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Estado de Minas

Poços artesianos resistem ao tempo e representam 1.302 fontes de água em BH


05/12/2011 07:07 - atualizado 05/12/2011 07:16

Warley Silva, administrador do Edifício Metrópolis, retira do poço a água para abastecer 45 apartamentos
Warley Silva, administrador do Edifício Metrópolis, retira do poço a água para abastecer 45 apartamentos (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press. Brasil)

A água que jorra da torneira do apartamento de Geny do Carmo Santos é pura e cristalina. Com ela, a cabeleireira aposentada de 74 anos mata a sede, cozinha, lava roupas, molha as plantas e mantém limpa sua residência e todo o prédio do qual é síndica, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte. E o que é melhor: sem pagar nada por isso. Ela e outros 30 moradores do Edifício Esperança nunca precisaram pagar nada pelo consumo da água, que vem de uma profundidade de 45 metros. O prédio é um dos 1.302 endereços na capital com fonte alternativa de água com captação subterrânea. Os moradores do condomínio pagam apenas uma taxa fixa de esgoto de R$ 915,67, que dividida entre 24 famílias e uma loja no térreo representa R$ 36,62 para cada imóvel.

Assim como o Edifício Esperança, muitos prédios construídos há mais de 40 anos não eram atendidos pelo antigo Departamento Municipal de Águas e Esgoto (Demae). O que antes era apenas uma necessidade hoje é economia. Segundo o Instituto de Gestão das Águas de Minas Gerais (Igam), que autoriza e monitora as fontes alternativas, somente este ano foram feitos 179 pedidos de outorgas para captação subterrânea de água na capital. O Edifício Metrópolis, um luxuoso prédio de 19 andares no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul, testou com sucesso o poço de 80 metros de profundidade que mandou perfurar.

A água vai abastecer os 45 apartamentos e o sistema da Copasa será acionado somente em época de manutenção da rede particular. O condomínio, segundo o seu administrador Warley Vieira, investiu R$ 30 mil na abertura do poço para reduzir em 60% os gastos com água em relação ao consumo atual. “A nossa conta mensal de água é de R$ 8 mil e vamos pagar em torno de R$ 2,8 mil pelo esgoto”, estima Warley.

O prédio do administrador aposentado Áureo Luiz Gama de Macedo, de 60, no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul, foi construído em 1968. As 36 famílias também nunca pagaram conta de água. “Até hoje, nunca deu problema. A água é muito pura, mesmo não recebendo tratamento químico como a água da Copasa”, garante.

Quando o prédio foi construído, segundo Áureo, as redes de água e de esgoto da prefeitura não chegavam à Rua Ipatinga e a solução estava a 60 metros de profundidade. Hoje, o condomínio paga uma taxa anual de R$ 100,00 ao Igam e outra mensal à Copasa, de R$1,2 mil, pela coleta de esgoto. “Nossa economia com água é em torno de 35% ao mês, pois temos despesas com energia e manutenção das bombas e compressores”, explica

O advogado Leopoldo Werner Passos, de 39 anos, mora no condomínio desde que nasceu. “Cresci jogando bola na quadra de futebol do prédio, eu e vários meninos, todos tomando água da torneira. Estamos todos vivos”, brinca o advogado.

BICA é atração NO SAGRADA FAMÍLIA

A água que aflora de uma bica na esquina da Rua Abílio Machado com Avenida Petrolina, no Bairro Sagrada Família, Região Oeste de Belo Horizonte, atrai centenas de pessoas que param para matar a sede ou encher baldes e galões para levar para casa. As filas são diárias, inclusive de madrugada. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, testes de qualidade feitos pela Vigilância Sanitária garantem que o líquido é de boa qualidade e pode ser consumido sem medo, pois não há contaminação. O cozinheiro Gelson Silva dos Santos, de 31 anos, diz que a água da bica não é milagrosa, mas garante que faz bem à saúde.

Entenda a diferença

>> Poço artesiano – A água jorra sem necessidade de bombas elétricas porque a captação é feita abaixo
da zona de recarga do aquífero e está sob pressão.

>> Poço freático – Normalmente não passa de 100 metros de profundidade e precisa de bomba para puxar a água.

Em 30 anos, economia pode ser de R$ 1,5 milhão

Um prédio residencial de grande porte pode ter uma economia média de R$ 1,5 milhão captando água de poço freático durante trinta anos, segundo o advogado Kênio de Souza Pereira, especialista em direito imobiliário e presidente da Comissão de Direitos Imobiliários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG). “Ter um poço freático é fator atrativo na compra de um imóveis. Mesmo se a água não for potável, você pode usá-la no jardim e na limpeza do prédio. É uma economia”, disse Kênio.

Mas para o professor Marcelo Libânio, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é mais lucrativo reutilizar as chamadas “águas cinzas” – de lavatórios e chuveiros – do que perfurar um poço freático. “A água cinza pode ser reservada e usada para regar jardins e em outros fins menos nobres, como limpeza do prédio. O sabão e o xampu que usamos no banho são diluídos no volume de água e não prejudicam as plantas”, esclarece o professor.

Marcelo Libânio alerta que nem toda água extraída do subsolo de Belo Horizonte é pura. Pode haver contaminação química ou microbiológica. “O fato de não ter contaminação na região do Santa Tereza não assegura que ela não possa se manifestar em outros pontos da cidade. É preciso a análise da Copasa”, aconselha.

CHUVA


Colega de departamento do professor Marcelo Libânio na UFMG, o professor Rafael Palmier chama a atenção para uma prática que tem se tornado comum nas grandes cidades: a coleta de água da chuva. “Começou na região semiárida do Brasil e no Norte e Nordeste de Minas, mas hoje já se fala muito em captação de água de chuva em áreas urbanas, como já é hábito em outros países”.

Em São Paulo, desde 2007 é obrigatória a implantação de sistema para captação e retenção de águas pluviais coletadas por telhados, coberturas, terraços e pavimentos descobertos, em lotes edificados ou não que tenham mais de 500 metros quadrados de área impermeabilizada.

No caso, a principal motivação não é econômica. O que os paulistas querem é evitar enchentes. Os reservatórios funcionam com uma bacia de contenção e a água tem três destinos: infiltração no solo, despejo na rede pública, depois de uma hora da chuva, e utilização para finalidades não potáveis, como regar jardins ou lavar pisos.

Poços atraem hotéis e restaurantes

Não apenas residências, mas hotéis, motéis, restaurantes, hospitais, postos de combustíveis, lavajatos e garagens de ônibus têm buscado nos poços freáticos a solução para reduzir despesas com água, de acordo com o gerente da Divisão de Gestão da Qualidade e Controle Ambiental Metropolitana da Copasa, Luiz Cláudio Andrade Silva.

“A captação própria de água tem crescido cada vez mais, não somente nos prédios antigos, mas em imóveis mais novos e também estabelecimetos comerciais”, afirma Luiz Cláudio.

Segundo o gerente da Copasa, o próprio cliente toma a iniciativa de perfurar o poço, mas quem autoriza e monitora a fonte é o Instituto de Gestão das Águas de Minas Gerais (Igam). Isso porque é preciso ter controle sobre o uso dos recursos hídricos, estabelecendo regras de consumo para que o lençol freático não seque.

A responsabilidade da Copasa é analisar, mediante solicitação do cliente, para saber se o líquido está em boas condições para o consumo humano. A empresa, segundo Luiz Cláudio, cobra somente pela estimativa ou pelo volume medido de esgoto que recebe em sua rede. “A garagem de ônibus, por exemplo, lava muito veículos grandes. A nossa equipe vai ao local e faz um estudo de preço”, esclarece.

Hélio Almeida, de 28 anos, trabalha numa empresa especializada em abertura de poços em Belo Horizonte. Segundo ele, a procura pelos seus serviços aumentou nos últimos anos, principalmente em bairros nobres. “Perfuramos até três poços por mês. Nossa empresa tem apenas duas máquinas e demoramos 15 dias para furar cada poço”, disse.


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