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Estado de Minas

Durante reforma, patrimônio artístico é revelado em escola de BH

Sob oito camadas de tinta, historiadores e arquitetos encontraram afrescos e molduras de pintura parietal no interior da Escola Estadual Barão do Rio Branco, construída em 1913


postado em 04/01/2012 06:00 / atualizado em 04/01/2012 11:37

 

(foto: RENATO WEIL/ EM/ D.A PRESS)
(foto: RENATO WEIL/ EM/ D.A PRESS)


Camadas e camadas de tinta começam a ser removidas para mostrar uma parte do passado de Belo Horizonte. Nas paredes da primeira escola pública da capital, a Estadual Barão do Rio Branco, na Savassi, restauradores se depararam, durante as obras de revitalização do prédio, com a beleza de flores, molduras e tonalidades de pinturas parietais ofuscadas ao longo das décadas. Feita diretamente nas paredes, sobre o reboco, a técnica foi moda no Brasil no fim do século 19 e início do 20 e agora está prestes a ser revelada no colégio, previsto para ser reinaugurado em 2013, ano do centenário da edificação.

As pinturas foram descobertas este mês por historiadores, engenheiros e arquitetos que atuam em trabalhos de prospecção na escola, fechada desde julho do ano passado para reforma e restauração. Em busca de vestígios e registros da cobertura original das paredes, técnicos usaram bisturis e facas apropriadas para a remoção de camadas e estratificaram a pintura, com a ajuda de produtos químicos, como acetona e hidróxido de amônio. No auditório, no hall de entrada, no salão nobre e em algumas salas, as “obras de arte”, como foram apelidadas as pinturas parietais, foram encontradas encobertas por até oito camadas de tinta.

“Todas as camadas de repinturas são em cor lisa e, em algumas áreas, a pintura foi executada com textura (chapisco), variando entre bases acrílica, látex ou esmalte de base oleosa espessa”, explica o Relatório de Prospecção e Estudo da Estratigrafia de Pinturas Parietais da Escola Estadual Barão do Rio Branco, feito pela NB Engenharia de Projetos e Consultoria, empresa contratada pelo Departamento de Obras Públicas de Minas Gerais (Deop-MG) para fazer a reforma. No grande auditório do colégio, chama a atenção o ornamento em tinta vermelha escura com detalhes em dourado e amarelo formando uma rosa, emoldurada por diferentes tonalidades.

 

Carlos Henrique Alves, diretor da escola, quer ver toda a memória reconstituída (foto: RENATO WEIL/ EM/ D.A PRESS)
Carlos Henrique Alves, diretor da escola, quer ver toda a memória reconstituída (foto: RENATO WEIL/ EM/ D.A PRESS)


A recuperação de toda a beleza dos trabalhos artísticos dependerá de uma intervenção minuciosa. Isso porque os laudos da empresa de engenharia denunciaram que as pinturas parietais estão “em estado de conservação ruim com ocorrência de remendos, desnivelamentos e pichações”. Apesar dos problemas, a descoberta das peças comove o diretor da instituição, Carlos Henrique Alves da Silva.

“Quando a arquiteta me mostrou a pintura fiquei muito emocionado. Comecei a tentar imaginar como o prédio era originalmente e com vontade de ver toda essa memória reconstituída e resgatada. As pinturas foram descobertas durante a etapa de sondagem para as obras de restauração e é grande a esperança de recuperá-las”, afirma Carlos Henrique.

Além das pinturas parietais, Carlos se entusiasma com a revelação da origem das peças que constroem a estrutura do prédio. Segundo ele, o projeto revelou que as portas e janelas são feitas de madeira vinda da Rússia, as grades são importadas do Reino Unido, a cerâmica da Bélgica e o telhado, hoje totalmente substituído, era francês.

SAIBA MAIS

Técnica em extinção


A pintura parietal – isso é, aquela feita diretamente na parede – é uma das mais antigas formas de arte. Executada no interior de residências, era feita com o intuito de decorar os diversos ambientes da casa e usada, principalmente nos palacetes e casarões das famílias mais abastadas como forma de ostentar o seu requinte no habitar. Largamente usada até o início do século 20, a pintura parietal caiu em desuso e o que se sabe a respeito de suas técnicas sobreviveu apenas pelas mãos de pouquíssimos artistas que ainda a praticam com variantes e com outras finalidades.

R$ 4,5milhões  o custo estimado para a reforma e restauração da escola

 Iepha acompanha a restauração

A restauração da Escola Estadual Barão do Rio Branco está prevista para começar em janeiro e foi orçada em R$ 4,5 milhões, segundo a Secretaria de Estado de Educação. O projeto prevê a recuperação de pisos, fachadas, portas e janelas, modernização das redes hidráulica e elétrica, instalação de para-raios e adequação da estrutura da escola às normas de acessibilidade. A intervenção deve seguir os moldes da reforma concluída em fevereiro do ano passado na Escola Estadual Pedro II, na área hospitalar de BH.

Todo o trabalho será acompanhado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), pois o prédio da Avenida Getúlio Vargas, entre as ruas Rio Grande do Norte e Tomé de Souza, foi erguido em 1913 pelo construtor espanhol Jaime Salse e é tombado desde 1988. Apesar da contagem regressiva para as comemorações do centenário do prédio, a história da Escola Estadual Barão do Rio Branco é ainda mais antiga.

O colégio, primeiro grupo escolar de BH, foi fundado em 1906 na Avenida João Pinheiro, onde hoje funciona a Escola Estadual Afonso Pena. Pela instituição já passaram nomes de peso, como Otacílio Negrão de Lima, Américo Renné Giannetti, Israel Pinheiro, Paulo Mendes Campos e Zuzu Angel, entre outros. Mas pouco restou do glamour dos antigos tempos da escola.

O prédio hoje sofre com rachaduras e infiltrações nas paredes, portas e janelas quebradas e quadros de aula em péssimo estado de conservação. Três salas foram interditadas pela Defesa Civil Municipal em janeiro do ano passado e uma das quadras foi fechada pois parte do muro da escola caiu. Desde julho, o prédio está fechado para as obras e os alunos, transferidos para o Instituto de Educação de Minas Gerais, no Bairro Funcionários.  

Alunos ilustres

Otacílio Negrão de Lima
Américo Renné Giannetti
Israel Pinheiro
Paulo Mendes Campos
Zuzu Angel


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