
“Ouro Preto comemorou no ano passado 300 anos de elevação a Vila Rica e hoje festejamos três séculos de cidadania espiritual”, disse, com alegria, o titular da paróquia, padre Marcelo Moreira Santiago. “A fé está arraigada na vida da comunidade desde os tempos coloniais e o nosso sentimento hoje é de gratidão a todos os que construíram essa história”, afirmou o padre durante a celebração eucarística das 15h, que teve momentos emocionantes, como a coroação de Nossa Senhora do Pilar e consagração das famílias à padroeira.
Composta de 23 templos e considerada das mais ricas do país em patrimônio cultural, a Paróquia do Pilar foi elevada a essa condição em 1712, quando o bispado do Rio de Janeiro nomeou um pároco e autorizou a compra de vasos sagrados e paramentos para a realização dos sacramentos. Com a exposição inédita, ontem, da prataria no altar, o interior da igreja adquiriu um aspecto ainda mais espetacular, num contraste com o dourado dos anjos e dos retábulos e policromia das imagens.

No fim da missa, um grupo de mães, todas vestidas de túnicas brancas e carregando rosas na mesma cor, entrou na igreja para coroar a padroeira. “Já alcancei muitas graças por intercessão de Nossa Senhora do Pilar, que é tudo para nós”, disse a paroquiana Délcia do Carmo Soares, de 80 anos, ao lado da ministra da eucaristia Maria do Carmo Barros e Santos. “Trezentos anos... é muito chão, não? Mas isso mostra a devoção do nosso povo”, afirmou Délcia.
SINOS E MÚSICA
O dia festivo começou com repicar de sinos e muitas orações. À noite, com a presença de dom Geraldo, houve, no Pilar, apresentação da Missa da coroação, de Mozart, e peças do compositor Lobo de Mesquita pelas orquestras Jovem da Escola de Música Padre Simões e Sinfônica da Polícia Militar. Ao fim, papel picado foi jogado da sacada da igreja e a imagem recebida por jovens vestidas de anjo.
A professora de educação física Clara Maria Silva Reis disse que o tricentenário é parte importante da história de Ouro Preto. “E também para a nossa religiosidade, pois, sem Nossa Senhora, não podemos caminhar e seguir adiante.” Maria Sebastiana Pereira, de 79, pediu para a cidade a “graça da paz”. O sobrinho Gustavo Costa de Paula Alves, de 18, encontrou nas palavras “refúgio e proteção” as melhores para descrever seu amor por Nossa Senhora. Ao lado da neta Patrícia, de 5, a aposentada Maria da Conceição Magalhães, de 64, disse que fez questão de levar a menina à igreja “para que ela siga no caminho de Deus”.
CURIOSIDADES
Até a Independência do Brasil, o pároco da Matriz do Pilar era nomeado pelos reis de Portugal, já que a igreja era o templo oficial do Senado da Câmara. Depois, a nomeação passou a ser do papa
No Pilar, sempre prevaleceu a norma do vigário colado, o que
quer dizer fixo. Dessa forma, os padres responsáveis pela paróquia só saíam do cargo ao morrer. Hoje, o padre é nomeado pelo bispo de Mariana, sem o caráter de “colado”
Durante o século 20, a Matriz do Pilar teve dois párocos,
nomeados pelo papa: o padre João Castilho Barbosa, que ficou de 1906 a 1963, e o padre José Feliciano da Costa Simões, o padre Simões (1931-2009), que ficou de 1963 a 2009. De 1845 a 1906, o responsável foi o cônego José Joaquim de Sant’Anna, que foi senador do império e governador da província de Minas Gerais
A Igreja do Pilar é uma das mais ricas do país, mas, segundo
sua administração, é impossível quantificar o tanto de ouro presente nos altares, imaginária e demais elementos artísticos
Em alguns dias do inverno, a luz solar que entra pelo óculo
(vidraça na fachada entre as torres), ilumina diretamente o sacrário, que tem a mesma dimensão e formato dele
