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Estado de Minas

Parque Municipal vira refúgio de moradores de rua em BH


postado em 31/03/2013 00:12 / atualizado em 31/03/2013 07:55

Sem-teto dormem à tarde nos bancos do parque: à noite, muitos vão para a praça da liberdade para evitar guardas municipais(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Sem-teto dormem à tarde nos bancos do parque: à noite, muitos vão para a praça da liberdade para evitar guardas municipais (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Andar em grupos é uma forma de proteção dos moradores de rua. E a maioria se sente mais segura nas áreas mais centrais de BH. No Parque Municipal, é possível contar pelo menos 50 deles espalhados pelos jardins, sobre bancos e gramados, dormindo, conversando ou bebendo cachaça. Ao lado do prédio do antigo Colégio Imaco, bate-papo com Divino da Silva, pedreiro, de 55 anos, Jean Gomes da Silva, ajudante de pedreiro, de 36, e Flávio Celso da Silva, que já trabalho uem “serviços gerais”, de 38, mostra que nem todos estão ao relento por opção ou porque perderam a convivência em casa.

“Eu tinha meu barraco na Vila São José e trabalhava de carteira assinada. Quando a prefeitura foi lá cadastrar o pessoal para a desapropriação, por causa da obra de ligação da Pedro II com a Pampulha, eu estava no serviço. Um dia, chego cansado e meu barracão não estava mais lá. Derrubaram tudo. Perdi minhas coisas, como botijão de gás, fogão e outros utensílios. O processo corre na Fazenda municipal, porque sem residência fixa não consigo arrumar emprego. O sistema me botou na rua”, afirma Divino.

Jean conta que morava no Bairro Santa Terezinha, com a mãe e a avó. “Eu pagava R$ 70 de aluguel ao meu tio. Minha mãe e minha avó morreram, perdi o rumo e parei de pagar pela moradia. Meu tio me expulsou de lá.” Os três abrem as mochilas, tiram as carteiras de trabalho para mostrar que, até há pouco tempo, eram pessoas produtivas. Hoje, passam o dia no parque e dormem na Praça da Liberdade. “Aqui, os guardas municipais não deixam a gente nem escovar os dentes num dos bebedouros. Na praça, não. A gente até toma um banho, usando um balde para tirar água da fonte”, diz Divino.

Os três são cadastrados nos restaurantes populares. Tomam café da manhã, almoçam e têm uma sopa à noite de graça. Os dias no parque são, invariavelmente, regados a cachaça, comprada com os trocados que ganham dos frequentadores da área verde. “A gente bebe para aguentar essa realidade”, diz Jean, que gosta de viajar, a pé. “Já fui a Santa Catarina e ao Rio. Daqui ao Rio são 15 dias de caminhada. Durmo perto dos postos de gasolina e peço sobras de comida no restaurante. Viajo para refrescar a cabeça.”

E a insegurança na ruas? “É o preconceito. Somos vistos como ladrões, bandidos. Às vezes, até gente bacana nos agride. Temos que dormir de olho aberto porque até coquetel molotov jogam em nós. Mas a maioria é gente boa, até nos cumprimenta.” De repente surge o Grande ou Fábio Júnior, de 38, que se recusa a dar o nome de batismo. Articulado, fala diferente dos demais, mostra conhecimento. “Estudei até a 6ª série e estou sempre na internet. Uso o computador do BH Resolve ou do Centro Cultural da UFMG. Adoro biografias, que busco no Wilkpédia.” A condição de Grande é diferente da dos demais companheiros de Parque Municipal. Saiu de casa, em BH, porque quis e não pretende voltar para curtir com liberdade o seu gosto pela droga e a bebida.

Há quem se sente incomodado com a presença deles, como serralheiro Márcio Henrique da Silva, de 30, morador de Nova Lima, na Grande BH, que passeia pelo parque com os filhos Gabriel, de 3, e Gabrielle, de 5. “Incomodam sim, ocupam bancos e jardins e são inconvenientes ao pedir dinheiro.” Já Alex Barros, técnico em tele-comunicações, de 26, e Paola Cristiane Alves, de 23, que estão sentados com filha a Laís, de um mês, em frente ao lago dos barcos, não veem problema. “Não nos incomodam. Mas a prefeitura devia tirá-los das ruas.”

Divino, Flávio, Jean e Grande comungam a rejeição aos abrigos municipais. “Não podemos reclamar do banho, da alimentação, dos assistentes, mas os guardas municipais não são educados no tratamento”, conta Divino. A assessoria da corporação informou que todos os cidadãos, independentemente da condição social, têm tratamento igual e só são abordados quando infringem a lei. “O morador de rua tem, assim, seu direito de ir e vir garantido.”




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