força a partir da década de 1970, com o aumento da atividade minerária, de acordo com o promotor de Justiça de Congonhas Vinícius Alcântara Galvão. O tempo passou, mas as ameaças persistem. Agora, o Ministério Público estadual volta sua atenção para loteamentos lançados recentemente e situados em áreas de sítios arqueológicos. “Estamos fazendo perícias em todos os loteamentos. Estamos trabalhando para regularizar essa situação do parcelamento do solo em Congonhas”, ressalta Galvão.
Desde 2011 a Prefeitura de Congonhas tenta diminuir o problema da sujeira, com a fiscalização de veículos na cidade. Para tentar desafogar o trânsito, a administração municipal também promete a construção de dois corredores que ligarão a Região Central à Norte, além da Avenida do Contorno. Segundo o Executivo, um convênio foi firmado com a Caixa Econômica Federal para financiar proprietários que queiram recuperar imóveis em áreas reconhecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como sítios históricos. Iniciada na Praça JK, a reforma de passeios e a troca do asfalto por piso intertravado em todo o Centro, Praça da Matriz e Igreja do Rosário dependem ainda da liberação dos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas (PAC Cidades Históricas).
Patrimônio se apaga em Caeté
Dinheiro é um dos desafios para municípios menores darem um salto para reencontrar o passado, na avaliação da secretária de Cultura de Caeté, Cássia Paes. “Para conseguir qualquer verba, você precisa de um projeto, mas, para elaborar projetos, precisa de recursos, muitas vezes vultosos. Historicamente, a parcela maior vai para cidades mais reconhecidas, como Ouro Preto ou Tiradentes”, afirma. Enquanto isso, a antiga Vila Nova da Rainha, uma das primeiras vilas do ouro e palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709), vê sua história se apagando.
Na Praça João Pinheiro, endereço da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, de 1757, tombada pelo Iphan, postes, fios e transformadores roubam a cena. Um ponto de ônibus com ares modernos ofusca a vista do casario antigo onde funcionou o serviço militar, no Centro da cidade, onde a história já não é mais reconhecida nem pelos próprios moradores. “Caeté não é um centro histórico. As casas não foram tombadas e acabaram substituídas por construções novas. É uma cidade que não soube valorizar seu potencial”, afirma a estudante de direito Ariely Milian Silva, de 26 anos, que nasceu e cresceu no município.
