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Estado de Minas

Praça tem strip, abusos e batidas inúteis

Menores se infiltram no universo que gravita em torno da Raul Soares, onde boates oferecem shows com gogo boys e muito álcool. Vizinho, Comissariado da Infância nada consegue fazer


postado em 19/08/2012 07:19

Dependendo do frio, do chamariz das boates ou dos jogos daquela noite, a Raul Soares irá atrair um tipo de público com maior ou menor poder aquisitivo, faixa etária e de bairros bem distintos. No último fim de semana de julho, uma das casas de shows trazia como atração “meninos malvados”, que se apresentariam como gogo boys e prometiam “strip total”. Em 14 de agosto, véspera de feriado, haveria a distribuição gratuita de vodca com energético (uma dose por pessoa), além de shows com drag queens. A sinalização de que a noite vai dar ou não movimento, porém, vem de um dos bares do entorno da praça, que poderá recolher as cadeiras mais cedo de cima do passeio.

Nos bares e botecos nas imediações da praça são comuns as batidas do Comissariado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, cuja sede fica a poucos quarteirões dali, no número 600 da Avenida Olegário Maciel. As inspeções se limitam, porém, a verificar a venda e o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade nos estabelecimentos.

Ângela Maria Xavier Muniz, coordenadora do comissariado, diz ser mais difícil detectar a exploração sexual de adolescentes em espaços públicos. “Se não houver denúncia ou se a equipe não tiver certeza de que se trata de menor de idade exposto à exploração, há o risco de causar constrangimento na menina ou no menino, o que também seria crime. Ao ser abordados, eles podem alegar que estão ali por livre e espontânea vontade”, explica.

Segundo a coordenadora, a equipe está pronta para agir, caso haja denúncias concretas de pedofilia ou exploração, mas precisa ter cautela em relação aos movimentos da causa gay. “As pessoas têm o direito constitucional de ir e vir, de estar em logradouros públicos. Temos de ser cuidadosos, porque os movimentos podem levar pelo lado da discriminação, da homofobia”, afirma.

Flagrante

Nas questões de ordem sexual, o comissariado prefere centrar fogo em motéis, hotéis, casas de massagem e saunas, onde podem fazer flagrantes com mais facilidade. O artigo 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a entrada ou permanência de menores de 18 nesses estabelecimentos. Se o limite de idade for inferior a 14 anos, o acompanhante é imediatamente preso e poderá responder a processo criminal. Já os adolescentes entre 14 e 16 anos são detidos e encaminhados à delegacia.

Nesse caso, os documentos são apreendidos e os pais são chamados a retirá-los. “Normalmente ocorre um chororô danado, pois os pais nem desconfiavam da vida dupla do filho”, revela Ângela Muniz, lembrando que a maior parte deles se apresenta com a identidade do irmão mais velho ou de colegas de escola. “É fácil descobrir a verdade. Basta perguntar o nome do pai ou da mãe e a data de nascimento. Eles nunca sabem. Aí damos uma bronca, ameaçamos abrir processo por falsidade ideológica”, resume a coordenadora.

Entrevista

R., ex-frequentador da praça raul soares

Depois de ser espancado ao tentar se aventurar em um programa quando jovem, R. faz questão de denunciar os absurdos que já presenciou entre os garotos de programa e como morador de um dos edifícios no entorno da Raul Soares. “O medo de rejeição é tão grande que a gente acaba se machucando por dentro e por fora”, resume.

Qual é a sua visão sobre a Raul Soares?

É um mundo de fantasias. As pessoas que vêm para cá acham que tudo aqui é bonito, que aqui é legal de viver, que todo mundo aqui é seu amigo, mas no fundo é uma enganação. Atrás disso, há pessoas querendo vender drogas e injetar menores dentro das boates para fazer programas. Já vi meninos espancados, caídos no chão sem receber um centavo.

Como você percebeu isso?

Comecei a me descobrir mais tarde, com 16, 17 anos. Um dia, estávamos eu e um menino que conheci. Parou um carro e entramos. Eles nos molestaram. Eu ainda consegui fugir, mas já estava todo arrebentado. Quando voltei para casa, não tive coragem de contar o que tinha acontecido. Inventei que tinha sofrido um assalto. Até hoje, tenho marcas de facadas e de mordidas pelo corpo.

A violência é geral?

A iniciação dos homossexuais começa cada vez mais cedo, aos 11, 12 anos, e a violência pode ser vista nas praças, saunas gays, banheiros de shoppings da Zona Sul. A PM vê as abordagens acontecerem e não faz nada, nem a Guarda Municipal, o Juizado de Menores, a Defensoria. Conheço um rapaz de 11 anos que começou a fazer programas por ordem da própria mãe. Ela disse a ele: “Já que você quer ser veado, então vai arrumar dinheiro para pôr em casa”.


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