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Estado de Minas

Moradores deixam casas em áreas verdes para voltar à selva de pedra da capital

Dificuldade de acesso à capital e proliferação de residenciais no entorno de BH dão origem a fenômeno inverso: na contramão do caminho da roça


postado em 04/08/2012 06:00 / atualizado em 04/08/2012 07:06

Criada em moradia cercada de mata, Nathalia Sifuentes voltou para a capital e hoje se adaptou a cultivar o verde dentro de apartamento cercado de prédios(foto: EULER JÚNIOR/EM/D.A PRESS )
Criada em moradia cercada de mata, Nathalia Sifuentes voltou para a capital e hoje se adaptou a cultivar o verde dentro de apartamento cercado de prédios (foto: EULER JÚNIOR/EM/D.A PRESS )
O que é qualidade de vida para você? A resposta a essa pergunta é a chave para entender um movimento, ainda tímido, mas já perceptível, de pessoas que têm trocado a vida bucólica em condomínios fechados no entorno da capital por apartamentos em uma selva de pedra chamada Belo Horizonte. Na contramão da tendência de êxodo em direção a áreas cercadas por segurança e natureza, famílias têm se mudado para a capital por entender, principalmente, que qualidade de vida é passar mais tempo juntos, e não em meio a um trânsito pesado no percurso casa/trabalho. Se já houve um tempo em que empreendimentos em Nova Lima, por exemplo, se anunciavam com o atrativo de estar a “15 minutos do BH Shopping”, engarrafamentos foram capazes de triplicar esse tempo e tirar do sério quem enfrenta diariamente essa corrida de obstáculos.

Nesta semana, a fashion stylist Mariana Sucupira, de 35 anos, deu início à reforma do apartamento que será o novo “lar, doce lar” da família, na Rua Gonçalves Dias, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Depois de quase uma vida inteira morando no Estância Serrana, em Nova Lima, decidiu vir de mala, cuia, marido e dois filhos para BH, em busca de uma nova rotina. “Quando me vejo três horas todos os dias dentro do carro, acho que isso não está certo. Comprei um apartamento próximo a uma praça, e agora meu plano é fazer tudo a pé: levar meus filhos à escola, ir à padaria...” Desde os 10 anos ela mora em condomínio fechado e, até então, nunca havia se importado com as distâncias. “O problema é que o trânsito, de três anos para cá, piorou muito”, afirma.

Que o diga a paisagista Clarice Russi Maia, de 60 anos, que por 17 viveu em meio à tranquilidade e ao verde numa casa no Condomínio Ville de Montagne, também em Nova Lima. Ela é categórica ao falar do motivo que a levou a se mudar para um apartamento no Bairro Buritis, na Região Oeste de BH: “O trânsito. Tinha dia que gastava uma hora para chegar ao BH Shopping, sendo que antes levava 15 minutos, no máximo. Não adiantava ter uma casa maravilhosa, com riacho e mata preservada, e enfrentar isso todo dia”, comenta. A filha Nathalia Sifuentes, de 27, foi um pouco resistente à decisão dos pais. No dia da mudança, não conteve as lágrimas, mas hoje se considera completamente adaptada à nova realidade e feliz com as facilidades da vida na cidade.

“Passei a sair mais à noite e nem preciso pagar a taxa de retorno do táxi; agora tenho acesso ao serviço de entrega dos restaurantes, chego mais rápido ao trabalho, posso ir a pé à padaria”, enumera Nathalia. Quanto ao ambiente bucólico, a família encontrou formas para compensar a perda de morar ao lado da mata de uma propriedade com ares de fazenda. Os móveis rústicos foram mantidos e plantas não faltam no apartamento. Nathalia, que além de empresária é chefe de cozinha, fez questão de manter uma horta com ervas e pimentas em um dos vasos da varanda. “Temos também um sítio no Sul de Minas. Essas são nossas válvulas de escape. Caso contrário, não daríamos conta”, revela Clarice.

Choque

Depois de mais de uma década no Condomínio Vila Del Rey, também em Nova Lima, o arquiteto Carlos Teixeira, de 45, há quatro meses migrou para um apartamento na Savassi, Região Centro-Sul de BH. O contraste entre as descrições de cada lar é como um choque de cultura. No condomínio, uma casa de vidro de 300 metros quadrados, com pé-direito de nove metros, era como uma clareira no terreno de 1,8 mil metros, dominado por mata preservada. Entre as árvores de sua floresta particular, o arquiteto cultivava 300 exemplares de orquídeas e bromélias e também chegou a criar patos e galinhas. De volta a BH, Carlos e a mulher, Gabriela, dividem apartamento de 200 metros quadrados, com janelas voltadas para o jardim do prédio. O lado maçante que fazia parte da rotina do casal ajuda a explicar a mudança tão drástica de ares.

“Na época, nos mudamos para o condomínio para ter mais contato com a natureza, mas, de lá para cá, até por uma questão de segurança, a região começou a se adensar sem nenhum planejamento e começou a ficar complicado em termos de acessibilidade”, conta Carlos. Como a esposa do arquiteto não dirige, a dificuldade de deslocamento acabou complicando o dia a dia da família, já que o transporte público era escasso. “Agora, quase não uso carro e gasto oito minutos a pé até o trabalho. Chego mais cedo em casa, leio mais e substituí minhas caminhadas no condomínio por caminhadas urbanas”, conta. As opções culturais também se multiplicaram com a mudança para BH. No domingo mesmo, Carlos se gabou por curtir, de casa, música da melhor qualidade, durante festival de jazz que ocorreu em seu quarteirão.


Condomínios crescem 200%

A Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG) estima aumento de 200%, na última década, do número de condomínios na Grande BH. “Se antes estavam concentrados em Lagoa Santa e Nova Lima, atualmente todos os municípios da região metropolitana já aderiram ao modelo. Condomínios desoneram a administração pública, pois toda a parte de urbanização, segurança e paisagismo é feita por associações”, afirma o presidente das loteadoras da CMI/Secovi-MG, Jader Nassif. A entidade ainda está levantando o número exato de condomínios atualmente. Diretor corporativo de uma imobiliária, Marcelo Costa Borges, há 25 anos no ramo de loteamentos, afirma que normalmente a mudança do condomínio ocorre quando o casal já está mais idoso. “A tendência, por enquanto, é de que as pessoas saiam de apartamentos de padrão mais alto – onde o custo de vida está ficando cada vez maior – e se mudem para condomínios”, ressalta.

 


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