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Estado de Minas

Mineiras ficam 15 meses a mais nas salas de aula do que os homens

Dados são de pesquisa do IBGE. Dedicação à formação intelectual se dá para conseguir melhor remuneração


postado em 29/11/2012 04:02 / atualizado em 29/11/2012 08:18

A bióloga e pós-doutoranda Luana Dourado concilia a carreira acadêmica com os afazeres domésticos, incluindo o filho, Lucas(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
A bióloga e pós-doutoranda Luana Dourado concilia a carreira acadêmica com os afazeres domésticos, incluindo o filho, Lucas (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)

As mulheres de Minas ficam mais tempo nos bancos de salas de aula, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2012. De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, elas dedicam 15 meses a mais à formação intelectual, até numa tentativa de conseguir melhor remuneração. Os números mostram que as mulheres estudam em média 8,9 anos, enquanto a média para homens é de 7,6 anos. Os dados, porém, são inferiores ao total do país, que registra 7,9 anos para homens e 9,2 para mulheres.


Casada há cinco anos com um engenheiro elétrico, a pós-doutoranda Luana Dourado, de 32 anos, estudou sete anos a mais que o marido. Desde a graduação, foram 12 anos e falta mais um para terminar a especialização em microbiologia. No dia a dia, cumpre sete horas nos laboratórios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o que lhe garante uma bolsa de estudo correspondente a 50% do valor do salário do marido. Em casa, ela ainda cuida de tudo, conciliando o tempo com o filho, Lucas, de 1 ano e meio, que frequenta a creche desde os quatro meses.

“Meu trabalho é acadêmico, ganho para produzir conhecimento e tinha um objetivo claro de que ainda não era hora de dar uma pausa na carreira, quando Lucas nasceu. Tirei a licença e voltei quando ele ainda mamava no peito. Na hora de almoço, ia até a creche. Achava que seria difícil e fiquei apreensiva, mas não chegou a ser traumático, como imaginei”, conta Luana, que diz ter dado sorte com o marido. “Tenho faxineira duas vezes na semana e cuido do resto em casa, do jantar, das roupas deles. Mas nem posso reclamar porque ele me ajuda.”

Anna Caroline abandonou os estudos por causa do nascimento do filho, Lucas, mas quer voltar ao mercado de trabalho e faz curso técnico (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Anna Caroline abandonou os estudos por causa do nascimento do filho, Lucas, mas quer voltar ao mercado de trabalho e faz curso técnico (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Para Luana, bióloga por formação que ainda fez mestrado e doutorado, o marido ganha mais porque a profissão dele é de uma área do conhecimento mais valorizada. “Acredito que uma engenheira no cargo dele ganharia a mesma coisa.” Segundo o IBGE, há diferenças ainda para raça/cor, uma vez que os ganhos de pretos e pardos equivalem a 66,7% do rendimento dos brancos.

O estudo do IBGE também aponta a maior inserção dos jovens na universidade e no mercado de trabalho. Em Minas, a maioria das pessoas cursam a educação fundamental (91,2%) e o ensino médio (88,1%) na rede pública, situação que se inverte no ensino superior, em que 75,1% dos alunos estudam em estabelecimentos privados. Segundo a demógrafa Luciene Longo, os estudantes vindos de escolas públicas não têm nível de aprendizado suficiente para conseguir vaga em universidade pública.

 “Já em relação à frequência escolar, embora Minas tenha uma taxa bruta inferior à do Brasil para a população de 6 a 14 anos, com idades em suas séries correspondentes (taxa líquida), o estado apresenta números ligeiramente maiores do que a média nacional”, diz Luciene. Segundo o levantamento, a frequência escolar mineira é de 26,8% ante 28,7% em nível nacional. No que diz respeito à faixa etária de 6 a 14 anos, na taxa líquida, a presença na escola é de 94,5% para Minas e 91,9% para o Brasil. Para Luciene, a reflexão é sobre a permanência. “Dá para perceber que o acesso tem melhorado, mas a média de anos de estudo, ou seja, tudo o que todo mundo tem que estudar, Minas tem uma situação bem inferior. E diminuir essa desigualdade ainda vai levar tempo.”

 

O "poder" da creche

A estudante Anna Caroline Leandro Costa, de 27, cursou a educação básica em escola pública e foi aprovada no vestibular para fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), mas precisou interromper os estudos no terceiro período porque não conseguiu arcar com as despesas. Anna tentou, então, a UFMG, mas não foi aprovada. “Aí, engravidei e optei por parar de estudar porque meu filho ficava sempre doente na creche e não consegui um turno nas faculdades que conciliasse com o horário dele (na creche). Também trabalhava, mas decidi ficar em casa e cuidar do Lucas.”

Segundo o estudo, as mulheres continuam afetadas por um fator preponderante para a vida profissional: aquelas com mais de 16 anos e que têm filhos com idades entre 0 e 3 anos fora da creche têm participação menor no mercado de trabalho (49,2%), quando comparadas às mulheres com filhos que nessa faixa etária já frequentam escolinhas (77,9%). Os números de 2011 indicam que Minas tem percentuais um pouco melhores em relação à média do país, em que 43,9% das mulheres com filhos pequenos fora da creche conseguem trabalhar e 71,7% daqueles que têm filhos estudando estão inseridas no mercado. Anna Caroline, entretanto, quer voltar ao mercado de trabalho e está se preparando para isso. Como o filho Lucas fez 5 anos este ano, se matriculou no curso técnico de gestão de recursos humanos da Unatec. “Estou fora do mercado de trabalho há muito tempo. Por isso, preciso fazer cursos extracurriculares para me sentir mais preparada.”


Diferenças no trabalho formal

No Brasil, o avanço da economia na última década resultou em formalização do mercado de trabalho. De 2001 a 2011, o percentual de pessoas sem carteira assinada caiu de 54,7% para 44%, segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Minas, o que se percebe são dois lados bem distintos. De um, a Grande BH com patamar de formalização entre os mais altos do Brasil. Do outro, o Vale do Jequitinhonha e a Região Norte se assemelham ao cenário das regiões Norte e Nordeste do país, onde prevalece ainda a informalização do mercado de trabalho.

No Sudeste, Minas apresenta o maior percentual de trabalhadores na informalidade, com 42,4% das pessoas ocupadas sem carteira assinada. Apesar do percentual elevado, devido à heterogeneidade do estado, o dado não retrata o que se passa nos quatro cantos do estados. Na Grande BH, por exemplo, o percentual de informalidade é de 30,6%. “A gente brinca que Minas é a síntese do país. O Norte e o Jequitinhonha têm características parecidas com das regiões Norte e Nordeste do país”, afirma a analista do IBGE, Luciene Longo.

Devido ao desequilíbrio no estado, no ranking nacional o indicador mineiro fica no meio da tabela. O percentual de informais é superior aos estados das regiões Sul e Sudeste, enquanto é inferior ao dos nortistas e nordestinos. O pedreiro Antônio Ozolino está entre os moradores da Grande BH que permanecem sem carteira assinada, mas não reclama. "Não fico parado. Um indica para o outro e assim sempre consigo trabalho”, afirma.

Retratos de um país menos desigual

Os extremos entre pobres e ricos, notadamente marcados no Brasil, apresentaram ligeira diminuição ao longo da última década. Medida por diversos indicadores e aspectos sociais e econômicos, a distribuição de renda no país passou de 0,559, em 2004, para 0,508, em 2011, conforme a Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE. O dado refere-se ao coeficiente de Gini, de forma que quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade. Exemplo claro dessa mudança é que, de acordo com a pesquisa, a razão entre a renda familiar per capita dos 20% mais ricos em relação aos 20% mais pobres caiu de cerca de 24 para 16,5 vezes, entre 2001 e 2011.

Apesar da evolução, a desigualdade persiste. Conforme o estudo, os 20% mais ricos ainda detêm quase 60% da renda total, em contrapartida ao pouco mais de 11% detidos pelos 40% mais pobres. “A diferença está caindo, mas ainda é muito grande no país porque o Nordeste e o Norte elevam os índices”, explica a demógrafa do IBGE, Luciene Longo.

Sobre as características da população, o levantamento do IBGE mostra que em 10 anos o número de idosos passou de 15,5 milhões, em 2001, para 23,5 milhões de pessoas, no ano passado e representam 12,1% da população. Outro dado se refere ao excesso de peso entre crianças e adolescentes. De acordo com o relatório, 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estão com sobrepeso, contra 4,1% com déficit de massa corpórea. Entre jovens, com 10 a 19 anos, 20,5% deles apresentam sobrepeso, ante 3,4% com "magreza" excessiva.

VIOLÊNCIA Ao analisar o nível de segurança, 67,1% das pessoas se sentem seguras em seus bairros, contra 78,6% em seus domicílios. Em Minas, esses percentuais são mais altos do que a média nacional – 79,1% dos mineiros declararam se sentir seguras em seu domicílio e 69,9% no seu bairro.

Minas lidera incidência de dengue

Minas Gerais se destaca pela incidência de dengue, com taxa de 268,6 casos por 100 mil habitantes. O número é bastante superior às taxas do Rio de Janeiro (44,8) e de São Paulo (28,8), mas inferior à do Espírito Santo (962,4), segundo a pesquisa do IBGE. Em relação aos dados nacionais, o estado também tem taxa mais elevada que a do Brasil (204,3). Sobre os casos de tuberculose, Minas apresentou a menor taxa do Sudeste (21,4), inferior à taxa nacional (38,4).


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