
Como no caso da modelo Eliza Samudio, ex-namorada do goleiro Bruno, Chiquinho Despachante foi dado como morto pelas investigações da polícia sem que seu corpo fosse encontrado, sendo um policial apontado como o principal envolvido no crime. “A polícia concluiu que o despachante foi morto pelo militar depois de reunir diversas provas substanciais e testemunhais. A chave para o esclarecimento do crime foi uma testemunha, que em depoimento revelou ter recebido oferta de R$ 5 mil de Laércio Melo para matar o despachante, mas rejeitou a proposta”, contou Bossi. O rapaz, que teria sofrido ameaças, foi inserido no programa de proteção de testemunhas do governo federal. Outra testemunha que depôs informou detalhes relacionados ao envolvimento de Melo no crime, mas teria sofrido ameaças e desapareceu da cidade.
A polícia concluiu que o policial Laércio Melo matou Francisco Santos Filho para se apoderar de dinheiro e de bens do despachante. “Laércio adotou a mesma tática em outros crimes. Ele se aproximava da vítima, fazendo negócios e ganhando a confiança dela, ao ponto de a pessoa transferir carros e imóveis para seu nome, além de lhe emprestar dinheiro. Depois, quando o militar passava a dever para a vítima, ele a eliminava e ficava com seus bens”, relatou Bossi. No dia do sumiço, Chiquinho estava em companhia de Melo, mas o militar garantiu, em depoimentos anteriores, que o deixou na frente de uma agência bancária no Centro. Na véspera do sumiço, Chiquinho encaminhou um e-mail para o policial, no qual falava de uma dívida de R$ 10 mil. Em 2 de janeiro de 2010, a mulher do despachante recebeu ligação feita do celular do marido, em que a pessoa pedia resgate no valor de R$ 200 mil. Não houve mais contato dos supostos sequestradores. Depois disso, houve uma manifestação em Montes Claros, cobrando apuração do caso.
Durante a investigação, Melo foi apontado como autor da morte do comerciante Gilberto Martins, de 33 anos, que desapareceu em Montes Claros em 27 de junho de 2004. Seu corpo foi encontrado dois anos depois, na zona rural de Urucuia, distante 200 quilômetros da cidade polo do Norte de Minas. “As circunstâncias da morte de Gilberto foram iguais às de Chiquinho. O militar fez amizade e negócios com o comerciante. Depois que retirou dinheiro dele, o matou”, disse o delegado da Homicídios.
Ontem pela manhã, familiares de Francisco Filho e de Martins acompanharam a entrevista da Polícia Civil na sede da Região Integrada de Segurança Pública de Montes Claros. A mãe do despachante, a aposentada Laudy Lucia Rabelo, de 68, contou que o militar a visitou 28 dias depois do sumiço do filho. “Ele disse que queria me dar um abraço”, disse ela, muito emocionada ao ter confirmado o assassinato de Chiquinho. A viúva de Gilberto Martins, que se identificou apenas como Silma, revelou que o militar a procurou um dia depois que o marido desapareceu. “Ele disse que não sabia onde o Gilberto se encontrava, mas prometeu que me ajudaria a criar meu filho pequeno.”
OUTRO LADO
A investigação do caso Chiquinho Despachante teve a participação de pelo menos quatro delegados, envolvendo as delegacias de Montes Claros e as de Belo Horizonte. Rodrigo Bossi disse que, além das testemunhas, foram de grande valia os registros de ligações telefônicas do militar. Apesar de a Polícia Civil garantir ter reunido provas substanciais contra Laércio Soares Melo, o advogado dele, Júlio Antonio Canela, declarou a inocência do cliente. “Não há provas materiais delitivas”, disse, referindo-se ao fato de o corpo do despachante não ter sido encontrado. Canela negou o envolvimento do PM na morte do comerciante Gilberto Martins. Ele disse ter ficado surpreso pelo fato de Melo ser suspeito de estar envolvido em 21 assassinatos, negando o fato. Ontem à tarde, em depoimento, o cabo se negou a responder às perguntas. Segundo o advogado, seu cliente deverá dar declaração à imprensa na manhã de hoje. O major Nivaldo Ferreira, da Companhia de Meio Ambiente do 10º Batalhão da PM de Montes Claros, unidade onde Melo é lotado, informou que o PM vai responder a um inquérito policial militar e, conforme o resultado da investigação, poderá ser excluído da corporação.
