


‘Solteiras’
Perguntado sobre permissões que vêm com o veículo, o advogado que oferece licenças se entusiasma. “Sem o carro, a gente chama a licença de solteira. Mas tenho uma boa aqui que já está com um Meriva 2011/2012. Ele (o permissionário) quer R$ 160 mil.” O homem telefona pelo celular para o proprietário. “Ô filho, beleza? Deixa eu te falar: aquele Meriva tá aqui na área? Essa permissão com o Meriva é quanto o total dela? Um, meia, zero. Então, se der um sinal pode começar a rodar já”, confirma. A negociação continua pelo telefone. “Marcando hoje, deve dar para dia 16, dia 20. Se der um sinal bom pode começar a rodar hoje”, diz, terminando o telefonema. “(O carro) Está aqui em cima, se quiser dá para ir a pé para ver. Se der uns ‘40 conto’ (R$ 40 mil) pode começar a rodar”, afirma o advogado.
Enquanto é acompanhado pelas ruas do Ipiranga, o advogado conta mais sobre seus negócios. “Aqueles cheques (na mesa) que estou preenchendo para depositar são de uma permissão que vendemos esta semana. A solteira (permissão sem o carro) tá na faixa de R$ 130 mil, R$ 125 mil e leva um mês mais ou menos para sair. O dono cobra R$ 120 mil e a gente ganha comissão (de R$ 5 mil). A do Meriva, não. A do Meriva é pronta entrega. Se você der um sinal já sai rodando”, detalha.
Assim que entrana oficina onde está o carro, o advogado é cumprimentado pelos mecânicos, que o chamam de "chefe". O Meriva fica num canto dos fundos. Tem taxímetro digital aferido e todos os adesivos da BHtrans. Um carro seminovo, com 20 mil quilômetros rodados. A lataria do lado direito tem alguns amassados. “Um carro desses é quase ‘50 conto’ (R$ 50 mil). Pode rodar nele uns três anos. Aí vai querer trocar”, diz, enquanto telefona de novo para o dono. O sinal então sobe. “Vai levar 20 dias para transferir, mas se der R$ 50 mil pode começar a rodar hoje. Faço um contrato com o nome de vocês. Tipo: você deu um sinal de tanto na compra da permissão e do veículo placa tal, permissão número tal, coisa besta”, considera.
Quando perguntado se é possível ter mais de uma licença, a resposta é natural: “Em seu nome, não. Você pode pôr no nome do seu irmão, da sua mãe, contanto que façam o curso. Tem de ser uma pessoa de muita confiança. Já vi quem coloca em nome do amigo e o cara some. Tenho cliente que colocou em nome do cara. Aí o cara morreu. A viúva falou: ‘Não, o táxi é meu’”.
Trecho de conversa com advogado que vende licenças
Pergunta: Queria comprar uma placa de táxi. Você tem para vender?
Resposta: Tenho sim. R$ 125 mil. Terminando o curso você tira duas certidões, uma no fórum outra na internet. O mais difícil é isso aqui (sinaliza dinheiro ao esfregar os dedos indicador e polegar). Mais difícil é ter a placa, o resto é fácil.
Pergunta: Tem jeito de comprar uma (licença) com carro junto?
Resposta: Tenho uma que já está com o carro. Tá com um Meriva 2011/2012. Parece que ele (permissionário) quer R$ 160 mil. Ele está aqui em cima, se quiser dá para ir a pé. Se você der uns 40 conto (R$ 40 mil) já pode começar a rodar com ele.
O que diz a lei
A Portaria 190/2008, da BHTrans, estabelece que cada permissionário pessoa física deterá uma única permissão e cada empresa um mínimo de seis e máximo de 30. Para cada licença é admitido um veículo. As permissões têm caráter precário, inalienável, impenhorável e incomunicável. É vedada a subpermissão e a transmissão por falecimento do permissionário. As permissões outorgadas por licitação têm caráter personalíssimo e são intransferíveis.
