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Estado de Minas HOMENS-BOMBA AO VOLANTE

Carretas pesadas em velocidade máxima ameaçam a vida nas estradas mineiras

Reportagem acompanhou flagrante de excesso de velocidade


postado em 04/02/2012 06:00 / atualizado em 04/02/2012 07:12

 

Em trecho de 80km/h, em ITABIRITO, carreteiros chegam a desenvolver até 94 km/h, um perigo para veículos menores(foto: Renato Weil/EM/D.A Press)
Em trecho de 80km/h, em ITABIRITO, carreteiros chegam a desenvolver até 94 km/h, um perigo para veículos menores (foto: Renato Weil/EM/D.A Press)

 

Carregadas com mais de 20 toneladas de minério de ferro, carretas a serviço de mineradoras transformaram a BR-040, principalmente no trecho entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete, numa estreita pista de corrida, empurrando outros

veículos de carga, ônibus, carros e motos para fora da estrada. Com um medidor de velocidade instalado no km 570 da rodovia, em Itabirito, na Região Central de Minas, o Estado de Minas constatou que de 16 veículos com minério que passaram no trecho em 10 minutos 10 (62,5%) estavam acima da velocidade máxima permitida, de 80 km/h. Afobação ocorre por conta da ânsia dos carreteiros em lucrar mais, uma vez que recebem das mineradoras e frotistas terceirizados um salário fixo de R$ 1.190, acrescido de R$ 8 por viagem. Quanto mais transportam, carregam e descarregam, mais lucram, tendo, para isso, de percorrer várias vezes a rodovia.

A estrada federal é a terceira com mais mortes em acidentes de Minas Gerais. Foram 136 entre janeiro e agosto do ano passado, perdendo apenas para as BRs 381 (186) e 116 (140). Na reta do km 570, as carretas de mineradoras registraram a velocidade mais alta entre os veículos de carga, com duas delas atingindo 94 km/h. A média de velocidade desse tipo de cargueiro foi de 87 km/h, enquanto a de todos os 31 veículos de carga que passaram pelo trecho ficou praticamente no limite, de 79 km/h.

A correria é considerada um componente crítico para acidentes na análise do especialista em transporte e trânsito Frederico Rodrigues, da consultoria Imtraff. “Os veículos de carga estão trafegando numa velocidade alta. A própria sinalização alerta para isso. E temos de pensar que o limite não leva em conta o peso exagerado que as carretas transportam. Por isso, é indicado que se trafegue abaixo do limite”, afirma. Os riscos da soma de velocidade alta com peso excessivo, de acordo com o especialista, são os tombamentos e a impossibilidade de frear. “É uma velocidade que tem como resultado, em caso de acidentes, choques muito mais graves com uma severidade maior nos estragos”, avalia.

Foi o que ocorreu no dia 27, em Congonhas, a apenas 33 quilômetros do local onde foi medida a velocidade dos veículos pesados. Na ocasião, uma carreta carregada de minério de ferro não conseguiu frear, ao encontrar pela frente uma fila de carros. Pelo menos sete veículos foram arrastados pelo cargueiro e transformados em aço retorcido. Com a força do impacto, a aposentada Iolanda dos Santos, de 60 anos, morreu na hora. Cinco dias depois, morreu o empresário Hugo Miranda Fiuza, de 30, que estava internado no Hospital de Pronto-Socorro João XXII com grave traumatismo craniano.

Imprudência

Na análise do especialista em transporte e trânsito Frederico Rodrigues, a imprudência muitas vezes é cometida pelos caminhoneiros sem conhecimento ou ciência das mineradoras. “Tenho trabalhado no setor e posso dizer que uma das preocupações é com o limite de velocidade e a segurança dentro das minas. O que estão fazendo é fora da área de trabalho”, disse. Ninguém do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra) se dispôs a falar sobre os abusos de caminhoneiros nas rodovias e sobre as medidas adotadas para evitar a imprudência.

Em toda a BR-040, foram registrados 137 tombamentos de carretas, que provocaram seis morte e deixaram 112 pessoas feridas, entre janeiro e agosto do ano passado, segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), apurados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

 

 

No dia 27, carreta desgovernada arrastou sete veículos e matou duas pessoas na rodovia(foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
No dia 27, carreta desgovernada arrastou sete veículos e matou duas pessoas na rodovia (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)

 

Cargueiros em pista estreita

A pista extremamente estreita da BR-040 é outro fator que adiciona perigo à correria desenfreada por lucro dos carreteiros de mineradoras que transitam principalmente entre Belo Horizonte e Itabirito. O Estado de Minas mediu a largura da pista no trecho de maior tráfego de veículos de minério, no km 600, em Itabirito. No local, a largura da estrada inteira é 15,5 metros, compreendendo duas pistas por sentido, fora o acostamento, que terminam com canaletas profundas para o escoamento de água. Descontando-se as marcas que separam as vias, que somam 1,10 metro, sobram para os veículos circularem 14,4 metros de pavimento. Especialistas estimam que a dimensão ideal das rodovias duplicadas seja 20 metros.

Para se ter uma ideia de como a pista é inadequada ao tráfego pesado e constante, no pátio de um posto de combustível em frente, onde os motoristas de mineradoras costumam almoçar, a largura média de seus veículos era de 2,5 metros, chegando a 3,2 metros com os retrovisores. Cada faixa da BR-040 tem 3,6 metros, ou seja, se quatro carretas passarem lado a lado sobrará 20 centímetros entre seus retrovisores. “É estreito. O ideal é termos 14,5 metros de largura somente para as quatro faixas. Mas, considerando que o ideal é ter a valeta de drenagem um pouco distante, para ter uma margem de cerca de três metros chegaríamos a um total de 20 metros”, avalia a o especialista em transporte e trânsito Frederico Rodrigues.

Nessas condições, não são raros os flagrantes de carretas em alta velocidade fazendo curvas sobre as divisórias do asfalto e obrigando quem vem do lado oposto a se desviar para evitar acidentes. É um jogo de empurra impulsionado pelo lucro. “Trabalhar com mineração é muito perigoso. A gente faz umas oito viagens por dia, em média”, conta o carreteiro A.L.B., de 42 anos. “Na mineradora tem fila que dura uma hora para carregar. As estradas são de terra e cheias de poeira. Tudo é tempo que se perde. Por isso, precisamos compensar na estrada, acelerando entre a mina e a siderúrgica”, acrescenta.

Impunidade amplia abusos

A impunidade dos motoristas de carretas que usam estimulantes, drogas e álcool ao volante para rodar por mais de 24 horas completamente dopados pode ser medida pelos número de acidentes. Mas em apenas 1,3% (74) das 5.665 batidas nas rodovias federais de Minas em 2011 a polícia conseguiu comprovar o uso de álcool ou substância entorpecente pelos carreteiros. Os flagrantes que chegaram às delegacias também foram poucos, somente 77. A situação foi mostrada na edição dessa sexta-feira da série “Homens-bomba ao volante”, que o Estado de Minas publica desde domingo, sobre as condições de caminhoneiros e veículos de carga que trafegam pelas estradas em volume cada vez maior.


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