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Estado de Minas

Conheça as estátuas nômades das quatro estações em BH

Esculturas de mármore italiano do início do século 20 têm trajetória conturbada que passa pela Praça Rui Barbosa, distribuição por prédios, sumiço e produção de réplicas


postado em 17/03/2012 06:00 / atualizado em 17/03/2012 07:07

 

Uma jovem de 1,38 metro de altura, carregando cachos de uva e dona de uma bela face, é o símbolo em Belo Horizonte da estação que começa na madrugada de terça-feira. Mas, em vez de carne, osso e sentimentos, ela tem cabeça, corpo e membros de mármore branco de Carrara, embora bem castigado pelo tempo e maus-tratos. Outono, esculpida no início do século 20 e de autor desconhecido, integra o conjunto de peças do mesmo material –As quatro estações – que de 1926 ao anos 1960 embelezou a Praça Rui Barbosa (Estação), na Região Centro-Sul, ao lado de tigres, leões e ninfas. A partir de 1963, o grupo de esculturas, vítima de degradação, começou a ser dividido e pena que nunca mais conseguiu ficar junto, a não ser por meio de réplicas postas no lugar há seis anos.

Outono tem a trajetória mais sofrida das três estações. Em 1963, devido à duplicação da Avenida dos Andradas, a peça de cerca de 700kg foi transferida para a Praça Afonso Arinos na companhia de Inverno, única figura masculina do acervo e aquela com expressão mais dramática: um velho protegido por um manto e com o semblante carregado. A dupla ficou ali por quase quatro décadas até que, em 2001, Outono sumiu completamente do espaço público, deixando apenas saudade nas pessoas que a viam diariamente e admiravam sua forma delicada. Foi dada como furtada pelas autoridades municipais e houve várias versões para o seu desaparecimento, inclusive de que estaria na fazenda de um figurão.

Mas tudo não passou de especulação. Em 9 de outubro de 2004, Outono reapareceu com pichações nas costas e quebrada em duas partes. Estava simplesmente guardada, havia três anos, no almoxarifado do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de BH. Conduzida ao ateliê do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), ela espera, já inteira, restauro, pois traz as marcas profundas do vandalismo. Na verdade, não podem nem sair do lugar para sofrer novos danos. Junto com Inverno, que recebeu uma limpeza, a peça está sob guarda da instituição estadual.

Primavera e Verão sofreram os efeitos da poluição e ficaram em tal estado de conservação que, em 1969, foram transportadas para o jardim frontal do Palácio da Liberdade, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, onde estão até hoje. Inverno também “andou” um pouco mais antes de chegar ao Iepha. Em dezembro de 2002, na época de inauguração do Museu de Artes e Ofícios (MAO), que ocupa o prédio da antiga estação ferroviária da capital, na Praça Rui Barbosa, ganhou restauro durante a exposição Trilhos da Memória. No MAO estão dois tigres e duas ninfas originais, enquanto os leões enfeitam a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, na Pampulha. Todo o acervo pertence à PBH

Paisagismo francês

Desde 1998, o conjunto de peças de mármore artístico é tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural Municipal (CDPCM). Segundo a diretora do Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura/PBH, a historiadora Michele Arroyo, as esculturas sempre tiveram grande referência no dia a dia dos belo-horizontinos, pois ficavam no ponto de mais movimentação: a praça em frente à estação de trens ou entrada da cidade. “O paisagismo, ao lado do conjunto de estátuas, deu à Praça Rui Barbosa, até os anos 1950, o título de espaço público mais querido de BH. Era o lugar mais fotografado e visitado pelos turistas e moradores”, diz Michele. Além disso, acrescenta, por causa da grande circulação de pessoas, a área era muito disputada pelos fotógrafos lambe-lambe, que faziam registro dos jardins, para os visitantes guardarem de lembrança, ou tiravam retratos para documentos. “Hoje só ficou um lambe-lambe na praça, que atua lá há mais de 40 anos.”

Michele explica que As quatro estações e as outras seis peças integraram o projeto de remodelação da Praça Rui Barbosa, na década de 1920. A concepção original desse espaço público e de outros, como o Parque Municipal e a Praça da Liberdade, estava até então sob forte influência do paisagismo inglês, com formas mais orgânicas, a exemplo de troncos de árvores de cimento e outras referências à natureza. Em 1924, os jardins geométricos franceses entraram em cena, conforme o projeto elaborado pelo arquiteto Magno de Carvalho, privilegiando construção de canteiros e caramanchões, dois lagos, calçamento dos passeios com mosaicos, e introdução, em meio a mais de 250 espécies de rosas, das esculturas.

Em 1963, com as obras da Avenida dos Andradas, a praça reduziu em 15m os dois módulos dos jardins franceses. E começou a peregrinação das peças pela cidade. Essa situação ganhou até um nome: “dança das esculturas”. Em 2008, diz Michele, quando o CDPCM aprovou o projeto de restauro dos jardins da praça, autorizou também a colocação das réplicas para manter a paisagem referencial do espaço e garantir a conservação dos originais. E definiu que as 10 deveriam ser restauras e instaladas em local aberto à visitação pública e cobertos.

(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

PRIMAVERA
Fica no jardim do Palácio da Liberdade. Para quem está diante do palácio, é do lado direito. Escultura de mármore branco, com altura de 1,46m, largura de 39cm e profundidade de 31cm. Retrata a figura de uma jovem com um buquê de flores. Datada do início do século 20 e de autor desconhecido. Originalmente, ficava na Praça da Estação. Tombada pelo patrimônio municipal em 1998

 

(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

VERÃO
Fica também no jardim do Palácio da Liberdade (lado esquerdo para quem está de frente).Escultura de mármore branco, com altura de 1,40m, largura de 44cm e profundidade de 35cm. Retrata a figura de uma jovem que traz nas mãos um feixe de trigo. Originalmente, ficava na Praça da Estação. Datada do início do século 20 e de autor desconhecido. Tombada pelo município em 1998

 

 

 

 

 

(foto: Cristina Horta/EM/D.A press)
(foto: Cristina Horta/EM/D.A press)

OUTONO
Está sob guarda do Iepha, em sua sede na Praça da Liberdade. A peça foi restaurada, depois de desaparecida, pichada e quebrada. Em mármore branco, com altura de 1,38m, 39cm de largura de 36cm e profundidade. Retrata a figura de jovem com cachos de uvas nas mãos. Originalmente, ficava na Praça da Estação. Datada do início do século e de autor desconhecido. Tombada pelo município em 1998

 

 

 

 

 

(foto: Cristina Horta/EM/D.A press)
(foto: Cristina Horta/EM/D.A press)

INVERNO
Está sob guarda do Iepha, na sede do órgão, na Praça da Liberdade. Escultura de mármore branco, com altura de 1,36m, largura de 39cm e profundidade de 34cm. É a única figura masculina do conjunto. Retrata um velho encoberto por um manto. Originalmente, ficava na Praça da Estação. Datada do início do século 20 e de autor desconhecido. Tombada pelo município em 1998


LINHA DO TEMPO

Século 20 – Nos primeiros anos, Primavera, Verão, Outono e Inverno são esculpidas, mas não há registro do nome do autor nem de onde foram feitas
1924 – As quatro esculturas, cada uma pesando em média 700kg, são colocadas na Praça Rui Barbosa (Estação), ao lado de dois tigres, dois leões e duas ninfas
1963 – Outono e Inverno são transferidas para a Praça Afonso Arinos, no Centro de BH, devido à duplicação da Avenida dos Andradas
1969 –Pelo mau estado de conservação, Primavera e Verão são transferidas para o jardim do Palácio da Liberdade, na Praça da Liberdade
2001 –Outono desaparece da Praça Afonso Arinos e é dada como roubada
2002 – Em 12 de dezembro, Inverno é levada para o Museu de Artes e Ofícios (MAO) durante a exposição Trilhos da memória. Em 2003, segue para o Iepha
2004 –Em 9 de outubro, Outono é localizada, quebrada em duas partes e pichada, no almoxarifado do Departamento de Parques e Jardins da PBH. Está hoje no Iepha.
2007 –Praça da Estação ganha réplicas, feitas em resina e pó de mármore pelo escultor George Marques, das 10 esculturas originais
 

OUTONO DESPEDAÇADO
Em 2001, quando a escultura Outono sumiu da Praça Afonso Arinos, a diretora do Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura/PBH, Michele Arroyo, deu queixa na polícia. Três anos depois, o Estado de Minas publicou uma reportagem sobre bens culturais desaparecidos e contou a história da peça. Um funcionário responsável pelo almoxarifado do Departamento de Parques e Jardins da prefeitura leu a reportagem e entrou em contato com Michele. Ele explicou que havia dois embrulhos grandes (a escultura quebrada) no almoxarifado que pareciam uma estátua. Imediatamente, a atual diretora de Patrimônio, na época gerente, foi ao local e fez a identificação.


 


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